Em clima de mata-mata da Copa do Brasil, a PFQL contará a história da criação do torneio, algumas curiosidades e relembrará o Grêmio campeão daquela edição.
Num cenário de grandes mudanças nos bastidores do futebol no final da década de 1980, como a própria Copa União de 1987, e uma bagunça nos bastidores políticos da CBF, é impossível falar em Copa do Brasil sem citar a eleição de Ricardo Teixeira para a presidência da CBF, há exatos 35 anos. O rótulo de genro de João Havelange, então presidente da FIFA, era o seu grande trunfo. Teixeira subiu ao posto em 16 de janeiro e o novo torneio teve o seu pontapé inicial em 19 de julho daquele mesmo ano de 1989.
Mas por que o Brasil demorou tanto para ter a sua Copa nacional? Atualmente pode parecer estranho pensar isso, mas em 1989, havia uma razão bem plausível para nunca ter ocorrido sua “Copa Nacional” (ao estilo da FA Cup inglesa). Alias, a comparação com a Copa da Inglaterra, torneio mais antigo ainda disputado hoje, evidentemente é desmedida. Entretanto, a Italia teve a sua Coppa em 1922 (antes mesmo do profissionalismo por lá) enquanto a Alemanha criou a sua em 1935, muito antes dos campeonatos regionais se juntarem na criação da Bundesliga atual. A resposta para a pergunta deste parágrafo, entretanto, não é tão simples.
Primeiramente, porque desde a criação da Taça Brasil, que nasceu como a máxima competição entre clubes brasileiros em 1959, todas as edições do nosso Brasileirão tiveram caráter eliminatório (pontos corridos, por aqui, só chegou no longínquo ano de 2003) ao contrário do que era comum nas ligas nacionais europeias. Chegou a ocorrer em alguns estaduais, mas que sempre mudaram muito a sua fórmula de disputa. Ou seja: não era necessário criar um torneio para ocupar um vácuo que não existia por uma ausência de ‘mata-matas’.
Pois bem, voltando a Teixeira, uma forma de agradar federações e fortalecer laços políticos na CBF era criar uma copa que daria como “prêmio” uma vaga na Libertadores da América. Com uma participação democrática de todos os estados da federação, num torneio de tiro curto com possibilidade de emergir à principal competição continental, cresceram-se os olhos de alguns entes dentro da CBF. E claro, no distante 1989, nada dos prêmios gordos em dinheiro vistos atualmente na competição, somente a vaguinha na Libertadores (o que ocorre até hoje para o campeão).
Assim, entre os meses de julho e setembro de 1989 ocorreu a então enxuta primeira edição da Copa do Brasil. Com 32 participantes (22 campeões e 10 vices estaduais de 1988), apenas os estados de Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins não estavam reapresentados (vale lembrar que Tocantins só foi criado em 1988 e outros eram Territórios Federais que foram elevados à estados com a Constituição de 1988).
Participantes que hoje estão licenciados, extintos ou que se fundiram com outros clubes marcaram essa primeira edição. Clubes como Pinheiros-PR (que se fundiu ao Colorado e criou em 1989 o Paraná Clube), Tiradentes-DF (hoje extinto) e Ibiraçu-ES(hoje licenciado), são esses casos.
Em pouco mais de um mês e meio de torneio levou o Brasil a conhecer o primeiro campeão da competição, o Grêmio de Porto Alegre, que em sua trajetória passou por Ibiraçu-ES, Mixto-MT, Bahia, Flamengo e na final encarou o Sport Recife, conquistando o título de forma invicta.
Naquele 2/9/1989, o Grêmio foi a campo com: Mazarópi, Alfinete (depois Trasante), Luís Eduardo,Edinho e Hélcio; Jandir, Lino e Assis; Cuca, Nando (depois Almir) e Paulo Egídio. Técnico: Cláudio Duarte. Assis (mais famoso por ser o irmão mais velho de Ronaldinho Gaúcho) e Cuca (hoje treinador e que se envolveu em escândalos extracampo) marcaram os gols do triunfo gaúcho por 2×1 no Olímpico, com Mazarópi (contra) descontando para os pernambucanos.
O Grêmio ainda voltaria a conquistar o torneio em mais 4 ocasiões (1994, 1997, 2001 e 2016), totalizando 5 títulos de Copa do Brasil.
E esse foi o pontapé inicial de uma competição hoje já consolidada como uma das principais do Brasil, e, sem dúvida, a que paga melhor atualmente, superando até a principal competição nacional que é o Campeonato Brasileiro.
Nostálgico!