Quando em Minas Gerais, ao procurar pela majestade, não se espante. A terra do mineiro Pelé atende outro rei. José Reinaldo de Lima, Reinaldo, ou simplesmente Rei, o maior ídolo (e artilheiro) da história do Atlético Mineiro.
O Noite de Copa junto à equipe de redatores apresentam mais um episódio de CRAQUES IMORTAIS em ritmo de Dia D Copa do Brasil 2024, dessa vez vamos falar sobre o Rei 9, Reinaldo de Lima, o maior ídolo da história do Clube Atlético Mineiro.
CRAQUES IMORTAIS | A história de Reinaldo de Lima.
Mineiro de Ponte Nova, Reinaldo é daqueles talentos natos. Com apenas 14 anos, ele foi ‘pescado’ pelo conterrâneo Barbatana para realizar testes no Atlético. O caminho natural seria levá-lo para treinar com outros meninos de sua idade, mas Reinaldo teve logo que apresentar o cartão de visitas entre os profissionais. Não era qualquer Atlético, mas no time campeão brasileiro de 1971. E bastaram alguns minutos, como relata em sua biografia, “Punho Cerrado”.
“Iniciei na reserva e no final do treino, faltando 20 minutos, eu entrei já dando toques de primeira, canetas, dribles e fazendo gols”, conta.
A ousadia de Reinaldo foi mal interpretada pelos defensores daquele time, e o atacante teve que ser ‘salvo’ por Dadá Maravilha, que viria a ser seu companheiro de ataque anos depois.
AS GLÓRIAS E OS DESAIRES
Dois anos depois de chegar para as categorias de base do Atlético, onde compartilhou espaço com outros grandes jogadores que viriam a surgir, como Toninho Cerezo e Marcelo Oliveira, Reinaldo estreou profissionalmente pelo clube com 16 anos. Logo na primeira temporada como profissional, o craque marcou 14 gols.
O auge de Reinaldo, na verdade, aconteceu mesmo quando era “apenas” um adolescente. Dos 255 gols que tem pelo Galo, 127 foram até os 20 anos de idade. Não por acaso, já aos 18, em 1975, Reinaldo recebeu sua primeira chance na seleção brasileira, em disputa da Copa América.
A ousadia incutida na pouca idade e a notável truculência dos zagueiros não passou impune. O resultado foram as consecutivas lesões que o levaram a operar diversas vezes o joelho.
“Reinaldo, por exemplo, paga o preço da pouca experiência e alguns beques só são capazes de marcá-lo na violência e ele se expõe em demasia”, relata trecho da revista Placar.
O melhor ano de Reinaldo, a nível de desempenho individual, foi também o da maior de suas decepções como jogador. Em 1977, o Atlético Mineiro perdeu a final do Brasileiro em uma disputa de pênaltis contra o São Paulo, em pleno Mineirão.
Naquele ano, Reinaldo foi o artilheiro da disputa, recebeu a Bola de Prata, e o Galo foi vice-campeão invicto, em final vencida pelo Tricolor nos pênaltis. O craque fez incríveis 28 gols em 18 partidas naquele Brasileiro, mas não disputou a final pois estava suspenso. A marca de Reinaldo em 77, inclusive, estabeleceria um recorde que só seria ultrapassado 20 anos depois por Edmundo, no Campeonato Brasileiro de 1997.
Reinaldo e o Galo bateram novamente na trave do título Brasileiro três anos mais tarde, em 1980, depois de perder a decisão para o Flamengo. A nível nacional, o Rei não teve nenhuma conquista. A nível regional, porém, o craque fez parte do elenco hexacampeão mineiro, entre 1978 e 1983. O Rei do Atlético, com 255 gols, também é o Rei do Mineirão: o atacante é o maior artilheiro do estádio, palco de mais da metade de seus tentos, 152.
CARREIRA ABREVIADAS E POLÊMICAS
Cinco operações no joelho impediram a longevidade da carreira de Reinaldo, que se aposentou aos 31 anos. Além do Atlético, ele defendeu ainda Palmeiras, Rio Negro do Amazonas, o rival Cruzeiro (onde fez apenas dois jogos), BK Hacken (Suécia) e Telstar (Holanda). No currículo, o atacante tem 28 jogos pela seleção brasileira, 11 gols e disputou a Copa do Mundo de 1978 – a ausência na Copa de 1982 é até hoje lembrada por alguns como uma das mais sentidas, na seleção mágica de Telê Santana.
Fora de campo, a vida de Reinaldo não foi mais tranquila que nos gramados. Engajado politicamente, o craque ficou conhecido pela comemoração característica com o punho cerrado, lembrando os atletas olímpicos dos Estados Unidos em 1968.
“Era uma época de ditadura, o país começava a clamar pela liberdade. Éramos um povo muito oprimido, muito pobre. E queríamos uma nova era, um mundo com mais liberdade, mais oportunidade, mais igualdade”, disse Reinaldo em entrevista para a UOL, lembrando que tal gesto chegou a incomodar o general Geisel, que pediu que ele se concentrasse apenas no futebol.
Os relatos para resumir tudo o que representou Reinaldo poderiam vagar de Pelé ao grande rival Zico. Porém, de Tostão, ídolo do Cruzeiro, vem a definição de “um dos maiores centroavantes do Brasil e do mundo de todos os tempos”. Não à toa, no Mineirão, o canto da torcida atleticana para receber Reinaldo era o icônico – “Rei, Rei, Rei, o Reinaldo é o nosso Rei”.