Depois da campanha péssima do Brasil na Copa do Mundo em 2014 e da decepção de 2018 com um time até melhor, é verdade, antes o que era uma pergunta parecia a solução: E se apostassemos em um treinador estrangeiro? Foi nessa onda que o Flamengo investiu em um treinador estrangeiro desconhecido do nosso futebol, o português Jorge Jesus. O que ninguém imaginava era que o time do Flamengo de Jorge Jesus marcaria a história do nosso futebol, pavimentando o caminho para outros treinadores estrangeiros, inclusive um ainda maior.
O Noite de Copa junto à sua equipe de redatores apresenta mais um episódio de ESQUADRÕES IMORTAIS, dessa vez vamos falar sobre o recente e ao mesmo tempo já lendário Flamengo de 2019: A gestão do Bandeira de Mello e a entrega para Rodolfo Landim, as tentativas fracassadas, as decepções, a montagem do elenco, a chegada do “Mister” e claro o 23 de novembro.
ESQUADRÕES IMORTAIS | A VIDA ME FEZ FLAMENGO (Flamengo de 2019).
A ERA EDUARDO BANDEIRA DE MELLO
Em dezembro de 2012, encerrava-se o mandato de Patrícia Amorim, primeira (e única até hoje) mulher presidente do Clube de Regatas Flamengo. Naquele mesmo ano, o Flamengo fechava seu balanço com um déficit de aproximadamente 20 milhões e uma dívida na casa dos 800 milhões de reais.
Em janeiro de 2013, assumiu Eduardo Bandeira de Mello, com a determinação de sanear as finanças do Mais Querido do País, Bandeira implantou uma política de austeridade financeira, iniciada de forma contundente. O Flamengo devolveu a principal estrela do elenco, à época, o jogador Wagner Love ao CSKA, clube russo ao qual o Flamengo o havia contratado. Só “de saída”, Bandeira de Mello diminuiu a folha salarial em 1 milhão de reais e se livrou de uma dívida de 6 milhões de Euros.
Naquele ano, o Flamengo começaria, com efeito, a dar sua “volta por cima”, nas finanças e, aparentemente, também “na bola”, já que o clube conquistou a Copa do Brasil de forma heróica. No ano seguinte, logo de cara, o título estadual, que não vinha havia 2 anos, foi conquistado, mas… parou aí. A gestão Bandeira de Mello não ficou marcada por bons resultados no campo. O time só voltaria a ser campeão, “apenas estadual”, em 2017.
O NINHO DO URUBU
Quando deixou a presidência ao final de 2018, Bandeira de Mello havia cortado a dívida pela metade, deixando-a em aproximadamente 350 milhões de reais, alongada por 20 anos e com uma receita turbinada pelo aumento nos patrocínios, melhor exploração do licenciamento de produtos e um programa de sócio torcedor que (em minha opinião, ainda hoje é rudimentar para um clube com mais de 40 milhões de torcedores).
Além de positivar as finanças do Mais Querido, colocando o clube nos TOP 20 do mundo, Eduardo investiu pesado no Centro de Treinamentos George Helal, o Ninho do Urubu, um sonho iniciado em 1984, transformando-o no maior e melhor CT da América do Sul.
(Aqui cabe um longo parêntese: Aos idiotas que irão tentar desqualificar tudo o que está escrito, evocando a morte dos 10 meninos do Ninho, cabe observar que minha opinião é a de que, sim, houve no mínimo negligência criminosa por parte do Clube e que torço para que a justiça seja feita para além da indenização das familias, ou seja, um crime exige punição criminal, quem será punido, eu não sei. Aqui, Bandeira pode ter seu grande quinhão de responsabilidade ainda que o incêndio tenho ocorrido já no início da gestão seguinte, que, diga-se de passagem, tratou muito mal do incidente. Mas eu quero dizer que: Não seja escroto (com o perdão da palavra, para os que não mereciam le-la), a morte dos meninos não é motivo para zoação.)
O CHEIRINHO
Além dos três títulos conquistados, o Flamengo obteve, entre 2013 e 2018, 3 vice-campeonatos e foi eliminado 16 vezes em competições nacionais e internacionais. Durante esse período, 14 treinadores passaram pelos vestiários do Ninho do Urubu, incluindo nomes como o de Muricy Ramalho, Mano Menezes, Oswaldo de Oliveira, Vanderley Luxemburgo, Dorival Júnior (ainda da gestão anterior) e Zé Ricardo, o mais longevo, com 15 meses no cargo.
