O Calciopoli: O que foi, envolvidos e punições

O Calciopoli foi um escândalo de manipulação que rebaixou a Juventus e puniu outros clubes italianos em 2006, abalando o futebol e causando mudanças no esporte.

Bruno Lobão
Por Bruno Lobão - PFQL 4 Minutos de Leitura

O atual dono da SAF do Botafogo, John Textor, tem feito uma série de acusações sobre manipulação de resultados no Campeonato Brasileiro, incluindo alguns jogos da edição de 2022 e 2023. O norte-americano sugeriu, sem provas ou dados concretos, que o Palmeiras foi beneficiado em partidas contra São Paulo e Fortaleza, e que alguns atletas “excederam limites que estabeleceriam evidências claras e convincentes da manipulação de jogos”.

No entanto, apesar das falas de Textor terem bastante impacto no futuro do futebol brasileiro, vamos usá-lo apenas como gancho para o assunto principal do texto: o Calciopoli. Um dos principais escândalos do mundo esportivo, o Calciopoli foi um grande esquema de manipulação de resultados da liga italiana que culminou no rebaixamento e na perda do título conquistado pela Juventus na temporada 2005/06, além de punições para outras equipes do país. Quer entender melhor o que aconteceu? Vem com a gente!

Origem

O termo ‘Calciopoli’ é uma junção da palavra ‘Calcio’, que significa futebol em italiano, e ‘poli’, uma referência à Operação Mani Pulite, uma investigação anticorrupção que aconteceu na Itália na década de 90. O escândalo veio à tona em maio de 2006, após o vazamento de uma série de grampos telefônicos que revelaram que Luciano Moggi, então diretor-geral da Juventus, mantinha uma relação amigável com os quadros de arbitragem do campeonato. Além dele, Antonio Giraudo, ex-diretor-executivo do Clube, também estava envolvido no caso.

Basicamente, Moggi decidia os árbitros dos jogos da Juventus e também dos outros clubes concorrentes ao título da liga, passava orientações aos juízes sobre o que fazer e o que não fazer durante as partidas, além de outras ameaças que sugeriam um favorecimento especial à equipe de Turim. As investigações tiveram início após as autoridades do futebol italiano suspeitarem de diversos erros de arbitragem favorecendo a Juve. Mais tarde, foi revelado que dirigentes de outros clubes como Milan, Lazio, Fiorentina, Reggina e Arezzo faziam parte do esquema, mas sofreram punições menores por terem um grau de envolvimento tão relevante.

As denúncias

Como dito anteriormente, as investigações tiveram origem por conta das suspeitas de erros favorecendo a Juventus. A partir daí, cerca de 5 mil cidadãos italianos, políticos, executivos e personalidades do esporte, foram grampeados de maneira ilegal como parte do início do processo. De acordo com a transcrição das ligações, foram identificadas 19 partidas do campeonato de 2004/05 suspeitas de fraude relacionadas à arbitragem.

Jogos sob investigação pela promotoria:

Reggina 2×1 Juventus (06/11/2004)
Lecce 0x1 Juventus (14/11/2004)
Juventus 2×1 Lazio (05/12/2004)
Fiorentina 1×0 Bologna (05/12/2004)
Bologna 0x1 Juventus (12/12/2004)
Juventus 2×1 Udinese (13/02/2005)
Chievo 0x1 Lazio (20/02/2005)
Lazio 2×0 Parma (27/02/2005)
Roma 1×2 Juventus (05/03/2005)
Inter de Milão 3×2 Fiorentina (20/03/2005)
Fiorentina 3×3 Juventus (09/04/2005)
Milan 1×1 Brescia (10/04/2005)
Bologna 1×2 Lazio (17/04/2005)
Siena 2×1 Milan (17/04/2005)
Milan 1×0 Chievo (20/04/2005)
Chievo 1×2 Fiorentina (08/05/ 2005)
Livorno 3×6 Siena (08/05/ 2005)
Lazio 1×1 Fiorentina (22/05/2005)
Lecce 3×3 Parma (29/05/2005)

Um estudo conduzido por Walter Distato e Leo Leonida da Universidade de Londres, juntamente com Dario Maimone e Pietro Navarra da Universidade de Messina, analisou o desempenho dos clubes na Série A de 2004/05 em relação aos árbitros investigados no escândalo de manipulação de resultados. A Juventus teve uma média de pontos por jogo mais baixa com esses árbitros do que com os não investigados. Fiorentina e Milan também mostraram uma tendência semelhante. No entanto, a Lazio foi uma exceção, com resultados melhores com os árbitros suspeitos.

