O futebol goiano é, de longe, o principal da região Centro-Oeste do Brasil, com vários clubes tradicionais, e que frequentam a primeira prateleira do futebol nacional.
O esporte na região sempre foi, historicamente, difundido pelo povo. E quando se fala em Clube do Povo em Goiás, estamos falando de um dos maiores do Estado. Hoje, iremos contar a história do Vila Nova Futebol Clube.
Origens e trajetória
Nascido a partir de uma vontade do Padre José Balestiere, o Vila Nova Futebol Clube foi fundado em 29 de julho de 1943, no bairro de Vila Nova, em Goiânia. O objetivo do clube era nada mais do que gerar entretenimento e desenvolver a comunidade cristã da Associação Mariana, que era gerida pelo Padre José Balestiere. O líder religioso contou com a ajuda do Coronel Francisco Ferraz de Lima, e Gercina Borges, que na região era conhecida como “Mãe dos Pobres”, para fundar o clube.
Nem o Padre, e nem o Coronel, imaginavam estarem construindo um clube que viria a ser um dos mais importantes da história do estado goiano. Nascendo de um bairro operário e sendo erguido pelo povo, o Vila passou por muitas dificuldades no começo, tendo até que mudar de nome e localização. Em 1946, o clube passou a se chamar Operário, e , depois de três anos, em 1949, virou Araguaia. Em 1952, mais uma mudança de nome, agora sendo chamado de Fênix Futebol Clube. Depois de alguns anos disputando torneios de várzea e se consolidando na região, o Tigrão voltou a ser chamado de Vila Nova.
Primeiros títulos
Na década de 1960, o Vila já era um dos principais clubes do estado, vencendo torneios regionais, como o Octagonal Goiânia/Anápolis, e o Campeonato da Cidade de Goiânia. O primeiro título estadual veio em 1961, quando o Vila venceu o Botafogo de Buriti. Vale lembrar que a Federação Goiana não considera esse campeonato como oficial, e essa edição ficou conhecida como Super Campeonato Goiano. Porém, o torneio é de extrema importância ao futebol goiano, já que credenciaria o Vila a um dos momentos mais importantes do esporte na região, em 1963.
A Taça Brasil de 1963 contava com a estreia do primeiro clube goiano a participar do campeonato nacional. O Vila, mais do que nunca, carregava o nome do estado perante os maiores clubes do Brasil. O clube, por ter sido campeão do Octagonal Goiânia/Anápolis em 1962 e campeão goiano no mesmo ano, disputou o torneio. Nesta edição, o Tigrão ficou no mata-mata da Zona Sul, iniciando nas oitavas de final. Venceu o Defelê, do Distrito Federal, e, na fase seguinte, foi eliminado pelo Rio Branco, do Espírito Santo.
Ao longo das décadas de 1960 e 1970, o clube se consolidou de fato como uma das principais forças do Estado de Goiás, vencendo o campeonato estadual oito vezes. Em 1978, o Tigrão voltava à Série A do Campeonato Brasileiro, e, no ano seguinte, fez a sua melhor campanha na história, ficando em 21° lugar (o campeonato contou com a participação de 74 clubes).
Na década de 1980, mais três títulos goianos, e idas e vindas entre a primeira e segunda divisões do Brasileirão. Em 1985, o clube disputaria sua última edição na Série A, já que depois, não conseguiu retornar mais para a primeira prateleira do futebol nacional.
Nos anos seguintes, o clube mantinha um padrão de sempre fazer campanhas medíocres na Série B, e, de vez em quando, pintava na disputa pela vaga à elite. Em 1993, porém, disputou pela primeira vez a Série C, na qual ficou até 1996, quando foi campeão invicto. Era o primeiro título nacional do Vila, no qual foi muito festejado pelos torcedores.
Por erros de administração e problemas financeiros, o clube terminaria de forma melancólica a década, sendo rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Goiano de 2000. Voltou à elite goiana já no ano seguinte, sendo campeão mais uma vez. O título estadual viria a ser conquistado pelo Clube do Povo em 2005, e esta seria a última vez, até então, que o Vila se sagraria campeão goiano.
No Brasileirão, o Vila se manteve na Série B até 2006, quando foi rebaixado novamente à terceira divisão. Ficando em terceiro, o clube voltava à Série B, para fazer, em 2008, uma campanha memorável, ficando em 6° lugar.
Essa edição em específico, ficou marcada na história do Vila pelo grande apoio dos torcedores na campanha. O clube realmente teve reais chances de voltar a disputar a primeira divisão, ficando a maior parte do campeonato entre os quatro primeiros, mas derrapou nas últimas rodadas.
Nos anos seguintes, um verdadeiro sobe e desce entre as Séries B e C. Com a terceirização do departamento de futebol do clube, o Vila passou por muitas dificuldades dentro de campo, o que levou a torcida a conviver com os vários rebaixamentos. Em 2014, o clube ficou em último lugar no campeonato goiano, e iria disputar novamente a segunda divisão goiana.
No mesmo ano, em 2015, dois títulos. O clube foi campeão da Série C e da segundona do estadual. O título nacional e o acesso à Série B naquele ano foram muito festejados, já que o clube lidava com sérios problemas nos últimos anos.
Em 2020, mais um título da Série C, e, a partir dessa edição, o Vila se consolidou na segunda divisão do Brasileirão, disputando durante os anos o acesso à Série A.
Torcida e rivalidade
Em recentes pesquisas, o Vila é apontado como o clube com a segunda maior torcida do estado, ficando atrás de seu rival Goiás. Estima-se que o Clube do Povo tenha em torno de 600.000 torcedores.
Por ser um dos principais clubes do seu estado, o Vila Nova acumula diversos rivais, mas quatro deles se destacam pelo enorme número de partidas disputadas e tamanha rivalidade em campo.