As eliminações em fases de mata-mata da Copa Libertadores, da Copa Sul Americana e da Copa do Brasil, em semifinais do Campeonato Carioca, o 3º e o 2º lugares no Brasileirão em 2016 e 2018, além do vice na Copa Sul Americana em 2017, transformaram o antigo bordão rubro negro do “deixou chegar já era” em “ficou no cheirinho”.
RODOLFO LANDIM
ERROS E ACERTOS NA ERA LANDIM
Em 2024, Rodolfo Landim completou cinco anos na presidência do Flamengo. Desde sua posse, o Rubro-Negro viveu altos e baixos em diversos âmbitos e, um deles, é no mercado da bola. Entre erros e acertos, a gestão, que entra em seu último ano à frente do clube, contratou ídolos históricos, mas investiu pesado em grandes decepções.
A primeira contratação da Era Rodolfo Landim foi Rodrigo Caio, anunciado ainda antes de sua posse. No primeiro ano do seu mandato, uma margem de quase 100% de acerto levou o clube ao seu melhor ano em muito tempo, conquistando o hepta brasileiro e encerrando o jejum de 38 anos da Libertadores.
Do time titular que fez história há cinco anos, oito dos onze jogadores foram contratados por Landim, Marcos Braz e equipe. Em uns o Fla investiu montantes elevados, casos de Rodrigo Caio, Arrascaeta, Gerson e Gabigol (esse comprado em definitivo em 2020). Outros vieram sem custos, como Rafinha e Filipe Luís, e alguns foram verdadeiros achados, custando um valor baixo pelo tanto que renderam, casos de Pablo Marí e Bruno Henrique.
SORTE OU COMPETÊNCIA?
Ainda que tenha contratado os grandes atletas supracitados, a gestão Landim começou errando no treinador. Abel Braga, lembrando pelo vexame na Copa do Brasil de 2004 e nome histórico no Fluminense, um dos maiores rivais do Flamengo, foi o escolhido. Caiu no meio do ano após não conseguir fazer o elenco estrelado ter um desempenho à altura.
Para seu lugar, o departamento do futebol fugiu do óbvio e contratou o renomado Jorge Jesus, multicampeão em Portugal. Sob a tutela do “Mister”, o Brasil viu o melhor time a desfilar pelos gramados brasileiros neste século. Os títulos credenciaram o grande trabalho da gestão em seu primeiro ano, mas muito estaria por vir.
Com o rompimento abrupto da relação, o Flamengo teve dificuldades em encontrar substitutos. Desde Domenèc Torrent, sucessor do português, o Rubro-Negro mais errou do que acertou na escolha de treinadores. Rogério Ceni, por exemplo, conquistou o octa brasileiro e Supercopa, mas a impressão sempre de que foi fruto do forte elenco do que propriamente do seu trabalho.
Sucessivos erros com Renato Gaúcho e Paulo Sousa deram o tom de que o departamento de futebol nunca soube qual caminho seguir em suas escolhas, apostando em nomes carimbados ou estrangeiros, sempre tentando repetir o sucesso de Jorge Jesus.
Dorival, que comandava o clube na transição da gestão de Eduardo Bandeira de Mello para a de Rodolfo Landim, e preterido por Abel Braga, chegou no meio de 2022 e foi um salvador inesperado. Fez o Flamengo jogar à sua moda e conquistou Copa do Brasil e Libertadores. Novamente a diretoria não renovou seu contrato e, em 2023, viveu seu pior ano sob comando de Vitor Pereira e Jorge Sampaoli.
O português e o argentino se mostraram erros desde o início, mas a diretoria foi turrona ao mantê-los além da conta e jogou no lixo a possibilidade de fazer história no ano recém-acabado. Agora, com Tite, há a chance de que Landim e sua equipe terminem o mandato como começaram: fazendo história e conquistando títulos.
OS ERROS NAS CONTRATAÇÕES
Rico, o Flamengo de Landim parece nunca ter se encontrado no mercado da bola. Com potencial para contratar os melhores, o Rubro-Negro contratou diversos nomes que deram certo, mas muitos que deram errado.
