Zâmbia: Do desastre aéreo aos dias de glória

A Copa Africana de Nações começa no próximo sábado, dia 13, e contará com 24 seleções na primeira fase da competição. Hoje, porém, vamos falar sobre um país localizado na região sul da África e que se tornou um exemplo de coragem e perseverança para o mundo do esporte: a Zâmbia.

Bruno Lobão
Por Bruno Lobão - PFQL 5 Minutos de Leitura

A Copa Africana de Nações começa no próximo sábado, dia 13, e contará com 24 seleções na primeira fase da competição. Hoje, porém, vamos falar sobre um país localizado na região sul da África e que se tornou um exemplo de coragem e perseverança para o mundo do esporte: a Zâmbia. Os Chipolopolo – em português, os bala de cobre – como é conhecida a Seleção Zambiana, viu o sonho de disputar uma Copa do Mundo ser interrompido com a queda de um avião que matou toda a delegação da equipe em abril de 1993, mas mostrou muita resiliência e superação para recomeçar e entrar para a história do futebol africano com o título continental 19 anos depois. Vem com a gente!

Introdução

A Seleção Zambiana de Futebol disputou sua primeira partida oficial no ano de 1946, com o nome de Rodésia do Norte, visto que ainda era uma colônia britânica não independente. Apenas em 1964, quando se tornou independente do Reino Unido, a Associação de Futebol de Zâmbia (FAZ) filiou-se à FIFA e o esporte passou a tomar forma no país.

Seis anos depois, em 1970, a Seleção Zambiana passou a participar das Eliminatórias da Copa do Mundo e também da Copa Africana de Nações, e, em 1974, ficou com o vice-campeonato do torneio continental ao ser derrotada pelo Zaire (atual República Democrática do Congo) por 4 a 2 na grande decisão. Foi a primeira campanha de grande expressão da equipe no cenário mundial.

Pulando para o ano de 1988, os Chipolopolo chocaram o mundo ao golear a Itália por 4 a 0 nos Jogos Olímpicos de Seul, com uma geração promissora e que tinha o meia Kalusha Bwalya – posteriormente comprado pelo PSV, da Holanda – como principal destaque. A campanha histórica de Zâmbia acabou parando nas quartas de final, quando caíram para a forte seleção da Alemanha Ocidental, mas o episódio ficou marcado como a primeira grande zebra do futebol africano contra uma seleção de ponta.

Poucos tempo depois, mais precisamente no ano de 1993, a Zâmbia possuía uma das melhores gerações de sua história e fazia uma ótima campanha nas Eliminatórias para a Copa do Mundo do ano seguinte. Já na fase final da competição, os Chipolopolo alimentavam o sonho de disputar o Mundial pela primeira vez, até que um acidente aéreo marcou a maior tragédia da história do futebol africano.

Zâmbia: Do desastre aéreo aos dias de glória

O desastre aéreo

No dia 27 de abril de 1993, um avião da Força Aérea Zambiana partiu de Lusaka, capital do país, rumo a Dakar, no Senegal, para um duelo contra os donos da casa, transportando toda a delegação de 30 pessoas – jogadores e comissão técnica. O roteiro inicial da viagem previa algumas escalas durante o trajeto, parando no Congo, Gabão e também na Costa do Marfim antes de pousar no destino final. Porém, o que não estava nos planos era uma falha no motor detectada logo na primeira parada, mas a tripulação optou por seguir adiante.

Chegando próximo ao aeroporto de Libreville, o motor da aeronave pegou fogo e acabou caindo na costa do Gabão, levando a óbito todos os passageiros e tripulantes que estavam no avião. Dentre os 18 jogadores envolvidos no acidente, seis deles participaram da emblemática campanha dos Jogos Olímpicos de Seul, cinco anos antes. Contudo, a estrela Kalusha Bwalya, que na época ainda atuava pelo PSV, iria posteriormente para o Senegal, e não estava junto com a delegação inicial.

Infelizmente, a tragédia marcou o triste fim de uma geração talentosa que estava muito bem encaixada e determinada a buscar uma vaga na Copa do Mundo, mas não encerrou o sonho de uma nação de viver dias melhores ao lado de sua seleção.

