Quando se fala em futebol, lembramos do Brasil, o país pentacampeão do mundo e com o estádio mais emblemático do planeta: o Maracanã. Contudo, em 1950 a realidade era bem diferente. O Brasil ainda não tinha título de Copa do Mundo, mas sediaria pela 1ª vez o Mundial, que depois de anos sombrios com duas grandes guerras, vivenciava uma nova era de um mundo mais normal.
O maior palco do futebol mundial foi construído para aquela Copa. Ninguém no mundo estava mais animado do que o Brasil para gritar “É campeão!”. Por onde a seleção jogava, a expectativa aumentava, até que no capítulo final, o Brasil iria enfrentar seu vizinho, o Uruguai.
A seleção uruguaia na época era a grande referência técnica da América do Sul. Já campeões do mundo em 1930 e com vastas conquistas nos jogos olímpicos, que culminaria na origem do apelido Celeste Olímpica, o Uruguai era muito mais forte do que os brasileiros imaginavam. Importante lembrar que até aquele fatídico jogo, o Uruguai estava invicto nos mundiais.
O Brasil fez por merecer as expectativas, foram 4 vitórias ( 4-0 México, 2-0 Iugoslávia, 7-1 Suécia e 6-1 Espanha) e somente um empate (2-2 Suíça). Importante lembrar que a partida contra o Uruguai não foi uma final, aquela edição de 1950 não tinha uma decisão e sim o quadrangular final.
Quis o destino que a última rodada fosse o Brasil vs Uruguai, onde só um empate garantiria o título mundial para o Brasil. O Maracanã que facilmente tinham mais de 200 mil pessoas, entregavam festas de arrepiar. Diferente do tipo de torcer na época, via-se fogos, bandeiras, cartazes, torcedores de pé e com instrumentos musicais cantando como nos dias atuais. A festa estava pronta, inclusive diz-se que já existia um discurso pronto para o presidente do Brasil falar após o título que não veio.
O Brasil se preparou de forma errada para o jogo. A logística é até hoje criticada, pois o pré-jogo da seleção foi em São Januário, em um clima de oba-oba, os atletas pouco tiveram tempo de descansar e até de almoçarem. Após a festa já iniciada no estádio do Vasco, o time partiu para o Maracanã. Tal clima incomodou tanto os uruguaios, que Obdulio Varela, jogador da Celeste, convenceu o treinador a sair da retranca e jogar no ataque, para intimidar o Brasil.
Obdulio Varela eternizou seu nome na história do futebol uruguaio e mundial pela sua estratégia para a final. Antes de entrar no jogo, ele disse aos companheiros: “Não pensem nessa gente (200 mil torcedores), não olhem para cima”. De fato a seleção uruguaia entrou em campo sem olhar para a arquibancada e jogaram de igual para igual com os donos da casa.
Diante de cerca de 10% da população do Rio de Janeiro inteira dentro do Maracanã, o Brasil não conseguia jogar. O nervosismo falou mais alto. Tudo começou com a perda da moeda para escolher o lado do campo, já que o Brasil teve de jogar no lado que não costumava começar os jogos naquele mundial.
O Brasil de Zizinho, Ademir e Jair pressionava, mas não conseguia de fato marcar. Foram 17 chutes só no 1º tempo, contra 5 do Uruguai. O ferrolho uruguaio enganou o Brasil que de certa forma relaxou no jogo, pois com o empate o título ficava em casa.
O clima de festa aumentou, pois aos 2 mins do 2º tempo, Friaça recebeu de Ademir e abriu o placar: 1 a 0 Brasil!
A partir daí entra Obdulio Varela novamente. O capitão uruguaio começou a catimba! Ainda no gol brasileiro, ficou por mais de 1 minuto pressionando a arbitragem pedindo impedimento e irritando a torcida brasileira. O Brasil parou de finalizar por quase metade da etapa final e com Varela chamando o jogo, passou a bola para Ghiggia, que deu bela assistência para Schiaffino empatar aos 21 minutos. Neste gol o Uruguai notou que a fragilidade do Brasil era o lado direito, do lateral Augusto e do meio-campo Bauer, além das costas de Zizinho.
Pouco tempo depois, aos 34 minutos, Julio Perez apostou em Ghiggia, que corria com facilidade pela direita e passou pelo zagueiro Bigode. Ghiggia teria uma segunda chance neste lance e ao ter a bola, finalizou e Barbosa aceitou. O Brasil só teria 11 minutos finais para recuperar o empate e salvar a tragédia.
O Maracanã calou, o clima de festa virou clima de choro. Mais de 200 mil pessoas angustiadas, o Brasil não levou mais perigo. O árbitro inglês George Reader apitou fim de jogo aos 45 minutos cravados, sem permitir uma jogada a mais na partida, calando todo o estádio.
A partir dali o Uruguai se igualou à Itália como bicampeã do Mundo. A taça foi entregue pelo presidente da FIFA, Jules Rimet, que sequer fez cerimônia para os uruguaios. Essa falta de empatia de Jules Rimet causou indignação em Obdulio Varela, que ficou irritado em não ter tido seus minutos de celebração no estádio, para levantar o troféu como todo time campeão faz.
Na época, tanto Brasil quanto Uruguai e Argentina, usavam uniformes em azul e branco. O Brasil até já tinha usado o verde e amarelo no sul-americano de 1916, mas a elite brasileira abominou o uso das cores da bandeira em um uniforme de jogo. Após essa derrota para o Uruguai, em 1953 a CBD (atual CBF) quis repaginar os ânimos do futebol brasileiro e propuseram um concurso para o Brasil ter um novo uniforme.
Um gaúcho, morador da fronteira com o Uruguai, venceu o concurso: Aldyr Garcia Schlee. A partir de então o Brasil adotaria em definitivo a cor predominante amarelinha e se consagraria o país do futebol, vencendo as Copas de 1958, 62, 70 (reeditando o confronto contra o Uruguai, mas nas semifinais), 94 e 2002.
Já os uruguaios campeões do mundo foram recebidos com festa em seu país e viraram heróis nacionais. Mas diferente do Brasil, eles não tiveram um futuro de tantas glórias quanto pareciam ter. Somente em 1954, 1970 e 2010 eles voltariam para uma semifinal de Copa, porém jamais ganharam outra. Desde 1950, só em 2011 voltaram a ser campeões de algo, a Copa América.
Texto escrito por @gabdeolv do nosso departamento de redação.