Entre os êxitos, além dos já citados do elenco campeão em 2019, somente Pedro entregou desde sua chegada. O centroavante, porém, era seguidamente escolhido como reserva e demorou a poder mostrar todo o seu potencial, o que aconteceu somente com Dorival, dois anos e meio após sua contratação.
Outros jogadores demoraram a entregar, mas caíram nas graças, casos de Léo Pereira e Michael. Ayrton Lucas foi um grande investimento que oscilou, mas tende a ser importante para o elenco. Fabrício Bruno e Pulgar foram mais dos casos de Marí e Bruno Henrique: valores baixos, status baixo e entrega alta. Porém, ambos só o fizeram quando conseguiram boas sequências como titulares.
Mas como nessa gestão a atuação no mercado sempre pareceu mais sorte do que competência, a lista de nomes que deram errado, independente do valor investido, é extensa: Gustavo Henrique, Pedro Rocha, Thiago Maia, Bruno Viana, Isla, Kenedy, David Luiz (que foi muito bem em um recorte pequeno da sua passagem), Andreas Pereira, Pablo, Santos (mesmo caso de David Luiz), Varela e Vidal.
O grande nome da lista que demonstra uma tendência de recuperação é Everton Cebolinha. Contratado por R$ 87 milhões, custando menos apenas que Pedro e Gerson (em seu retorno), ele jamais rendeu o que se espera. Com Tite, tudo isso pode mudar. Contudo, a lista de erros da gestão também pode aumentar, incluindo o jogador ex-Grêmio, o treinador, e os ainda com asterisco nos nomes Allan, Luiz Araújo e Rossi.
COPA SUL-AMERICANA 2017: O VICE COM GOSTO DE VEXAME
Em 2018 o Flamengo dividia o protagonismo do futebol brasileiro com o Palmeiras, o clube paulista tinha recebido muita injeção de dinheiro da empresária Leila Pereira do grupo Crefisa, mas a saúde financeira do clube já se mostrava forte com Paulo Nobre, o presidente do ano do quase rebaixamento em 2014 pra esse novo momento alvi-verde. O Flamengo via na Copa Sul-Americaba daquele ano a oportunidade de garantir um título internacional e mostrar suas credenciais para essa nova rivalidade que se desenhava.
Mas o time não conseguiu vencer o Indepediente da Argentina, amargando o vice campeonato da competição.
Ainda sob efeito do clima tenso que antecedeu o jogo, as duas equipes iniciaram a partida em ritmo forte. Em desvantagem no confronto, o Flamengo começou forçando mais a partida. E nos primeiros 15 minutos teve duas grandes chances para abrir o marcador. A primeira aos 13, quando Felipe Vizeu fez um lindo lançamento para Everton, que diante do goleiro Campaña deu um chute fraco, facilitando a vida do argentino. Um minuto depois, Paquetá recebeu no lado direito da área, se livrou de Amorebieta e finalizou de pé esquerdo, porém sem direção.
O Independiente tentava anular a pressão e até chegava a assustar em alguns lances isolados. Em um deles, aos 21, Meza recebeu no lado esquerdo da área e finalizou. Só não contava que o goleiro Cesar, bem colocado, abafasse o chite e afastasse o perigo.
O caldeirão rubro-negro acabou prevalecendo e os argentinos não conseguiram evitar que, aos 30 minutos, o Flamengo abrisse o marcador. Após uma cobrança de falta de Diego na intermediária, Réver cabeceou para o meio. O argentino Domingo não conseguiu isolar e sobrou para Paquetá empurrar a bolas para as redes.
O torcedor rubro-negro ainda festejava, quando veio uma ducha fria. Aos 37 minutos, Meza entrou na área e foi derrubado por Cuéllar. O árbitro colombiano Wilmar Roldán solicitou a ajuda do VAR, o juiz de vídeo, que confirmou a penalidade. Com frieza, Barco cobrou e empatou a partida aos 40. O gol arrefeceu o ânimo do Flamengo e o primeiro tempo terminou igual.
SEGUNDO TEMPO
O time brasileiro partiu com tudo no início da etapa final. Paquetá, sempre ele, fez uma incrível jogada individual, logo aos dois minutos, quando deixou para trás três marcadores. Dentro da área, porém, o chute saiu fraco, facilitando a vida do goleiro Campaña.