Dérbi do Cerrado
Vila Nova x Goiás. Simplesmente o maior clássico do centro-oeste brasileiro. Donos das duas maiores torcidas do estado, Vila e Goiás esbanjam rivalidade em campo e nas redes sociais. Dentre os clássicos, diversas decisões de títulos, goleadas e personagens marcantes ajudam a enriquecer ainda mais este duelo.
Um dos principais personagens desse duelo é o centroavante Túlio Maravilha. Ele foi revelado e se tornou ídolo pelo Goiás no início da carreira. Depois de passar por gigantes do Brasil, como Botafogo e Corinthians, Túlio voltou para o estado goiano, mas não ao clube que o revelou, e sim para o maior rival: o Vila Nova. Ao chegar ao Tigrão, ele disse uma de suas frases mais icônicas: “Sou verde por fora, mas vermelho por dentro”.
Histórico: 84 vitórias do Vila Nova, 89 empates e 153 vitórias do Goiás.
Clássico do Povo
Oriundos de dois bairros operários e erguidos pelo seu povo, Vila Nova e Atlético Goianiense fazem o Clássico do Povo. Ambos sempre travaram disputas quentes dentro de campo, além de decisões de campeonatos, principalmente o estadual.
Histórico: 105 vitórias do Vila Nova, 97 empates e 98 vitórias do Atlético.
Clássico dos Opostos
Pra quem achava que o Vila só tinha dois rivais, está enganado. Vila Nova x Goiânia costumam fazer duelos pesados também, com muita rivalidade dentro e fora de campo. O motivo do nome do clássico é por conta das origens dos clubes. O Goiânia era tido como o clube do governo, e sua torcida era formada pela elite da cidade. Já o Vila, é conhecido como o Clube do Povo, como já foi falado aqui. Muito dessa rivalidade vem justamente dessa diferença social entre as origens dos clubes.
Histórico: 71 vitórias do Vila Nova, 60 empates e 58 vitórias do Goiânia.
Patrimônio do clube
O principal patrimônio material do clube é o Estádio Onésio Brasileiro Alvarenga, mais conhecido como OBA. O estádio é fruto de um projeto do então presidente do clube Cleomenes Reis, na década de 1980, para a construção de um clube poliesportivo do Vila Nova, com sede social, quadras, piscinas e outros departamentos. O estádio tinha capacidade para 8.000 lugares, e, após reformas realizadas em 2016, a capacidade foi aumentada para 11.788 lugares.
Quando o clube precisa mandar em um estádio com maior capacidade, o Serra Dourada é a casa do Tigrão. A nível de curiosidade, na Série B de 2008, o clube teve a segunda melhor média de público do campeonato, atrás apenas do Corinthians. Muito dessa marca se deve ao gigante estádio goiano, que tem capacidade para 50.049 torcedores.
Ídolos
Ao decorrer das décadas, o Vila Nova colecionou diversos títulos, e como eles, jogadores marcaram história no clube.
Dentro tantos, há alguns que se destacam, como o atacante Guilherme, que é considerado o maior ídolo da história do Tigrão. Ele defendeu o clube entre os anos de 1969 e 1977.
O atacante Roni também tem um carinho especial do torcedor do Vila, por ser cria da base e ter marcado 35 gols em 76 jogos nas duas passagens pelo clube, em 1994-1995 e 2010-2011.
Túlio Maravilha é cria da base de seu maior rival, Goiás, mas tem sua história também marcada no Vila. Ele é o maior artilheiro da história do clube, com 99 gols marcados nas três passagens, em 1999, 2001 e 2008.
Jogos Internacionais
A fim de promover a sua marca e trazer os holofotes ao futebol goiano, o Vila Nova costumava enfrentar em amistosos alguns clubes e seleções pelo mundo. Na década de 1970, período em que teve mais jogos, o clube enfrentou a forte seleção da extinta União Soviética, empatando em 0x0. Os principais jogos foram:
Vila Nova 1×1 Dínamo Bucareste 🇷🇴
Vila Nova 0x0 CSKA Sofia 🇧🇬
Vila Nova 0x1 Racing 🇦🇷
Vila Nova 0x0 União Soviética ❓
Vila Nova 1×1 Željezničar 🇧🇦
Vila Nova 1×0 Tanzânia 🇹🇿
Vila Nova 2×3 Cosmos 🇺🇲
Vila Nova 1×1 Young Boys 🇨🇭
Vila Nova 0x0 Omã 🇴🇲
Vila Nova 2×1 Žalgiris Vilnius 🇱🇹
Basquete e Esportes Olímpicos
No Basquete, o Vila Nova era uma das grandes equipes na década de 1970. Mostrando sua força em outras áreas além do futebol, o clube foi campeão brasileiro de basquete em 1973, e campeão continental em 1974. Além disso, foi vice-campeão brasileiro no mesmo ano e ficou em terceiro no Mundial de Basquete.
No ano de 2020, em parceria com a instituição de ensino UNIVERSO, o clube reabriu o Departamento de Esportes Olímpicos, investindo em sete modalidades: futebol feminino, futsal, basquete, karatê, vôlei, rugby e handebol.
Um clube com uma importância enorme na região Centro-Oeste, não só no futebol, mas também para o esporte como um todo. Uma torcida apaixonada, que não deixa de acompanhar o time, independente da fase em que o mesmo esteja. E essa mesma torcida espera que, muito em breve, o clube volte aos tempos de glórias máximas, e que figure sempre entre os principais clubes do país.
🎶“E embalado por uma nação
Vibrante é o escudo em seu coração
E por mais glórias e memórias vai lutar
O Vila Nova, sempre e sempre exaltar”🎶