Os autores destacaram que o estudo foi puramente estatístico e não provou a influência direta dos executivos sob investigação nas partidas. Eles sugeriram possíveis hipóteses, incluindo a possibilidade de um “campeonato paralelo” e também consideraram a força dos adversários enfrentados por cada equipe como um fator influente nos placares.

Posteriormente, outros 14 jogos da Série A de 2005/06 foram investigados, mas as autoridades não conseguiram nenhuma comprovação de manipulação de resultados durante esse campeonato.

Punições

No dia 4 de julho de 2006, foram anunciadas as punições para os clubes, instituições e pessoas envolvidas no escândalo. A Juventus foi a mais prejudicada, porém Milan, Lazio, Fiorentina, Reggina e Arezzo também sofreram nos tribunais. Após alguns recursos, as punições ficaram da seguinte forma:

Penas finais

Juventus: perda dos títulos de 2005 e 2006, rebaixamento para a Série B e -9 pontos em 2006/07;
Fiorentina: -30 pontos em 2005/06 e -15 em 2006/07;
Milan: -30 pontos em 2005/06 e -8 em 2006/07;
Lazio: -30 pontos em 2005/06 e -3 em 2006/07;
Reggina: -11 pontos em 2006/07 e 100 mil euros de multa;
Arezzo: -6 pontos na Série B 2006/07.

Além disso, nove dirigentes de clubes e seis dirigentes de instituições foram julgados, com penas que variaram de quatro meses até o banimento definitivo, como o caso de Moggi.

A Inter de Milão, 3ª colocada na temporada 2005/06, ficou com o troféu após as deduções de pontos de Juventus e Milan.

Consequências

Mesmo com a conquista do título mundial pela Itália em 2006, o Calciopoli trouxe consequências devastadoras para o futebol local. A liga italiana perdeu valor, credibilidade e caiu em audiência. Além disso, alguns patrocinadores importantes deixaram a liga, e as ações da Juventus, principal clube afetado pelas punições, sofreram uma queda brusca na bolsa de valores.

Com a reputação manchada e a receita menor, a Federação Italiana implementou mudanças significativas no sistema de arbitragem, com novos protocolos e medidas para garantir a imparcialidade dos árbitros. Outras instituições também foram obrigadas a reformular suas estruturas de administração e adotar medidas de governança mais rigorosas.

Quanto aos clubes, a Juventus venceu a Série B na mesma temporada e voltou a ganhar o Scudetto em 2012, iniciando uma série de nove conquistas consecutivas, encerrada pela Inter de Milão em 2021. No entanto, na época do rebaixamento, perdeu parte de suas estrelas, como Cannavaro, Ibrahimović, Emerson, Patrick Vieira e Zambrotta.

O Milan, por sua vez, venceu a Liga dos Campeões em 2006/07 e o Mundial de Clubes e a Supercopa da UEFA em 2007, antes de faturar o Scudetto em 2011. Depois, foram longos anos em crise até voltar a vencer a Serie A em 2021/22, em um campeonato emocionante.

A Lazio, mesmo sem campanhas memoráveis na liga italiana, conseguiu dar uma resposta rápida e faturar a Copa da Itália em 2008/09 e 2012/13, enquanto a Fiorentina segue sem títulos desde então.

Reggina e Arezzo, outros clubes envolvidos no escândalo, passam por fortes crises institucionais hoje em dia e vivem momentos delicados nas divisões inferiores do futebol italiano.

O Calciopoli: O que foi, envolvidos e punições

Referências: https://x.com/calciopedia

Avatar photo
Por Bruno Lobão PFQL
Seguir:
Estudante de jornalismo e apaixonado por esportes no geral.
Faça um comentário

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *