Muitos dos fãs de futebol de hoje viram uma seleção dominar o cenário do futebol mundial uns anos atrás, com conquistas da Eurocopa, Copa do Mundo, craques e um estilo de jogo que enchia os olhos. Essa seleção é a espanhola, que ficou no topo por longos anos na década passada. Contaremos agora a jornada da Espanha de 2008-2012.
Começo da geração – Copa 2006
Quem imaginaria que um amplo domínio começaria com uma grande decepção. Foi o que aconteceu na Copa de 2006, quando a Espanha era uma das favoritas a conquistar o título. Aliás, os esquadrões europeus dominaram aquela Copa, mesmo com grandes times de Brasil e Argentina, por exemplo.
A seleção da Espanha vinha com uma equipe recheada de jovens promessas, que no futuro viriam a integrar uma geração de ouro, como Andrés Iniesta, Xavi, Xabi Alonso, Fernando Torres, Iker Casillas, entre outros. Mas também contava com grandes jogadores já consagrados, como Raúl González, Fernando Morientes, Carles Puyol, Salgado, e outros, todos geridos pelo técnico Luis Aragonés. De fato, era um plantel que despontaria como favorito em qualquer competição.
Mas, naquela Copa, esse poderoso time parou logo nas oitavas de final, ao perder para a França, de Zidane. A Espanha enfrentava de novo um fantasma que a perseguiu por anos, de nunca conseguir chegar longe nas competições, e morrer abraçada somente com o favoritismo, nunca com uma taça.
Euro 2008 – Início da hegemonia
Mesmo após mais um fiasco em competições, a Espanha começaria novamente uma Eurocopa como uma das postulantes à glória, dessa vez com os mesmo jovens de dois anos atrás, agora mais experientes e protagonistas em seus respectivos clubes. O que talvez ninguém esperasse, era que um centroavante do Valencia, nem tão jovem assim, iria ser o artilheiro e um dos grandes responsáveis de uma campanha brilhante.
O time base era: Casillas, Sérgio Ramos, Marchena, Puyol e Capdevilla. No meio, Marcos Senna, David Silva, Xavi e Iniesta. No ataque, Villa e Fernando Torres.
O peso era grande da competição era grande para os espanhois. Afinal, a conquista da Eurocopa não vinha desde 1964, e estava na hora do bi-campeonato. A Espanha ficou no grupo D, com a boa seleção da Rússia, a Suécia e a atual campeã Grécia. Os espanhois foram soberanos, com três vitórias em três jogos, e passaram para a próxima fase, ao lado dos russos.
Na fase quartas de final, nada mais, nada menos do que a atual campeã do mundo Itália. Seria um teste de fogo para exorcizar de vez o fantasma do fracasso. Um jogo equilibrado, de muito toque e poucas chances. Com uma Espanha insistente com o toque de bola no campo ofensivo, e a Itália perfeita no campo defensivo, o jogo passou de 120 minutos sem nenhum gol, indo para os pênaltis. A classificação viria na cobrança de Fábregas, após Casillas pegar o pênalti de Di Natale. A Espanha eliminava a gigante Itália e estava nas semis da Eurocopa. O adversário seria um velho conhecido na competição.
Espanha x Rússia de um lado da chave, Alemanha x Turquia do outro. A final perfeita, aos olhos de muitos, seria entre alemães e espanhois, mas russos e turcos não estavam ali à toa. Eram quatro seleções fortíssimas, que chegaram aonde estavam por muito mérito. Seria um jogo difícil para a Espanha. Pelo menos, era o que todo mundo esperava.
Os espanhois controlaram o jogo do início ao fim, com um placar de 3×0. A boa dupla de ataque russa, com Pavlyuchenko e Arshavin só chutaram uma única vez ao gol de Casillas, o que mostrou o equilíbrio do time espanhol. Uma fortaleza atrás, e um ataque mortal na frente. Espanha na final, e o grande confronto aguardado por muitos, se confirmou, já que os alemães venceram (com muito esforço) os turcos por 3×2.
Era a hora da redenção espanhola, contra a gigante seleção alemã. O estádio Ernst-Happel, em Viena, na Áustria, seria o palco da glória para os comandados de Aragonés. Um jogo com poucas chances, mas com controle total do time espanhol, teve seu momento ápice no gol do jovem Fernando Torres, no primeiro tempo. O placar de 1×0 perdurou até o final, decretando assim o título da Eurocopa de 2008 à Espanha. A seleção se via livre de uma maldição, e pronta pra fazer ainda mais história.
Copa do Mundo 2010
Saiu Luis Aragonés, entrou Vicente Del Bosque. A troca de comando na seleção da Espanha foi vista com um certo receio, pois acreditava-se numa longevidade maior de Aragonés no cargo. E assim se dava o início da trajetória até a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.
Nas Eliminatórias para a Copa, um amplo domínio, com 10 jogos, 10 vitórias, 28 gols marcados e apenas oito sofridos. O mesmo padrão do time de Aragonés, mantido por Del Bosque: muralha atrás, artilharia na frente. O time era impecável em todos os setores do campo, com um controle de jogo e posse de bola absurdos.
Na Copa das Confederações, uma fase de grupos novamente impecável, 100% de aproveitamento. De quebra, a Espanha chegou ao recorde mundial de 15 vitórias consecutivas, e 35 jogos de invencibilidade. Inimaginável aquele fantasma de sucumbir nas fases finais voltar, não é? Pois bem…
Nas semifinais, contra os Estados Unidos, um jogo irreconhecível de um time que só encantava nos últimos 3 anos. Uma derrota por 2×0 deixou apreensiva a torcida espanhola, que temia um novo fracasso em mais uma Copa. Os americanos viriam a ser derrotados pelo Brasil na final por 3×2.
Inclusive, o título brasileiro tirou a Espanha da liderança do Ranking da FIFA. Liderança essa conquistada pela primeira vez pelo time espanhol, após a conquista da Eurocopa.
Enfim, chegou o mês de junho de 2010, início de um sonho para os espanhois. No Grupo H, a Espanha iria enfrentar Chile, Suíça e Honduras. O começo, assustou o país ibérico: derrota para os suíços por 1×0. Porém, toda a tensão daria lugar à esperança. Vitórias em cima de Chile e Honduras deram a liderança aos espanhois, que mantiveram o mesmo padrão de controlar bem as ações dos adversários.
Nas oitavas, seu rival e vizinho: Portugal, de Cristiano Ronaldo e companhia. O bom time português deu trabalho para os espanhois furarem a defesa. Os comandados de Del Bosque controlaram as ações e posse de bola, e conseguiram o gol no segundo tempo, com David Villa.
Nas quartas, a excelente seleção do Paraguai deu trabalho, e nem de longe se imaginou tamanho equilíbrio. Apesar de ter maior posse de bola e de ter tido as melhores chances, a Espanha se esforçou para vencer o jogo. Após dois pênaltis perdidos, um de cada lado, Villa fez o gol da vitória e da classificação às semis.
O adversário da final da Euro voltava ao caminho espanhol. Espanha x Alemanha em mais um mata-mata. Depois de golear Inglaterra e Argentina nas fases anteriores, a Alemanha era de fato a seleção que poderia tirar o título dos espanhois. O jogo foi mais uma vez difícil, mas controlado pela Espanha, assim como na final da Euro. O heroi dessa vez foi Puyol, com gol de cabeça no segundo tempo. A Espanha estava na final da Copa.
De um lado, uma seleção estreante em final. De outro, uma bi vice-campeã que estava sedenta por um título mundial. Era Noite de Copa para Espanha x Holanda.
Num jogo truncado e com bastante faltas, a seleção espanhola rodava a bola, e a holandesa chegava com violência para tentar recuperar a bola. Com chances de Robben para a Laranja Mecânica e Villa para a Fúria, o jogo não saiu do 0x0, e foi para a prorrogação.
No que tudo indicava penalidades máximas, Andrés Iniesta, foi o salvador e heroi para levar a taça da Copa do Mundo para a Espanha. Mais uma vez, os espanhois estavam no topo, mas não do continente, e sim, do mundo.
Euro 2012
Após a conquista da Copa e isolada na liderança do Ranking da FIFA, a Espanha começou sua caminhada rumo à Euro 2012 nas Eliminatórias. A fase classificatória serviu como um treino de luxo aos espanhois, pois, mais uma vez, ninguém foi páreo ao poderio dos comandados de Vicente Del Bosque. Foram oito vitórias em oito jogos. Mais uma vez na Euro, e mais uma vez impecável.
