O fundo do poço: Bugre e Macaca na série C

Campinas vive uma crise no futebol: Guarani e Ponte Preta rebaixados à Série C 2025. Torcidas refletem sobre o futuro e reestruturação dos clubes.

Paulo Jorge
Por Paulo Jorge 4 Minutos de Leitura

Terceiro município mais populoso de São Paulo, Campinas contava com 1.139.047 habitantes em 2022, de acordo com o IBGE. Certamente, a cidade está mais triste nos últimos dias. Guarani e Ponte Preta foram rebaixados neste ano para a Série C de 2025, marcando um dos momentos mais trágicos da história do Derby Campineiro.

No entanto, uma crise dessa magnitude não começou agora. Há alguns anos, as equipes vêm enfrentando uma crise financeira sem fim, que inevitavelmente culminaria no rebaixamento de uma delas ou, como neste caso, de ambas. A campanha de ambas na Série B foi completamente desastrosa, resultando no rebaixamento para a Série C do Campeonato Brasileiro. O Guarani terminou como a pior equipe da competição, acumulando 21 derrotas, enquanto a Ponte Preta ficou no limite, na 17ª posição. A Série C promete ser agitada em 2025.

Guarani

O Guarani enfrentou diversas crises ao longo de sua história: nos anos 1980, entre 2010 e 2015, e agora, em 2024, em uma situação que explica boa parte de seu rebaixamento. Em março deste ano, o clube entrou em recuperação judicial, e a assembleia geral de credores aprovou um plano para reestruturar suas finanças. O plano prevê um período de 12 anos para quitação das dívidas. Contudo, para um clube de torcida regional e limitada, arcar com os pagamentos pode ser quase impossível.

Apesar de apaixonada, a torcida tem limites para contribuir financeiramente. Em setembro de 2024, o Guarani começou a pagar suas dívidas, com um desconto geral de 65%. O passivo total, antes estimado em R$ 310 milhões, foi reduzido para aproximadamente R$ 100 milhões. Apesar dessa redução significativa, a recuperação será lenta e complicada. O rebaixamento para a Série C e a consequente redução de receitas — em torno de 50% — dificultarão ainda mais a montagem do elenco para 2025.

O desempenho em campo também foi preocupante. No Campeonato Paulista, a equipe esteve perto do rebaixamento. Em 12 jogos, sofreu 6 derrotas e conquistou apenas 10 pontos, brigando para se manter na competição. Além disso, ficou de fora da Copa do Brasil, um prejuízo financeiro que fez falta ao clube.

Ponte Preta

A Ponte Preta, por outro lado, não apresentou problemas financeiros tão graves quanto os do Guarani. No entanto, a montagem do elenco para a temporada foi ineficaz. Apesar de ter desempenhado um papel razoável no Campeonato Paulista — classificando-se em segundo no grupo, atrás apenas do Palmeiras —, foi eliminada nas quartas de final em uma goleada humilhante de 5×1 contra o time alviverde. Assim como o Bugre, também ficou fora da Copa do Brasil.

Apesar de não estar em situação tão crítica, a Ponte acumula problemas financeiros e esportivos. Após ser rebaixada no Paulistão em 2022, conseguiu retornar em 2023, mas o impacto financeiro desse período foi significativo. A atual diretoria enfrentou problemas como transfer ban devido a dívidas passadas, o que prejudicou o desempenho do time dentro de campo.

O clube, no entanto, traçou um plano para pagar cerca de R$ 18 milhões em dívidas com jogadores, técnicos, intermediários e clubes ao longo de 10 anos. Embora R$ 18 milhões possa parecer pouco em comparação aos grandes clubes brasileiros, trata-se de um valor considerável para uma equipe tradicional, agora rebaixada, que perderá receitas importantes e conta com uma torcida regionalizada.

O acordo para parcelamento das dívidas foi conduzido pela advogada Talita Garcez e prevê parcelas iniciais de R$ 150 mil a partir de 20 de setembro de 2024. Esse valor, que aumentará progressivamente, será distribuído entre aproximadamente 90 credores, cujas ações datam de 2018.

Histórico

A Ponte Preta teve times inesquecíveis, principalmente nos anos 2000, quando seus esquadrões marcaram época e davam trabalho aos gigantes do futebol brasileiro. Grandes jogadores passaram pela Macaca, como Luís Fabiano, Mineiro, Ronaldão, Washington “Coração Valente”, Fábio Luciano, entre outros nomes que impunham respeito a quem enfrentava a equipe campineira.

O último ano da Ponte Preta na Série A foi em 2017, mas a equipe colecionou momentos memoráveis ao longo de sua história.

Copa do Brasil 2001

A Ponte Preta teve uma campanha histórica, chegando às semifinais daquela edição. Pelo caminho, eliminou o Castanhal, Gama, Remo e Fortaleza, mostrando sua força. A equipe só foi parada pelo Corinthians, que impediu a Macaca de disputar a final.

Copa Sul-Americana 2013

Foi a campanha mais emblemática de sua história recente, culminando com o vice-campeonato. A Ponte Preta sonhava em conquistar o primeiro grande título de sua história, e a Sul-Americana era a grande chance para isso.

Na caminhada:

Segunda fase: Eliminou o Criciúma.

Oitavas de final: Passou pelo Deportivo Pasto, da Colômbia.

Quartas de final: Surpreendeu ao eliminar o Vélez Sarsfield, um dos grandes da Argentina.

Semifinal: Mostrou sua força ao eliminar o São Paulo, rival estadual, em um confronto histórico.

Na final, no entanto, a equipe não conseguiu superar o Lanús, da Argentina, e ficou com o vice-campeonato. Mesmo assim, a campanha consolidou a Ponte como um dos times mais respeitados do futebol brasileiro naquele ano .A equipe esteve na Série C duas vezes.

O Guarani alcançou feitos históricos que o colocam acima da Ponte Preta no cenário nacional. Apesar de ter passado por momentos difíceis, incluindo seis participações na Série C, o Bugre teve a honra de conquistar o Campeonato Brasileiro de 1978, um feito inédito para uma equipe do interior paulista.

A conquista veio com uma geração vitoriosa, que contou com jogadores como Renato, Zenon, Capitão, Careca e Bozó, sob o comando do técnico Carlos Alberto Silva. Esse time marcou época e levou o título para Campinas, firmando o Guarani como um dos grandes clubes do futebol brasileiro.

Na Libertadores de 1979, o Guarani manteve o protagonismo. Classificou-se em primeiro lugar no grupo que incluía Palmeiras, Universitario e Alianza Lima, ambas as equipes do Peru. Na fase seguinte, disputou o triangular semifinal do Grupo B, mas acabou eliminado ao ficar atrás do Olimpia, que viria a ser o campeão daquela edição. Ainda assim, o Bugre terminou a competição em uma honrosa quarta colocação, destacando-se como uma força do futebol sul-americano naquele período.

Campinas vive um momento de dor e reflexão. Tanto Guarani quanto Ponte Preta precisam se reerguer, não apenas dentro de campo, mas fora dele, para garantir um futuro mais estável e, quem sabe, retomar os tempos de glória no futebol brasileiro.

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Futuro jornalista , professor de história formado pela Unisuam , pesquisador do futebol e do subúrbio Carioca . Torcedor do Gigante da Colina.
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