Tudo se deu início no Campeonato Brasileiro de 1999, mais precisamente na terceira rodada da competição. A goleada do São Paulo sobre o Botafogo por 6×1, por si só, já era um resultado estrondoso, mas nada se compararia ao que viria depois.
O Botafogo entrou com um pedido de anulação da partida, por conta da escalação irregular de Sandro Hiroshi, do São Paulo, por não possuir o passe necessário para estar apto a jogar. O pedido do clube carioca foi atendido, e posteriormente, o Conselho Disciplinar retirou os três pontos do Tricolor Paulista e os entregou ao Fogão.
Mais tarde, o Internacional também entraria com o pedido de anulação pelo mesmo motivo, já que o clube gaúcho havia empatado com o São Paulo por 2×2, e Sandro Hiroshi também jogou essa partida. Mais uma vez o Conselho Disciplinar deu vitória ao clube reclamante, e entrou dois pontos ao Colorado.
Regulamento de 99
Todos esses trâmites judiciais teriam um resultado ainda mais impactante, em virtude do regulamento do campeonato daquele ano. O rebaixamento seria definido pela média de aproveitamento dos clubes nos campeonatos de 1998 e 1999, em relação ao número de jogos da primeira fase. Seria definido assim: pontos ganhos em 1998 divididos por 23, e pontos ganhos em 1999 divididos por 21. A soma da média desses dois anos seria dividida posteriormente por dois. Veja um exemplo abaixo:
((30/23) + (30/21)) /2 = 1,36
Com toda essa confusão no regulamento, ficaram definidos os rebaixados em 1999 com os resultados em campo: Botafogo-SP, Juventude, Paraná e Botafogo-RJ. Porém, com as mudanças dos resultados após as anulações das partidas, o Botafogo-RJ se safou do rebaixamento, por conta do aumento da sua média de pontuação. O Gama, que nada tinha a ver com isso, foi rebaixado no lugar.
Caos instaurado
Revoltada com o resultado dos julgamentos, a diretoria do Gama foi à Justiça Comum contra a CBF, que ficou impedida de realizar o Campeonato Brasileiro de 2000. Após essa decisão da justiça, a CBF entrou em acordo com o Clube dos 13 para a realização do campeonato, com a promessa de reconhecer o mesmo como legítimo, com as vagas para a Libertadores de 2001. O Gama entrou com pedido de reintegração à Série A de 2000, por meio do Sindicato dos Técnicos de Futebol do DF. O temor do Clube dos 13 era grande, já que havia a possibilidade de outros clubes entrarem com liminares para derrubar o regulamento do campeonato. Então, o C13 se viu obrigado a reformular completamente o formato da competição, abolindo todas as divisões existentes, e criando assim um único campeonato, dividido em 4 módulos: Azul, Amarelo, Verde e Branco.
Regulamento da Copa João Havelange
O Módulo Azul seria integrado pelos clubes da Série A de 1999 (com o Gama incluído), o Amarelo pelos clubes da Série B e os rebaixados da primeira divisão. Os módulos Verde e Branco eram compostos pelos clubes da Série C, mas com divisões regionais: o Verde com clubes do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e o Branco com clubes do Sul e Sudeste. Não haveria rebaixamento neste ano.
No Módulo Azul, os 12 primeiros se classificariam à próxima fase. No Módulo Amarelo, foram divididos dois grupos com 18 times cada, e os oito primeiros se classificariam à segunda fase, que seria em formato eliminatório.
Após os jogos, o Paraná Clube se sagrou campeão do Módulo Amarelo, que depois viria a ser reconhecido como campeão da Segunda Divisão do Brasileirão.
Já nos Módulos Verde e Branco, o campeão foi o Malutrom, depois de triunfar em cima do Uberlândia.
Fase final
Na última fase do campeonato, os 12 primeiros clubes do Módulo Azul (Cruzeiro, Sport, Fluminense, Goiás, Vasco, São Paulo, Ponte Preta, Athletico-PR, Internacional, Grêmio, Palmeiras e Bahia), se somariam aos três primeiros do Módulo Amarelo (Paraná, Remo e São Caetano) e ao Malutrom, campeão dos Módulos Verde e Branco.
Após os jogos, Vasco e São Caetano (vindo do Módulo Amarelo) se classificaram à grande final, que seria realizada em dois jogos: o de ida, no dia 27 de dezembro, e o de volta, no dia 30 de dezembro. Mas nem isso saiu como o esperado.
Final de três jogos
No primeiro jogo da grande final, empate em 1×1 no Estádio Palestra Itália, em São Paulo. Os gols foram marcados por César, do Azulão, e Romário, do Gigante da Colina.
Já o segundo jogo, que deveria ser o último daquele campeonato, desencadearia uma série de eventos históricos para o futebol brasileiro. Com o placar ainda em 0x0, aos 23 minutos do primeiro tempo, o alambrado do São Januário cedeu, causando uma acidente que deixou 150 pessoas feridas.
A partida foi remarcada para o dia 03 de janeiro de 200, com o placar final de 3×1 para o Vasco, se sangrando assim, campeão brasileiro de 2000. O principal personagem daquela final, porém, foi o então vice-presidente do clube cruzmaltino Eurico Miranda. Insatisfeito com a cobertura feita pela Globo do acidente na segunda partida, Eurico estampou a marca do SBT, principal concorrente da emissora carioca, no uniforme do clube. O detalhe era que a Globo era a única emissora que detinha os direitos de transmissão.
Um campeonato fora da curva, com personagens e fatos marcantes, e que entrou para a rica história do futebol brasileiro! 📖🇧🇷🌟