A jogada de Paquetá não inspirou seus companheiros e o Flamengo acabava tendo suas jogadas ofensivas anuladas pela defesa do Independiente. Reinaldo Rueda percebeu logo a queda de rendimento e fez uma alteração aguardada pela torcida: colocou a jovem revelação Vinícius Júnior em campo, no lugar do lateral-esquerdo Trauco, aos 10 minutos. E logo na primeira jogada, ele levantou a torcida, recebendo pela esquerda e cortando para dentro da área, mas o chute saiu torto e sem perigo.
Quem deu um grande susto na sequência foi o Independiente. Aos 13, Réver errou em uma dividida com Gigliotti, que ganhou fácil na corrida de Cuéllar e teu um toque encobrindo o goleiro César. O veterano Juan esticou-se como pôde e conseguiu tirar a bola, que ia calmamente em direção ao gol.
Desarrumado taticamente e nervoso em campo, o Flamengo começava a ser envolvido pelo Independiente, que tocava bem a bola e puxava perigosos contra-ataques com Mesa e Bustos. Aos 23, Gigliotti recebeu na entrada na área, mas chutou rasteiro, facilitando a vida do goleiro Cesar.
O técnico Rueda tentou recuperar o domínio do meio-campo, colocando Éverton Ribeiro no lugar de Cuéllar, aos 33 minutos. Um minuto depois, ele fez uma ótima jogada pela direita, cruzando para uma cabeçada perigosa de Réver, que passou muito perto do gol.
Os argentinos passaram então a controlar o jogo, do jeito que eles gostam. O Flamengo tentava pressionar no ataque, abrindo espaço para os contra-ataques do Independiente. Nos acréscimos, Réver ainda perdeu um gol incrível, aos 47 minutos, com a bola indo por cima do gol. O apito final do juiz colombiano deixou o Maracanã em clima de velório, para grande festa dos argentinos.
FLAMENGO 1 x 1 INDEPEDIENTE
ENFIM, 2019. O ANO DA GLÓRIA ETERNA.
MAS ANTES… A TRAGÉDIA NO NINHO.
O incêndio iniciou-se por volta das 5h da manhã da sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019, no centro de treinamento do Flamengo, no bairro carioca de Vargem Grande. De acordo com informações do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, a central recebeu comunicação do incêndio por volta das 5h30min, quando as primeiras viaturas foram direcionadas ao local da tragédia.[8]
Logo no início da sexta-feira, 8 de fevereiro, horas após o incêndio, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel decretou luto oficial de três dias no estado em virtude da tragédia.
A PASSAGEM DE ABEL BRAGA
Isolado no comando técnico o treinador pediu demissão em maio de 2019 após cinco meses a frente do time.
Abel pediu demissão em maio daquele ano em conversa com a cúpula do clube por telefone. No entanto, sua saída foi tratada como oficial apenas depois de uma conversa com o presidente Rodolfo Landim e os jogadores no Ninho do Urubu, posteriormente, no horário do treinamento.
Abel Braga voltou ao Flamengo no início de 2019, após passagem em 2004. Naquela temporada, foram 32 partidas, 19 vitórias, oito empates e cinco derrota, 59 gols marcados e 29 sofridos. Com o treinador, o Rubro-Negro conquistou a Flórida Cup, a Taça Rio, o Campeonato Carioca, classificou às oitavas de final da Libertadores, venceu o primeiro jogo das oitavas da Copa do Brasil, Abel entregou o cargo com o Flamengo dentro do G8 no Brasileirão.
CHEGADA DE JORGE JESUS E UMA REVOLUÇÃO NO FUTEBOL BRASILEIRO JAMAIS VISTA.
A ERA JORGE JESUS: IMPACTO NO FUTEBOL BRASILEIRO
A passagem de Jesus pelo futebol brasileiro foi marcante em números e desempenho. Nos 13 meses de Flamengo, o português esteve à beira de campo em 58 partidas. O aproveitamento foi de 81,6%, o melhor do futebol brasileiro desde 2003, considerando os trabalhos com pelo menos um ano de duração.
Os títulos do Campeonato Brasileiro, com recorde de pontuação, e da Libertadores, encerrando o jejum rubro-negro de 38 anos, coroaram uma equipe que encantou pelo futebol vistoso e ofensivo. Com um ótimo elenco a disposição, o português teve mais conquistas que derrotas no país: cinco contra quatro.
O legado deixado por Jorge Jesus não interferiu somente no Flamengo, mas em todo o futebol brasileiro. Sua maneira de trabalhar era normal no velho continente e algo ainda pouco conhecido no cenário nacional. Com ele, chegou uma comissão completa e já adaptada ao seu dia a dia de treinamentos. A busca incessante pela perfeição na parte tática, prioridade na Europa, também chamou atenção.
As novidades de Jesus e sua comissão, que resultaram em títulos com um futebol dominante, abriram os olhos dos profissionais do meio — no Brasil. Após sua chegada no rubro-negro, outras equipes brasileiras passaram a expandir o leque de opções de treinadores, também procurando opções de fora da bolha do país.
A busca de técnicos com mentalidade europeia e que pudessem se adaptar ao futebol brasileiro cresceu muito. Com a mesma língua, os portugueses passaram a ser os mais procurados pelas equipes. Desde a chegada de Jorge Jesus no Flamengo, outros 18 compatriotas do treinador chegaram ao Brasil para ocupar o cargo.
São eles: Abel Ferreira, Ricardo Sá Pinto, João Martins, Antônio Oliveira, Bruno Lopes, Vitor Castanheira, Vitor Pereira, Luís Castro, Paulo Sousa, Pedro Caixinha, Armando Evangelista, Renato Paiva, Pepa, Bruno Lage, Ivo Vieira, Artur Jorge, Petit e Álvaro Pacheco.
Apesar dos portugueses terem chegado ao Brasil com uma mentalidade de trabalho europeu, muitos deles logo se depararam com a cultura imediatista do futebol nacional. Dos 19, apenas sete não foram demitidos de seus clubes, sendo que três deles se transferiram recentemente e outros dois optaram pela saída.
VEJA A LISTA:
Treinadores portugueses que não foram demitidos no Brasil:
Jorge Jesus no Flamengo 01/06/2019 – 17/07/2020.
Abel Ferreira no Palmeiras 30/10/2020 – Não saiu
Luís Castro no Botafogo 25/03/2022 – 30/06/2023
Pedro Caixinha no RB Bragantino 10/12/2022 – Não saiu
Artur Jorge no Botafogo 05/04/2024 – Não saiu
Petit no Cuiabá 01/05/2024 – Não saiu
Álvaro Pacheco no Vasco 21/05/2024 – Não saiu
Após a saída de Jesus, que aceitou a proposta do Benfica-POR, o Flamengo tentou manter a mesma linha de busca por novos treinadores. O substituto escolhido pelo clube foi o espanhol Domènec Torrent, ex-auxiliar de Guardiola. Depois dele, ainda chegaram outros dois europeus: os portugueses Paulo Souza, em 2022, e Vitor Pereira, em 2023.
Apesar da preferência por técnicos europeus, apenas os comandantes brasileiros conseguiram ser campeões pelo rubro-negro — após a passagem de Jesus. Rogério Ceni conquistou o Brasileiro de 2020, além do Carioca e Supercopa de 2021. Já Dorival Jr, levou a Libertadores e Copa do Brasil de 2022. Duas semelhanças entre eles: os dois chegaram no meio da temporada e não duraram nem um ano no cargo.
O período de Jorge Jesus no Flamengo deixou marcas no cenário nacional, que podem ser vistas até os dias atuais. Ainda existe o debate se os treinadores de fora tem trazido ou não novidades para o Brasil. Hoje ainda não há um domínio português, mas é inegável que eles tem poder de influência no atual futebol do país.
A ESTREIA DE JORGE JESUS
O Mister estreou no Flamengo em 10 de julho, com empate por 1 a 1 com o Athletico-PR, e uma semana depois já estava eliminado da primeira competição: aCopa do Brasil, contra o mesmo Furacão, em derrota nos pênaltis, no Maracanã.
