Assim como o primeiro campeonato profissional de futebol do Brasil, a origem do primeiro campeonato brasileiro também foi motivada pela disputa política de poder entre as federações do futebol brasileiro durante e após a discussão da profissionalização do futebol. Nessa thread traremos a história do Torneio dos Campeões de 1937, que foi reconhecido pela CBF como o primeiro campeonato brasileiro da história.
A HISTÓRIA
Como dito anteriormente, a história do título conquistado pelo Atlético Mineiro, em 1937 do Primeiro Campeonato Brasileiro, teve origem na década de 1920, assim como o primeiro campeonato profissional do Brasil. Pode-se resumir a criação do primeiro Campeonato Brasileiro de futebol em alguns momentos: a popularização do esporte, as disputas sociais, os debates sobre o fim do amadorismo e, por fim, o profissionalismo do futebol e suas consequências.
A POPULARIZAÇÃO DO FUTEBOL
A década de 20 marcou a alavancagem da popularidade do esporte bretão, muito por conta do antigo campeonato Sul-Americano de Futebol, que é a atual Copa América. Em 1919, o Brasil foi campeão sobre o Uruguai, era a primeira vez do povo brasileiro comemorando um grande título. Tal grandeza rodou o país devido aos jornais. O Torneio de Campeões foi um campeonato vencido pelo Paulistano em 1920, que foi considerado o campeão brasileiro da época. Esta competição também contribuiu para a popularização do futebol.
AS DISPUTAS SOCIAIS
Devido a popularização do esporte bretão, muitos empresários viram a oportunidade de promover suas indústrias utilizando o futebol e para isso criaram equipes com o nome de suas empresas. Eles utilizavam seus operários, que tinham habilidade para disputar as partidas, em troca de benefícios. Aos poucos, a ideia de profissionalismo foi ganhando força nos bastidores dos clubes, entre os jogadores, federações e confederações. Entretanto, durante muito tempo isso foi rechaçado porque ia contra a elitização do futebol, algo que era a regra para a época. O abandono ao amadorismo significava dar oportunidade a operários, negros e analfabetos de terem ascenção social.
OS DEBATES SOBRE O FIM DO AMADORISMO
Para tentar resolver isso, iniciou-se naquela década debates gigantescos e longevos sobre a profissionalização do futebol brasileiro. A importância era inegável e por isso os dirigentes não puderam ignorar, isto acabou motivando disputas políticas em clubes, federações, confederações e na própria seleção. Na verdade, o debate que acontecia no Brasil chegava ao fim em outros lugares do mundo. A própria FIFA coloca um “ponto final” nessa discussão, quando anuncia o Campeonato Mundial de Futebol de 1930, para atletas que recebiam salário. Após 3 anos de discussões, pedidos públicos de jogadores, clubes e dirigentes se posicionando a favor da profissionalização, foi que no ano de 1933 atitudes foram tomadas.
O PROFISSIONALISMO DO FUTEBOL BRASILEIRO
Vasco, Fluminense e América eram clubes filiados à AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Athleticos) e decidiram sair em conjunto e formar a Liga Carioca de Football (LCF), a primeira federação profissional do país. Pouco tempo depois, a Associação Paulista de Esportes Atléticos refez seu estatuto e tornou-se uma federação profissional, assim como a LCF. Em seguida, juntos eles criaram a FBF (Federação Brasileira de Football) confederação que fazia oposição à CBD (Confederação Brasileira de Desportos), que é a atual CBF. Enquanto parte dos clubes eram filiados à FBF e, portanto, clubes que faziam parte do profissionalismo, outros se mantiveram associados à CBD e, por isso, faziam parte do amadorismo. Essas diferenças só acabaram em 1937, quando a CBD largou de vez o amadorismo e pôs um fim a esta era. O profissionalismo era “unanimidade” no país.
CBD x FBF
Após o nascimento da FBF, aconteceu o primeiro campeonato de futebol profissional do Brasil. O Torneio Rio-SP de 33 foi considerado um sucesso e teria sequência já no ano seguinte. Contudo, a CBD atuou nos bastidores e não permitiu que isso acontecesse. O Torneio Rio-SP de 34 sequer existiu porque foi cancelado no período classificatório devido a problemas dos clubes com as federações. Esses problemas foram causados pela CBD que aliciou os principais clubes de SP, Corinthians e Palestra Italia, fazendo-os criar uma nova liga paulista que estaria sob seu comando e a favor do amadorismo.
A CRIAÇÃO DO TORNEIO DOS CAMPEÕES DE 1937
A FBF tinha sofrido um grande baque a partir de 35 por conta da perda de clubes como Palestra Italia, Corinthians e Vasco. Mesmo assim, se manteve forte devido às três edições do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais (CBSE) que eles organizaram. Como ápice de sua organização, eles criaram o Torneio dos Campeões para substituir o CBSE, pois queriam um torneio de clubes.
REGULAMENTO
6 Equipes participariam, enquanto 3 jogariam a fase preliminar que daria vaga para uma delas na fase final, outras 3 esperavam pelo seu último oponente. O campeão paulista, carioca e mineiro já estavam classificados para a fase final. O campeão capixaba, o campeão campista e a Liga da Marinha participaram de uma fase preliminar.
CONTEXTO DOS PARTICIPANTES
Liga da Marinha foi a equipe convidada, era uma equipe subordinada a Marinha do Brasil. Aliança, campeão campista de 1936. Rio Branco, campeão capixaba de 1936. Atlético MG, campeão mineiro de 1936. Fluminense, campeão carioca de 1936. Portuguesa, campeã paulista de 1936. Devido às disputas políticas da FBF e da CBD, existiam 2 campeonatos cariocas e paulistas simultaneamente. Para este torneio, foram convidados a participar os campeões da LCF e da APEA. Por causa disso, o Palestra Italia e o Vasco não puderam participar. Uma das principais críticas ao Torneio dos Campeões de 37 é a de que o campeonato teve poucos clubes e não poderia ser tratado como um torneio nacional, e que devido às disputas políticas, o principal clube da época não pôde participar (Palestra Italia, que foi campeão 5 vezes do Paulista na década de 30).
CAMPANHA DO CAMPEÃO
- Fluminense 6 x 0 Atlético MG
- Rio Branco 1 x 1 Atlético MG
- Atlético MG 5 x 0 Portuguesa
- Atlético MG 4 x 1 Fluminense
- Atlético MG 5 x 1 Rio Branco
- Portuguesa 2 x 3 Atlético MG
TABELA DA FASE FINAL
1º – Atlético MG – 9 Pontos
2º – Fluminense – 6 Pontos
3º – Rio Branco – 7 Pontos
4º – Portuguesa – 4 Pontos
ARTILHEIROS
- 9 gols – Paulista (Atlético MG)
- 7 gols – Russo (Fluminense)
- 6 gols – Hércules (Fluminense)
- 5 gols – Caxambú (Rio Branco)
- 4 gols – Romeu (Fluminense), Aurélio (Portuguesa) e Lacínio (Rio Branco).
TIME CAMPEÃO
Kafunga, Florindo, Zezé Procópio, Lola, Bala, Alcindo, Quim, Paulista, Alfredo, Guará, Nicola, Rezende e Elair. Treinados por Floriano Peixoto.
RECONHECIMENTO
Quase 9 décadas após a conquista, o Atlético MG voltou a ter o direito de declarar-se campeão brasileiro do ano de 1937, pois a CBF reconheceu aquele título como um torneio válido de campeão brasileiro.