O futebol asiático foi pego de surpresa na última segunda-feira (6) com o anúncio do encerramento das atividades do Guangzhou FC, anteriormente conhecido como Guangzhou Evergrande, devido a uma grave crise financeira. Maior campeão da China, com oito títulos nacionais, o clube enfrentava dificuldades desde 2021, quando a Evergrande, sua principal acionista, colapsou financeiramente e transferiu sua participação para um grupo de investidores.
O Guangzhou, que marcou a última década com milionárias transações no mercado de transferências, foi rebaixado para a segunda divisão em 2022 e não conseguiu se reerguer. A situação piorou no início desta semana, quando, de forma inesperada, a Federação Chinesa de Futebol negou a renovação da licença do clube, selando seu destino.
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Introdução
O Guangzhou FC, fundado em janeiro de 1954, não era um time de grande expressão no futebol chinês, alternando entre acessos e rebaixamentos no campeonato nacional. Durante anos, foi considerado uma equipe “tradicional” da segunda divisão, chegando a conquistar o torneio duas vezes entre 2007 e 2010.
A situação mudou quando o clube foi adquirido pela Evergrande Real Estate Group, uma gigante chinesa do setor imobiliário, que transformou o Guangzhou em uma das maiores forças do continente asiático. A partir daí, nomes importantes do futebol sul-americano como Muriqui, ex-Atlético Mineiro, e Darío Conca, ex-Fluminense, foram contratados para reforçar a equipe, o que foi considerado o início da era de grandes contratações dos “Tigres do Sul”.
O treinador Marcello Lippi, campeão mundial com a Itália em 2006, foi escolhido para liderar o projeto e rapidamente transformou o Guangzhou em uma potência. Sob seu comando, a equipe conquistou a Superliga Chinesa por três temporadas consecutivas: 2012, 2013 e 2014. Nesse último ano, o clube também faturou a Liga dos Campeões da Ásia, com destaque para o atacante Muriqui, artilheiro e melhor jogador da competição. Assim, teve início um período de domínio do Guangzhou tanto no futebol chinês quanto no cenário asiático.

A “Era Brazuca”
Apesar dos altos investimentos da Evergrande, o Guangzhou optou por não contratar grandes estrelas do futebol mundial, priorizando nomes de destaque do Brasileirão. Após Muriqui, Elkeson e Conca, o clube reforçou seu elenco com jogadores como Paulinho, campeão da Libertadores pelo Corinthians, Ricardo Goulart, bicampeão brasileiro pelo Cruzeiro, e Robinho, que havia deixado o Santos recentemente.
Em 2015, após a saída de Fabio Cannavaro, que sucedeu Marcello Lippi, Luiz Felipe Scolari foi contratado para dar continuidade à era vitoriosa do clube. No mesmo ano, Felipão conquistou o título da Superliga Chinesa (o quarto consecutivo do Guangzhou) e a Liga dos Campeões da Ásia, consolidando ainda mais o legado do time no continente.
Nos anos seguintes, Scolari levou o Guangzhou a mais duas conquistas do campeonato chinês, além de triunfos na Supercopa da China (duas vezes) e na Copa da China. Ele deixou o comando do time no final de 2017, após uma passagem extremamente vitoriosa. Antes do início da crise financeira, o clube ainda contou com outros nomes brasileiros de destaque, como o meia Anderson Talisca, o volante Renê Júnior e o atacante Alan, que mais tarde se naturalizou chinês.

Crise financeira e falência da Evergrande
Após dominar o futebol chinês entre 2011 e 2019, o Guangzhou Evergrande começou a enfrentar dificuldades financeiras agravadas pela pandemia de 2020. Nesse mesmo período, o clube anunciou a construção de um estádio grandioso, avaliado em US$ 1.86 bilhão, com capacidade para pelo menos 80 mil torcedores. O projeto, no entanto, foi cancelado em 2022 devido ao acúmulo de US$ 300 bilhões em passivos pelo Grupo Evergrande, que já enfrentava sérias dificuldades financeiras.
No início de 2021, o clube foi renomeado para Guangzhou FC após perder o patrocínio direto da Evergrande, que enfrentava um colapso financeiro. O controle estatal do clube foi transferido para um grupo de investidores, forçando a equipe a se desfazer de seus principais jogadores. A redução na qualidade do elenco resultou em uma queda acentuada de desempenho, culminando no rebaixamento para a segunda divisão em 2022.
Com dívidas altíssimas e um buraco financeiro praticamente irreversível, o Guangzhou enfrentou muitas dificuldades para permanecer na segunda divisão. Em 2023, a equipe brigou contra o rebaixamento para a terceira divisão até as últimas rodadas, finalizando o campeonato apenas cinco pontos acima da zona de descenso. Já em 2024, apesar de uma campanha melhor, o Guangzhou ficou em terceiro lugar, falhando por pouco na tentativa de retornar à elite do futebol chinês.
Em janeiro de 2024, a Justiça de Hong Kong decretou a falência da Evergrande, empresa que por anos foi a principal acionista do clube.

Licença negada em 2025
Em meio à grave crise financeira, o Guangzhou FC teve sua licença negada pela Federação Chinesa de Futebol, devido à incapacidade de cumprir os requisitos financeiros necessários para disputar a segunda divisão do país. Diante disso, a atual gestão do clube optou pelo encerramento das atividades, que foi oficializado nas redes sociais do Guangzhou na última segunda-feira (6).
“O clube está trabalhando muito de diversas maneiras. No entanto, devido às pesadas dívidas históricas, os fundos angariados não foram suficientes para saldar as pendências e, em última análise, não conseguimos obter acesso, o que lamentamos profundamente. Aqui, gostaríamos de expressar nossas mais sinceras desculpas a todas as pessoas de todas as esferas da vida que se preocupam e apoiam o Guangzhou Football Club, bem como aos fãs e amigos”, declarou o comunicado.
Fora de cena em 2025, o Guangzhou ainda tentará reverter a situação para os próximos anos. No mesmo comunicado, a direção afirmou que não medirá esforços para buscar um plano de reestruturação para o clube, e seguirá trabalhando arduamente no desenvolvimento do futebol nacional.
“Ao mesmo tempo, obrigado a todos pela compreensão e tolerância. Não mudaremos nossa intenção original e faremos o nosso melhor para lidar com as consequências e apoiar o desenvolvimento do futebol chinês e do futebol de Guangdong e Guangzhou”, completou a nota.