Tem mais: nos primeiros cinco jogos com Jesus, o Flamengo venceu apenas uma vez: 6 a 1 no Goiás, em jogo marcado pelo brilho de Gabriel e Arrascaeta. Nos outros, empatou duas vezes com o Athletico-PR, outra com o Corinthians e perdeu para o Emelec, na abertura do mata-mata da Copa Libertadores.
‘Blitzkrieg’ ou ‘Guerra Relâmpago’ em alemão, foi uma tática usada na II Guerra Mundial pelo Marechal de Campo Heinze Guderian, a Blitzkrieg basicamente era um ataque combinado entre as Forças Armadas e unidades para-militares liderados pela Wehrmacht e a Força Aérea liderada pela Luftwaffen aonde a Força Aérea atacava o ponto especifico bombardeando e sufocando as forças adversárias até vir o Exército por terra e destruir o resto com artilharia pesada e blindados.
No dia 23 de outubro de 2019, o Flamengo fez uma ‘Blitzkrieg’ contra o até então melhor time do Brasil, o Grêmio, discurso endossado por Renato Portaluppi. O jogo válido pela volta da semifinal da Libertadores e que decidiria quem faria a final em Lima foi uma aula de futebol, todos os setores funcionaram bem, o ataque arrasador, a defesa de Pablo Marí com saída de bolas com qualidade e Rodrigo Caio seguro como xerife da zaga, se pela TV já era encantador imagina para os 70 mil torcedores sortudos que estavam no Maracanã naquela noite. Era o auge do Flamengo de Jorge Jesus, o Flamengo de Jorge Jesus amassava, era irresistível.
LIBERTADORES 2019: A CAMPANHA
Na emocionante e histórica decisão da Libertadores de 2019, que aconteceu na cidade de Lima, no Peru, na primeira final em jogo único, o Fla derrotou o River Plate, da Argentina, por 2 a 1.
O time carioca estava no grupo D do torneio ao lado de LDU, do Equador, San José, da Bolívia, e o tradicional Peñarol, do Uruguai. A primeira fase foi disputada com o técnico Abel Braga no comando rubro-negro.
A campanha na chave teve três vitórias, duas derrotas e um empate. E o time se classificou no sufoco, já que Flamengo, LDU e Peñarol terminaram empatados com 10 pontos, mas Fla, na liderança, e LDU, na segunda posição, avançaram por terem melhor saldo de gols.
Jogos do Flamengo na fase de grupos da Libertadores 2019:
1ª rodada: San José (BOL) 0 x 1 Flamengo
2ª rodada: Flamengo 3 x 1 LDU (EQU)
3ª rodada: Flamengo 0 x 1 Peñarol (URU)
4ª rodada: Flamengo 6 x 1 San José (BOL)
5ª rodada: LDU (EQU) 2 x 1 Flamengo
6ª rodada: Peñarol (URU) 0 x 0 Flamengo
Flamengo nas oitavas da Libertadores 2019:
Nas oitavas de final, o Flamengo já estava com o português Jorge Jesus no comando. E a estreia do treinador na Libertadores foi com derrota por 2 a 0 diante do Emelec, no Equador. Na volta, o time carioca devolveu o placar de 2 a 0 e venceu nos pênaltis.
Emelec (EQU) 2 x 0 Flamengo
Flamengo 2 (4) x (2) 0 Emelec (EQU)
Flamengo nas quartas da Libertadores 2019:
O adversário das quartas de final foi o Internacional, em um duelo brasileiro bastante tenso. No jogo de ida, no Maracanã, o Fla venceu por 2 a 0. Em Porto Alegre, segurou o empate por 1 a 1, garantindo vaga nas semifinais.
Flamengo 2 x 0 Internacional
Internacional 1 x 1 Flamengo
Flamengo nas semifinais da Libertadores 2019:
Na semifinal, o Flamengo teve outro adversário brasileiro e, mais uma vez, de Porto Alegre. Dessa vez o primeiro jogo do Fla foi fora de casa, ficando no empate por 1 a 1 com o Grêmio. A partida de volta foi um verdadeiro show rubro-negro, com goleada incontestável por 5 a 0.
Grêmio 1 x 1 Flamengo
Flamengo 5 x 0 Grêmio
A GLÓRIA ETERNA: A FINAL EM LIMA, NO PERU
Uma geração dura quarenta anos, isso é bíblico. Demorou quarenta anos para o povo de Moisés ver a Terra Prometida, muitos que começaram a caminhada não estavam mais quando o povo chegou na promessa.
