São mais de 11 mil km que separam Urussanga, em Santa Catarina até Nicósia, no Chipre, lugar de onde vem o Apoel FC. Na temporada 2011/12 o catarinense Manduca, junto de uma companhia de brasileiros, foram responsáveis por fazerem o Apoel ser uma das grandes sensações daquela UEFA Champions League, onde o time conseguiu atingir às quartas-de-final, batendo o Lyon no mata-mata.
Um time longe de ser renomado e sem estrelas, o Apoel chamava atenção por ser uma colônia de brasileiros em solo europeu. O país que é basicamente uma ilha, conseguiu fazer da sua casa (GSP Arena) um caldeirão para 23 mil pessoas e contava com o talento ‘brazuca’ de: Marcelo Oliveira e Paulo Jorge, que faziam a dupla de zaga titular, Guilherme Boaventura de lateral esquerdo, Aílton como meia e Manduca no ataque.
A campanha
O Apoel viveu de fato aquela Champions. O time estreou ainda nos play-offs de acesso e bateu os eslovacos do Slovan Bratislava e os poloneses do Wisla Krakow para a fase de grupos. Após esse feito já relevante, o time caiu em um grupo com: Zenit, Porto e Shakhtar Donetsk. Em um grupo complicado, o Apoel surpreendeu e foi o líder, com 9 pontos, batendo inclusive Zenit e Porto por 2-1 em ambos confrontos. Tal façanha foi imensa que simplesmente o Porto e o Shakhtar ficaram de fora na fase de grupos, onde o Apoel passaria junto do Zenit, na época.
Após superarem os play-offs e a fase de grupos, agora de fato o Chipre via pela 1ª vez na história um time de seu país atingir as oitavas-de-final da Champions League. Nicósia, a região do Apoel, comprou a briga e de fato abraçou o time. O adversário da vez era o Lyon, de Michel Bastos e Lacazette, além de Hugo Lloris que era o goleiro e capitão dos fraceses.
Na ida, o Lyon venceu por um magro 1-0, que permitiu que os jogadores do Apoel sonhassem com uma resposta no Chipre. Essa resposta de fato aconteceu, com gol do catarinense Manduca, aos 9 minutos de jogo. A partida foi tão tensa que ambos os times pouco finalizaram no gol – sendo 3 do Apoel e 6 do Lyon. A partida ainda caminhou para a prorrogação, onde Manduca foi expulso, mas mesmo com um homem a menos eles se seguraram para os pênaltis.
Nas penalidades, o Apoel fincou seu nome na história e conseguiu superar o Lyon por 4-3, com direito a pênalti perdido por Michel Bastos, um dos principais jogadores do Lyon na época. A classificação heroica fez de Manduca um ídolo nacional. Jamais o Chipre tinha ido tão longe no maior torneio de clubes do mundo. Apesar da façanha, as quartas de final já tinha ficado grande demais para o Apoel, quando seu adversário agora seria o Real Madrid, de Cristiano Ronaldo.
O confronto contra o Real de fato foi o fim da linha para o Apoel, não deu nem para o cheiro. Um sonoro 3-0 já no Chipre na ida e outro 5-2 no Bernabéu fez uma parcial de 8-2 para os madrilenhos e dali o Apoel não passaria. Apesar disso, o modesto time da ilha cipriota fez história, tornando-se um dos 8 melhores times da Europa na temporada.
Manduca
Para o simpático jogador que se aposentou aos 34 anos, aquela noite foi o grande momento da sua carreira profissional. Revelado pelo Grêmio em 1997, passou grande parte da sua carreira em times pequenos de Portugal, como Chaves, Marítimo e Paços Ferreira, até que em 2006/07 recebeu sua chance no Benfica. Apesar de não deslanchar em grandes times, Manduca foi ao Apoel em 2010 e por lá ficou até 2015, onde fez consideráveis 55 gols em 164 jogos no clube.
“Sabíamos que precisávamos de marcar para nos mantermos na competição e marcar nos primeiros dez minutos foi muito importante, foi um presente de Deus”, disse Manduca.
Segundo ele, um mês antes do jogo tinha operado a virilha e não tinha uma previsão de retorno tão rápida ao ponto de jogar a partida decisiva contra o Lyon. Desde então jamais o Apoel passou perto de repetir esse feito. Manduca se aposentou no próprio Apoel e nenhum time do Chipre foi tão longe na Europa. Apesar de ser um pequeno país europeu, trata-se de uma região apaixonada por futebol, onde no raking FIFA o Chipre está em 22º das 55 seleções filiadas. Suas torcidas fazem gigantes festas e acabam se destacando mundialmente até mais do que os clubes. Até os dias atuais o Chipre sonha em voltar a ser destaque em alguma competição europeia, seja com seus times ou sua seleção.