A vovó do Pito

A primeira chefe de uma torcida organizada do Brasil foi Dulce Rosalina, torcedora do Vasco. Mas, você sabia que existiu uma torcedora símbolo de um clube antes mesmo disso? Em uma pesquisa na hemeroteca da Biblioteca Nacional, o coordenador do Acervo Histórico e Memória do Palmeiras, Miro Moraes, encontrou uma edição do jornal “Diário de Abax’o Piques” de 27 de Julho de 1933.

Lucas Martins de Lara
Por Lucas Martins de Lara - Redator PFQL 2 Minutos de Leitura

A primeira chefe de uma torcida organizada do Brasil foi Dulce Rosalina, torcedora do Vasco. Mas, você sabia que existiu uma torcedora símbolo de um clube antes mesmo disso? Em uma pesquisa na hemeroteca da Biblioteca Nacional, o coordenador do Acervo Histórico e Memória do Palmeiras, Miro Moraes, encontrou uma edição do jornal “Diário de Abax’o Piques” de 27 de Julho de 1933. A edição trazia a fotografia de uma senhora negra com chapéu de palha, um cachimbo de cano longo e o escudo do Palestra Itália bordado no vestido e continha os escritos “Vovó do Pito, a maior palestrina do país”. A partir daí, Miro Moraes coordenou uma intensa pesquisa para recuperar a memória da Vovó do Pito, e a PFQL conta essa história…

A vovó do Pito

Adelaide Antônia das Dores nasceu em Sorocaba, no interior de São Paulo, em 1822, e cresceu em uma fazenda onde ela e os irmãos foram escravizados. Ainda jovem, Adelaide adquiriu a própria alforria e se mudou para a capital do estado.

A icônica torcedora palmeirense casou aos 20 anos, mas o marido morreu na Guerra do Paraguai (1864 – 1870) e Adelaide se viu obrigada a trabalhar para as famílias de elite de São Paulo para garantir o sustento da família. Segundo a pesquisa de Miro Moraes, Adelaide era cozinheira de mão cheia e especialista em fazer pirão de leite e ensopado.

A vovó do Pito

Conforme o jornal “Correio Paulistano”, Adelaide já era uma figura estimada na sociedade paulistana antes mesmo da fundação do Palestra Itália:

“[…] sendo estimada por toda a sociedade paulistana, principalmente entre a classe acadêmica, em particular os alunos de direito da Faculdade do Largo do São Francisco, onde sua figura estava sempre presente nas festas organizadas pelo grêmio estudantil”

Adelaide era simpatizante dos ideais de Isidoro Dias Lopes, que comandou a Revolta Paulista em 1924. Entre outras pautas, a Vovó defendia a justiça gratuita e a implementação do ensino público obrigatório. Por ser simpatizante da Revolta, Adelaide foi detida aos 102 anos, mas não ficou mais do que algumas horas na delegacia porque os estudantes de direito da Faculdade do Largo do São Francisco a estimavam muito e se mobilizaram para tirá-la da prisão.

A vovó do Pito

O amor de Adelaide pelo Palestra foi intenso desde a fundação do clube. Quando o clube alviverde surgiu em 1914, Adelaide já era vovó com seus impressionantes 91 anos. Mas, a idade não foi impeditivo para que comparecesse em todas as partidas e participasse de caravanas como chefe da torcida palestrina.

A história conta que, após uma derrota para o América do Rio no Rio-São Paulo de 1933, Adelaide sugeriu ao presidente do clube que nove jogadores do time titular, vários reservas, o treinador e até mesmo o roupeiro fossem demitidos. A Vovó ainda se ofereceu para atuar na zaga, no lugar do ídolo Junqueira.

Adelaide faleceu no dia 21 de Novembro de 1934, aos 111 anos, dois meses depois de ver o clube do coração conquistar o tricampeonato paulista. Em seu enterro, compareceram inúmeros associados do Palestra.

A vovó do Pito

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Redator apaixonado por futebol e viciado no Palmeiras.
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