Uma geração inteira de Flamenguistas esperava pra viver esse momento, muitos filhos ensinados a serem Flamenguistas pelos pais, já não os tinham mais presentes em vida, muitos netos ensinados pelos avós também não, muitos que tinham visto o único título continental do clube em 1981 não estavam mais vivos, há quase quarenta anos até então. Em campo, Filipe Luis, o lateral multicampeão na Europa havia recusado a Europa pra viver esse sonho, um torcedor em campo.
Na grande final, o Flamengo teve o River Plate pela frente. O jogo único na cidade de Lima, no Peru, começou com os argentinos abrindo o placar com Borré e sustentando a vantagem até o fim. Mas aos 43 e 46 minutos do segundo tempo brilhou a estrela de Gabigol, que balançou as redes e decretou o bicampeonato do Mengão na Libertadores.
Julio César, ex goleiro do clube, ídolo da Nação e presente na final nas arquibancadas do estádio desabou nos braços do influencer Fred Desimpedidos e chorou dizendo que amava o clube, tinha chegado na Gávea aos 12 anos de idade pra viver o sonho de jogar futebol. Foi uma loucura, em três minutos o Flamengo pintou a América de rubro-negro, naqueles que ficaram conhecidos como “os três minutos de fúria de Gabigol”.
Flamengo 2 x 1 River Plate (ARG).
MAIS TÍTULOS QUE DERROTAS: CHEGA AO FIM A ERA JORGA JESUS
Após cinco títulos, quatro derrotas, nove empates e 43 vitórias, Jorge Jesus deixa o comando do Flamengo. O treinador português aceitou convite do Benfica para voltar à sua terra natal. Desta forma, chega ao fim uma curta, mas intensa e histórica, além de vencedora, passagem do treinador lusitano ao time de maior torcida do Brasil. O clube oficializou a saída no início da noite desta sexta-feira, por meio de nota oficial. Jesus ganhou, entre outras coisas, o Brasileirão e a Libertadores.
Vale lembrar que o Flamengo de Jorge Jesus ganhou o Brasileiro voltando de Lima, após ganhar a Libertadores, os jogadores ainda estavam no avião quando os resultados da rodada daquele fim de semana já garantiam matematicamente o titulo antecipado. Era ritmo de festa na Gávea, o Clube de Regatas Flamengo que anos antes tinha brigado pra não ser rebaixado durante algumas edições de Brasileiro, ganhava dois titulos no mesmo dia.
Um ano antes, o Flamengo encontrava um substituto para a vaga deixada por Abel Braga. Pouco conhecido pelos torcedores rubro-negros, que, a princípio, o viram com muita desconfiança, Jorge Jesus chegou ao clube com mais dúvidas do que certezas em relação ao seu trabalho. Mas ele mudou isso rapidamente.
O português justificou sua vinda ao Brasil devido à grandeza do Flamengo. Na época, apesar de parecer um sonho distante, o treinador já projetava a possibilidade de ganhar a Libertadores e alcançar um destaque internacional através do Mundial de Clubes. Para isso, ele teria de manter o Flamengo vivo na competição continental. Quando assumiu o cargo, a equipe se encontrava nas oitavas de final do torneio. Jorge Jesus teria pela frente o Emelec, do Equador.
A primeira partida foi desastrosa. Os equatorianos venceram por 2 a 0 e a classificação seria disputada no Maracanã. Na partida de volta, no entanto, o Flamengo igualou o placar e levou a decisão para os pênaltis. Foi o início de uma arrancada incrível. Depois daquela classificação e um tombo diante do Bahia, no Campeonato Brasileiro, o Flamengo embalou. Na competição nacional, por exemplo, a equipe seria derrotada novamente apenas na última rodada, para o Santos, de Jorge Sampaoli, um dos únicos técnicos capazes de se rivalizar com o português. Nem mesmo na Libertadores o treinador voltou a sentir a dor ardida dos tropeços.
O resultado? Jorge Jesus deixou o Flamengo com mais títulos que derrotas. Ao longo de sua passagem, os rubro-negros conquistaram seis títulos e perderam quatro vezes. mas ele fez muito mais do que erguer taças. Jesus ajeitou o elenco, ganhou a confiança de todos. Recuperou Gabigol e o fez o novo Rei do Rio. Fez Arão e Gerson jogarem juntos. Transformou Bruno Hnerique num craque do time.