A reconstrução

Como toda tragédia, o acidente com a Seleção Zambiana gerou uma grande comoção em todo o continente africano, mas o futebol no país precisava seguir em frente e buscar um novo começo. Portanto, a Associação de Futebol de Zâmbia passou a buscar novos atletas no futebol local, e também contou com a ajuda de outras federações, como a dinamarquesa, que cedeu suas estruturas para a seleção. Além disso, o treinador escocês Ian Porterfield, ex-Chelsea, aceitou o desafio e assumiu os Chipolopolo nas partidas seguintes.

Cerca de dois meses depois da tragédia, a Seleção de Zâmbia voltou a campo pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Afinal, apesar do acidente, ainda existia um sonho de disputar o Mundial do ano seguinte. O adversário em questão foi o Marrocos, que não vivia a melhor fase da sua geração de ouro, mas ainda sim tinha um time forte. O resultado? Vitória de Zâmbia por 2 a 1, de virada, levando alegria a um povo que ainda se recuperava de um momento de muita dor.

A última rodada poderia marcar a classificação inédita de Zâmbia para a Copa do Mundo de 1994. Bastava um empate contra o Marrocos, em Casablanca, e o sonho se tornaria realidade para os Chipolopolo. No entanto, um gol marroquino no segundo tempo deu números finais ao jogo e adiou, por tempo indeterminado, a classificação da Seleção Zambiana para o Mundial.

Os dias de glória

Depois de amargar o vice-campeonato continental em 1974 e 1994, superar um acidente aéreo e passar por algumas campanhas ruins na Copa Africana de Nações, a Seleção Zambiana chegou ao torneio em 2012 com mais uma geração promissora e jogadores talentosos. Apesar disso, não estava entre as favoritas, mas conseguiu surpreender e vencer o grupo com Guiné-Equatorial, Líbia e Senegal, se classificando para enfrentar o Sudão nas quartas de final.

Superados os sudaneses, os Chipolopolo se qualificaram para enfrentar a forte seleção de Gana na semifinal. A vaga na decisão veio dos pés de Emmanuel Mayuka, com um chute colocado de fora da área aos 32 minutos do segundo tempo. Vitória por 1 a 0 e vaga na final garantida para enfrentar a temida Costa do Marfim, de Drogba e companhia.

O torneio foi realizado na Guiné-Equatorial e também no Gabão, que recebeu metade dos jogos do mata-mata. A final estava marcada para Libreville, justamente o palco da tragédia de 1993. Após a vitória contra Gana, os jogadores de Zâmbia visitaram o local do acidente, e prometeram o título para honrar a memória das vítimas do desastre. O então treinador Herve Renard, motivado e com chance de fazer história, disse: “vamos jogar em honra à memória das vítimas de 1993”.

Depois do empate por 0 a 0 no tempo normal, a decisão foi para os pênaltis. Após 18 longas cobranças, Gervinho, famoso jogador marfinense, desperdiçou sua batida, e coube ao zagueiro Stoppila Sunzu, ex-atleta do Lille, dar o primeiro título da Copa Africana de Nações para a tão sofrida Seleção de Zâmbia. Era hora de colocar um ponto final na agonia causada pelo dia 27 de abril de 1993, festejar a conquista inédita e, claro, relembrar a memória das vítimas daquele acidente tão cruel.

Edição Atual

Os Chipolopolo disputam, mais uma vez, a Copa Africana de Nações em 2024. A equipe treinada atualmente pelo técnico israelense Avram Grant não está entre as favoritas ao título, é verdade, mas conta com um elenco batalhador e que vem com muita vontade de fazer história novamente.

Dentre os principais jogadores, a equipe conta com o centroavante Patson Daka, de 25 anos, que atua no Leicester City, da Inglaterra. Desde a sua estreia pela seleção principal, em 2015, Daka atuou em 35 partidas e balançou as redes em 12 oportunidades, sendo a principal esperança de gol dos Chipolopolo no torneio. Além dele, o atacante de beirada Lameck Banda, de 23 anos, que atua no Lecce, da Itália, é outro nome a ficar de olho na Seleção Zambiana.

A Zâmbia está no Grupo F do torneio ao lado de Tanzânia, Marrocos e RD Congo, e faz a sua estreia no dia 17 de janeiro, quarta-feira, contra os congoleses. A partida está marcada para o Stade Laurent Pokou, na cidade de San Pédro, localizada no sudoeste da Costa do Marfim – país-sede da competição. Em seu último amistoso preparatório, os Chipolopolo ficaram no empate contra a seleção de Camarões, pelo placar de 1 a 1.

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Estudante de jornalismo e apaixonado por esportes no geral.
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