Como pode, a medicina esportiva vem numa crescente evolução nas últimas décadas e mesmo assim jogadores encerram suas carreiras pelos mesmos problemas de sempre: O joelho. Infelizmente, podemos perder mais um grande jogador da nossa geração por esse motivo, o espanhol e ex-Barcelona, Gerard Deulofeu.
Incompreendido por muitos, potencializado por poucos, Deulofeu nasceu para o futebol como um ponta esquerda típico dessa nova fase do futebol, um jogador de estatura média, com alto poder de criação, alto repertório de dribles e muita intensidade, além do mais importante, jogar com o pé trocado. Toda essa gama de características o fizeram ser um completo incompreendido. Não era difícil olhar para o campo e perceber que Deulofeu se sentia apático jogando como um ponta pregado gerando amplitude. O seu DNA de jogador espanhol não é esse, Deulofeu é a mais próxima reencarnação de David Villa que essa geração espanhola teve e, mesmo assim, foi um incompreendido.
Nos últimos 10 anos de carreira sempre jogou aberto pelas pontas. Barcelona, Milan, Sevilla, Watford, Everton… Todos esses clubes usaram Deulofeu como o manual manda, mas esqueceram de um pequeno detalhe: Gerard Deulofeu não era um brinquedo onde o dono é quem manda. Por mais destaque que o espanhol teve jogando como ponta, ali não era seu habitat natural, uma vez que Deulofeu aparece como um 10 nas categorias de base ainda no alto de seus 13 anos. É difícil entender como isso acontece com tanta frequência e naturalidade nos dias de hoje, talvez o vício em quebrar paradigmas do futebol noventista como jogar a risco mínimo, ter menos jogadores próximos a bola e, acima de tudo, a autovangloriação de quem está fora de campo, fazem jogadores como Deulofeu serem apenas manobras do ego alheio.
Deulofeu vivia um momento único em sua carreira. Coincidentemente ou não, no futebol onde nunca precisou de pontas pregados para se ganhar, foi onde Gerard Deulofeu se encontrou e, de fato, voltou a ser quem ele era. Em Udine, jogando pela Udinese, Deulofeu teve um papel fundamental jogando em dupla de ataque jogando como um segundo atacante ao ao lado de centroavantões. A beleza de um refino técnico em contraponto a jogadores desprovidos de talento, mas com poder de finalização bizarro, é inexplicável, todo fã de NBA deve lembrar da saudosa década de 90 com duplas memoráveis como Kobe e Shaq, Karl Malone e John Stockton, assim foi Deulofeu na Itália jogando ao lado de vários imensos. Beto, por exemplo, foi um desses grandalhões que Deulofeu fez a carreira. Depois de uma temporada jogando juntos, o português de 1,94 de altura foi vendido ao Everton da Inglaterra por 25 milhões de euros, se tornando a maior venda da história do clube. Assim, mesmo sem títulos, Deulofeu virou um grande jogador da história recente da Udinese se tornando um talismã dos “bianconeri”.
Depois de 3 temporadas, 68 jogos, 18 gols e 14 assistências, Deulofeu se despede da Udinese aos prantos e sem poder fazer o que mais ama, jogar futebol. Deulofeu encerra seu vínculo com a equipe italiana após dois anos sem jogar por conta de complicações em uma cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior. Infelizmente o futebol traz à tona esse tipo de história. No momento mais único da carreira de um jogador tão especial, tudo vai por água abaixo. Ainda sem saber se poderá voltar a jogar futebol, Deulofeu se afasta do esporte com apenas 30 anos e uma história que poderia ser muito mais do que foi. No mais, torcemos para um milagre de quem sabe Gerard Deulofeu se recuperar e voltar a praticar seu futebol único.
Para nós, amantes da Noite e das ruas, Gerard Deulofeu e seus tantos lances mágicos nunca serão esquecidos.
