Em 1911, na cidade de Split, surgia o Hajduk Split, cujo nome faz homenagem aos haiduques, que lutavam contra o domínio dos turcos otomanos. Depois de um jogo entre AC Sparta e SK Slavia, um grupo de estudantes se reuniu, decidido a criar o primeiro clube da cidade. De acordo com relatos, o professor Josep Barac teria ajudado na escolha do nome, já que Hajduk simboliza bravura, humanidade, desafio aos poderes e proteção dos fracos. O nome foi considerado provocativo pela Monarquia, mas permitido, pois os nobres viam no esporte uma boa oportunidade para treinar soldados.
Em 1950, surgiu o primeiro grupo ultra do futebol europeu. A Torcida, como é conhecida, foi inspirada pela Copa do Mundo no mesmo ano, que aconteceu no Brasil – existem duas versões que explicam essa ligação: a criação a partir de filmes daquele Mundial, ou a suposta presença de marinheiros no Rio de Janeiro durante aquele período. Como foi fundada poucos anos após a Segunda Guerra, no início comunista na Iugoslávia, a Torcida foi inclusive proibida, já que o nome não estava ligado ao partido. Em dado momento chegou a ser, inclusive, a única organização da cidade, procurada até para resolver questões trabalhistas – como contou seu antigo líder, no anonimato, em entrevista ao Globo Esporte. Foi só na década de 1980, com o início da queda do regime iugoslavo, que o grupo passou a realmente funcionar.
Ao longo do tempo, a Torcida realizou diversos shows pirotécnicos e chegou até mesmo a comprar uma parcela das ações do clube (2,5%, sendo que o restante é dividido entre a prefeitura da cidade, entidades governamentais e investidores privados), consolidando ainda mais sua cultura de arquibancada como referência social. Aliada de outras torcidas, como Name Boys (Benfica), Torcida Górnik (Górnik Zabrze) e Magic Fans (Saint-Etienne), os cânticos são entoados no último volume, sempre contando com o nome da equipe – estilo que lembra o jeito de torcer brasileiro, em alguns aspectos. O antigo líder anteriormente citado ainda afirmou, na mesma entrevista: “Nossa maior missão é manter o Hajduk vivo. Isso é suficiente”.
Enquanto a Croácia pertencia à Iugoslávia, o Hajduk era o grande clube do país, apoiado por Tito, que presidiu a República Socialista Federativa entre 1953 e 1980. A Independência croata veio em 1991, e junto dela, a crise, visto que o Dínamo Zagreb foi apadrinhado pelo então presidente Franjo Tudman. A história da grande rivalidade começa aí, e chegou a culminar na morte de um torcedor, no ano de 2003. Outro fator que contribui para as disputas entre as torcidas é a diferença socioeconômica entre as regiões Norte (privilegiada) e Sul (negligenciada): Zagreb é a capital, cidade mais populosa e com o maior PIB per capita. Split é a segunda cidade com maior população, mas fica somente no 15º lugar quando o ranking é referente ao PIB.
Sem vencer um título desde a temporada 2004/05, o Hajduk Split é o líder isolado do campeonato nacional, 3 pontos à frente do Rijeka, o que aumenta a esperança da Torcida. A chegada de Ivan Rakitic, em julho deste ano, foi um dos reforços na luta contra a hegemonia do maior rival – o meia já anotou 1 gol e 3 assistências em 16 jogos, além da óbvia renda gerada, por ser o primeiro clube croata do ídolo da nação, mesmo sendo suíço (Rakitic é filho de pais refugiados).
Ao lado de Gennaro Gattuso, campeão da Copa do Mundo de 2006 e ex-treinador de clubes como Milan, Napoli e Olympique de Marselha, o elenco vai buscar quebrar a sequência de vice-campeonatos e voltar a levantar a sonhada taça. Na pré-temporada, venceu seis dos oito jogos, com somente uma derrota e um empate. Apesar de alguns adversários de baixo nível, empatou com o grande Shakhtar Donetsk e bateu o Fenerbahce, treinado por José Mourinho. O Hajduk vem de 3 vitórias consecutivas, e a próxima partida será contra o Osijek, quarto colocado, enquanto o Rijeka enfrenta o Dínamo. No dia 01/12, teremos o Derby, válido pela 15ª rodada. E, na 17ª, Hajduk e Dínamo irão se enfrentar, jogo que pode determinar qual realmente será a briga do clube de Split no campeonato.