Na fase de grupos, a Itália era seu principal adversário. E de fato foi um jogo complicado, terminado em 1×1, com gols de Di Natale para os italianos, e Fábregas para os espanhois. Nos jogos seguintes, duas vitórias: 4×0 sobre a Irlanda do Norte, com show de Fernando Torres, e 1×0 contra a Croácia, com gol de Navas. Os resultados deram a liderança à Espanha, e a Itália passou em segundo.
Nas quartas, mais uma rival de peso. Dessa vez, a renovada e cheia de jovens França iria tentar derrubar o favoritismo da seleção de Del Bosque. E ficou somente na tentativa: vitória tranquila sobre os franceses por 2×0, com atuação de gala do meio campo, em especial de Xabi Alonso, autor dos dois gols.
Mais um clássico ibérico à vista, dessa vez, nas semis. Espanha x Portugal foi, talvez, o confronto mais equilibrado e tenso da competição. Com um 0x0 cheio de faltas e cartões amarelos, o jogo foi para os pênaltis. Com duas cobranças perdidas por Portugal, a Espanha se classificava à sua segunda final consecutiva de Euro, e iria enfrentar novamente a Itália na competição.
O abismo escancarado – Final Euro 2012
Visto o confronto equilibrado na fase de grupos, as 60 mil pessoas em Kiev esperavam mais um jogo difícil para ambas as equipes. Acontece que, parecia que os espanhois não sabiam que aquele era um jogo de final de Eurocopa, e não um amistoso.
Os jogadores simplesmente não tomaram conhecimento do gigantismo da camisa italiana, e aplicaram uma sonora goleada de 4×0, em plena decisão. Com gols de David Silva, Jordi Alba, Juan Mata e Torres, a Espanha levantava mais uma taça, sua terceira Eurocopa.
O resultado escancarava uma impressionante diferença da seleção espanhola em relação às suas principais rivais no mundo. A impressão que se tinha na época, era de um longo domínio no futebol mundial, onde não era possível decifrar as escalações de Vicente Del Bosque, já que, na própria competição, a escalação se moldava naquilo que era necessário para o jogo, com a entrada e saída de jogadores.
A derrocada
Impressão essa que não se sustentou. Na Copa das Confederações de 2013, a Espanha era amplamente a favorita, jogando fora o fato do Brasil estar jogando em casa. O momento da seleção brasileira, e um elenco reformulado, reforçava o favoritismo espanhol. Afinal, o time da Fúria ainda era a base dos três títulos conquistados nos anos anteriores.
Porém, o rendimento do time não chegou nem perto do que se via antes. Apesar de ter chegado na final, a seleção espanhola sucumbiu diante da gigante seleção brasileira, perdendo a final por 3×0, em grande atuação coletiva da amarelinha. Esse era um sinal de que renovações teriam que acontecer, mas não houve mudanças significativas.
A então atual campeã do mundo começava a Copa de 2014 sem a mesma pompa de antes, e o motivo foi escancarado logo de cara. Uma goleada sofrida para a Holanda, por 5×1, em atuação de gala de Robben. Posteriormente, mais uma derrota, agora para o Chile, por 2×0, por fim, uma vitória por 3×0 sobre a fraca Austrália. Embates entre jogadores e técnico por escolhas na escalação e esquemas táticos foram externados, encerrando um ciclo extremamente vitorioso no futebol espanhol.
Jogos e títulos do período (2007-2012)
Jogos: 89
✅Vitórias: 75
🟰Empates: 8
❌Derrotas: 5
⚽➕Gols feitos: 205
⚽➖Gols sofridos: 53
⚽➕➖Saldo de gols: +152
🏆Títulos: 2 Eurocopas, 1 Copa do Mundo
Um futebol que era visto por muitos, principalmente nós, latinos, como chato e entediante. Essa era a ideia, até assistirmos a um jogo dessa seleção. Era de encantar os olhos o toque de bola envolvente, quebrando linhas e fazendo aparecer chances de gol de repente. Os vários 1×0 não deixavam claro, para quem via de fora, o amplo domínio espanhol sobre os adversários. Certamente, foi o estilo de jogo, que fez muitos ao redor do mundo se apaixonarem por futebol. 🇪🇸⚽
