O milagre de Marrocos

Marrocos surpreendeu a favorita Espanha nos pênaltis na Copa do Mundo, com o goleiro Bounou como herói, em uma vitória histórica para o povo marroquino.

Paulo Jorge
Por Paulo Jorge 2 Minutos de Leitura

O que significa uma vitória para um favorito? Seria apenas mais uma comemoração sem muita emoção, pois o ritmo de conquistas é constante, tornando-se quase uma rotina vencer e raramente ser derrotado.

A Espanha demonstra um futebol capaz de provocar inveja até nas seleções mais tradicionais. Campeã do Mundo em 2010 e bicampeã europeia em 2008 e 2012, de forma incontestável, conta com uma liga poderosa, onde Barcelona e Real Madrid dominam, e Atlético de Madrid e Sevilla correm por fora.

Marrocos, por sua vez, é uma seleção africana com um título continental de importância, conquistado em 1976: a Copa Africana de Nações. Apesar de ser uma das grandes seleções do continente, ainda tinha muito a provar em nível mundial, participando de poucas Copas do Mundo e sem grandes feitos históricos.

Quem poderia duvidar que a Espanha atropelaria Marrocos? Até aquele dia, os confrontos entre as duas seleções registravam duas vitórias espanholas e um empate – justamente na Copa de 2018. A Fúria era franca favorita.

Mas o time de Hakimi (PSG) estava pronto para escrever sua história nas Copas do Mundo. E essa vitória passou diretamente pelas mãos do grande herói da noite: o goleiro Bounou, do Sevilla. Yassine Bounou, de 31 anos, construiu quase toda a sua carreira na Espanha e conhecia bem boa parte dos jogadores espanhóis.

O jogo foi um verdadeiro duelo entre um ataque poderoso e um ferrolho defensivo posto à prova. A Espanha apresentou sua arma mais forte, o velho e bom “tiki-taka”. Trocou mais de mil passes, dominou as ações, mas finalizou ao gol apenas duas vezes. Será que a Espanha gastou todos os seus gols contra a Costa Rica?

“Fiel ao seu estilo de jogo, a Espanha teve 63% de posse de bola e trocou 755 passes ao longo do tempo normal, sendo 707 concluídos. Se considerar a prorrogação, foram 1.050 passes, com 975 certos. Mas teve apenas duas finalizações certas ao longo da partida (14 no total).” – G1

Mas nada disso foi capaz de destruir a estratégia marroquina. Marrocos atacou mais e foi mais perigoso. Com apenas 20% de posse de bola e 331 passes trocados (235 concluídos), finalizou seis vezes ao gol, acertando a meta em três ocasiões.

O jogo foi para os pênaltis e, então, o milagre – ou a zebra – aconteceu. Mas o futebol vai além de um simples esporte. No apito final, após a última cobrança, 40 milhões de marroquinos festejaram como se fosse a conquista de todo um povo. Um povo que, ao longo da história, sofreu nas mãos dos europeus e que viu essa vitória como mais do que um feito futebolístico – foi uma resposta histórica.

Talvez a seleção marroquina nunca mais conquiste algo de grande expressão. Talvez nunca mais volte ou demore a retornar a uma Copa do Mundo. Mas seu nome já está gravado nas páginas da história dos Mundiais. O dia em que a poderosa esquadra espanhola caiu diante dos árabes marroquinos, que carregavam consigo a esperança de 40 milhões de pessoas.

OS HERÓIS : Bounou; Hakimi, Aguerd (El Yamiq), Saiss e Mazraoui (Attiat-Allah); Ounahi (Benoun), Amrabat e Amallah (Sabiri); Ziyech, Boufal (Ezzalzouli) e Nesyri (Cheddira). Técnico: Walid Regragui.

O milagre de Marrocos
Seguir:
Futuro jornalista , professor de história formado pela Unisuam , pesquisador do futebol e do subúrbio Carioca . Torcedor do Gigante da Colina.
Faça um comentário

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *