Matias Sindelar: O “Mozart do Futebol” que desafiou os nazistas e se tornou uma lenda

Conheça a história de Matias Sindelar, o gênio austríaco do futebol que desafiou os nazistas e se tornou símbolo de coragem e resistência.

Paulo Jorge
Por Paulo Jorge 3 Minutos de Leitura

Matias Sindelar é um dos nomes mais icônicos da história do futebol. Nascido em 10 de fevereiro de 1903 em Kozlov, uma pequena vila que hoje faz parte da República Tcheca, Sindelar cresceu em Viena, na Áustria. Lá, ele desenvolveria o talento que o transformaria em um dos maiores jogadores de todos os tempos e também em um símbolo de resistência contra o regime nazista. Sua morte, envolta em mistério, é um dos capítulos mais trágicos da história do esporte.

Infância e ascensão no futebol

De origem humilde, Sindelar cresceu em um bairro operário de Viena, onde o futebol era um dos poucos entretenimentos acessíveis. Desde cedo, demonstrou habilidade fora do comum, combinando técnica refinada com uma inteligência tática que lhe valeria o apelido de “Mozart do Futebol”. Sua elegância em campo encantava os torcedores e fazia dos jogos verdadeiros espetáculos.

No início da carreira, Matias começou no Hertha Viena, mas foi no FK Austria Viena que ele alcançou o estrelato. Com Sindelar como principal jogador, o Austria Viena conquistou títulos importantes, incluindo a Copa Mitropa, precursora da Liga dos Campeões da UEFA. Ele também se destacou na seleção austríaca, conhecida como a “Wunderteam” (Time Maravilha), considerada uma das equipes mais fortes do mundo nos anos 1930.

A “Wunderteam” e o auge de Sindelar

Sob o comando do técnico Hugo Meisl, a seleção austríaca revolucionou o futebol com um estilo de jogo fluido e ofensivo, baseado em passes curtos e movimentação constante. Sindelar era o coração do time, jogando como um “camisa 10” avant la lettre. Ele liderou a Áustria em campanhas memoráveis, incluindo a vitória sobre a Escócia em 1931, considerada um marco na história do futebol europeu.

Na Copa do Mundo de 1934, na Itália, a Áustria era uma das favoritas, mas foi eliminada nas semifinais pela equipe anfitriã em uma partida controversa, marcada por decisões duvidosas da arbitragem que beneficiaram os italianos, favorecidos pelo regime fascista de Benito Mussolini.

A anexação da Áustria e o confronto com os nazistas

Em 1938, a Alemanha nazista anexou a Áustria no evento conhecido como Anschluss. A independência do país foi extinta, e a seleção austríaca foi dissolvida para que os melhores jogadores se unissem à seleção alemã. Sindelar, porém, recusou-se a representar o regime nazista. Oficialmente, ele alegou problemas de saúde, mas muitos acreditam que sua posição foi um ato deliberado de resistência.

No mesmo ano, foi organizado um “jogo de despedida” entre a seleção da Áustria e a Alemanha em Viena. Sindelar participou e marcou um gol que ficou para a história. Após balançar as redes, comemorou de forma provocativa diante de oficiais nazistas presentes no estádio. Sua atitude foi um ato de desafio que simbolizava a recusa em aceitar a ideologia nazista.

A morte misteriosa de Matias Sindelar

Poucos meses após o Anschluss, em 23 de janeiro de 1939, Sindelar foi encontrado morto em seu apartamento ao lado de sua namorada italiana, Camilla Castagnola. Ambos foram encontrados com sinais de envenenamento por monóxido de carbono, supostamente devido a um defeito no sistema de aquecimento.

A morte de Sindelar gerou várias teorias. Para alguns, foi um trágico acidente; para outros, um suicídio, motivado pelo desespero diante da ocupação nazista. Há também quem acredite que ele foi assassinado por agentes do regime, como retaliação por sua postura política e por ter se recusado a representar a Alemanha nazista.

Legado e memória

Matias Sindelar tornou-se uma figura lendária, não apenas por seu talento no futebol, mas também por sua coragem em se opor a um regime totalitário. Em Viena, ele é lembrado como um símbolo de liberdade e resistência. O estádio do FK Austria Viena foi renomeado em sua homenagem, e sua história é ensinada como parte da memória histórica da Áustria.

No futebol, Sindelar é reverenciado como um dos maiores jogadores de todos os tempos, um gênio que transcendeu o esporte e cuja influência pode ser sentida até hoje. Sua vida, interrompida prematuramente, é um lembrete poderoso de que o futebol é muito mais do que um jogo; é uma plataforma capaz de refletir os conflitos, esperanças e sonhos de uma era.

Matias Sindelar não apenas marcou gols: ele marcou uma posição na história, como um jogador que ousou desafiar a tirania.

Matias Sindelar: O "Mozart do Futebol" que desafiou os nazistas e se tornou uma lenda
FOTO: CINEHISTORIA
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Futuro jornalista , professor de história formado pela Unisuam , pesquisador do futebol e do subúrbio Carioca . Torcedor do Gigante da Colina.
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