Além de Bahia, Emelec e Santos, a equipe carioca perdeu para o Liverpool, vencedor da Liga dos Campeões, na final do Mundial de Clubes de 2019. Dentre suas conquistas estão o Campeonato Brasileiro e a Libertadores, de 2019, a Recopa Sul-Americana, a Supercopa do Brasil, Taça Guanabara e o Campeonato Carioca de 2020, vencido nesta semana diante do Fluminense.
2019 FOI UM ANO ATIPICO? SE FOI, PRA QUEM?
Jorge Jesus deixou o clube em 2020 pra voltar ao país natal, o treinador teve uma passagem com mais momentos ruins do que bons no Benfica, mas foi na Arábia trabalhando no Al Hilal que vimos um Jorge Jesus vencedor novamente, chegando a ser cogitado na Seleção Brasileira.
Jorge Jesus a frente do Al Hilal enfileirou títulos e feitos, novamente mais títulos que derrotas, série invicta, domínio no futebol Saudita. Se depois de 2019, o técnico precisava “se provar” pra provar que 2019 não foi um ano aonde tudo deu certo, o trabalho no Al Hilal serve pra dar fim de vez a esse debate.
Mas e o Flamengo sem Jorge Jesus? Depois de Jorge Jesus o clube não teve tanto sucesso quando o assunto é treinador, o clube contratou Domenec Torrent pra suceder Jorge Jesus, o popular Dome, a passagem do treinador espanhol pode ser considerada esquecível, outros fracassos foram os portugueses Paulo Souza e Vitor Pereira, esse último já veio cercado de polêmicas direto do Corinthians, Renato Gaúcho e Rogério Ceni foram dois nomes levaram o Flamengo novamente a disputar grandes títulos, com o ex goleiro e atual treinador do Bahia, ganhando o Brasileiro de 2020 atrasado para 2021 por causa da Pandemia de Covid-19.
Mas foi com Dorival Junior, que o time rubro-negro voltou a vencer uma Libertadores após 2019, foi em 2022 contra o Athletico Paranaense, na final de Guaiaquil, no Equador, além do mais, Dorival também conduziu o time ao titulo da Copa do Brasil naquela temporada.
O FLAMENGO DE 2019 E O SEU LEGADO PARA O FUTEBOL BRASILEIRO
Taticamente falando, como já citado antes a tática de sufocar o adversário até o mesmo perder o controle do jogo assim possibilitando o placar ser construído, o Flamengo de Jorge Jesus fez muito isso, as linhas subiam muito no 4 3 3 com o inicio de jogada não partindo do Volante mas sim da dupla de zagueiros, geralmente Pablo Marí e Rodrigo Caio, aquele time também pressionava muito quando perdia a bola numa intensidade muito grande. Depois de 2019 o sistema ofensivo aumentou muito no nosso futebol.
Mas, talvez a maior mudança tenha sido na maneira que o futebol brasileiro vê o treinador estrangeiro, fomos condicionados a acreditar que o futebol brasileiro é o melhor em tudo, nunca tivemos sequer um treinador estrangeiro na Seleção Brasileira Masculina. Jorge Jesus veio e mudou tudo, já tivemos edições de Brasileiro com até 10 treinadores estrangeiros vindo da Europa ou com origem de lá pós 2019 e a maior prova desse legado é Abel Ferreira, multicampeão no Palmeiras que assim como Jorge Jesus chegou desacreditado na Academia de Futebol, mas que hoje já se fala dele como o maior treinador da história do Palmeiras.
“(…) Mas o que se fez em Portugal pra formar uma geração de treinadores que ganhou 75 títulos em 30 países no séc. XXI. Portugal foi pra escola. Ai o Jorge Jesus vai dizer assim ‘Futebol não se ensina na escola’, claro que não. Você aprende na prática mas se você trouxer da Academia um conhecimento teórico pra aplicar na prática você vai ter uma junção de conhecimentos teóricos e práticos, que deram certo em Portugal (…).”
– Paulo Vinicius Coelho, explicando o sucesso da escola de treinadores em Portugal.