Com a Copa São Paulo de Futebol Júnior, mais conhecida como Copinha, é inevitável relembrar alguns dos promissores atletas nas categorias de base que acabaram não vingando no profissional.
Reinier
Reinier chegou no Real Madrid em janeiro de 2020, comprado do Flamengo por 30 milhões de euros. Foi incorporado ao Castilla (time B do gigante mundial) e emprestado após um período. Passou por Borussia Dortmund, Girona e Frosinone – onde teve bom início, mas se lesionou, e perdeu a regularidade. Pelo clube italiano, foram 23 partidas, 3 gols e 2 assistências. Carlo Ancelotti teria recomendado ao brasileiro que “procurasse uma equipe para demonstrar qualidade”. Hoje, Reinier está no Granada, que disputa a 2ª divisão de La Liga. Ele ficará no clube até o final da temporada e, segundo o jornal espanhol As, o Real Madrid irá avaliar propostas de compra, para recuperar parte do valor “perdido” com a compra do atacante.

Diego e Diogo
No começo dos anos 2000, os gêmeos Diego e Diogo encantaram o torcedor colorado, que não conhecia a felicidade há algum tempo (o último título relevante conquistado pelo clube era a Copa do Brasil de 1992). Diego já citou o time do Inter de 2003 como o “mais forte em que trabalhou” – treinado por Muricy Ramalho, contava com promessas como Nilmar e Daniel Carvalho, cujas vendas para o Lyon e CSKA, respectivamente, permitiram maiores investimentos ao clube, levando aos títulos da Libertadores e Mundial em 2006 (dos quais os irmãos não fizeram parte, pois estavam emprestados).
Diego era atacante e manteve vínculo com o Inter até 2007. Passou por Santos, Figueirense, Sport, Marília, China, Portugal, Chipre, Tailândia e times menores do Distrito Federal. Chegou a assinar com o Grêmio Bagé, mas a pandemia do coronavírus atrapalhou seus planos. Já Diogo era meia, e atuou por Caxias, Botafogo-SP, Bonsucesso, Novo Hamburgo, Sport, ABC, Icasa, São Paulo-RS e Esportivo. A expectativa criada por títulos na base e convocações para a seleção de categorias inferiores nunca foi correspondida, e ambos penduraram as chuteiras em 2020. Hoje, Diego é treinador do Sub-13 e Diogo, do Sub-14.

Adryan
Joia do Flamengo, estreou no profissional aos 16 anos e era chamado de “Novo Zico”. Ficou no clube carioca de 2011 a 2014 e foi emprestado ao Cagliari, Leeds e Nantes. Em entrevista cedida à UOL, afirmou: “Estou realizado com o Flamengo, mas gostaria de ter proporcionado mais, alcançado as expectativas das pessoas. Fico triste, mas ao mesmo tempo feliz de poder ter feito parte desse clube, poder ter sido campeão, mas eu sempre tenho gosto de que podia e gostaria de ter feito mais.”. Ainda segundo ele, muitos afirmam que, caso fosse lançado hoje, as coisas seriam diferentes: “Hoje tem que ganhar Brasileiro, Libertadores. Na minha época brigava às vezes para não cair, ficava no meio de tabela, de vez em quando, raramente, beliscava a Libertadores. Muita gente me fala que se estivesse no time do Flamengo hoje seria outra história. Dá dor no coração falar isso, mas foi o que eu pude viver naquela época. Dei meu melhor sempre”. Adryan foi de graça para o Sion, da Suíça, onde jogou de 2017 a 2019, após a falta de acordo entre Flamengo e Nantes. Ainda passou por Kayserispor-TUR, Avaí, Brescia-ITA, ABC e Portuguesa-RJ, onde está hoje.

Fabrício Oya
Reprovado em duas peneiras, foi escolhido pelo Corinthians na terceira tentativa, aos 11 anos. Protagonista na base, jogava no sub-20 aos 16 anos. Em 2019, alcançou o sonho de integrar o elenco profissional, sob comando de Fábio Carille. Mas a transição da base para o profissional frustrou suas expectativas: “É a parte mais difícil. É totalmente diferente o estilo, a velocidade do jogo. Acho que faltou paciência por parte do clube e de minha parte também. O Brasil é muito imediatista. O menino aparece com 17, 18 anos e as pessoas já querem que ele entre e resolva um jogo contra atletas de 30, com dez anos de experiência”. Do XI titular corinthiano campeão da Copinha em 2017, só Pedrinho teve destaque na equipe principal. Fabrício teve passagens por São Bento, Oeste, Caxias, Azuriz, Primavera e Torpedo Zhodino, equipe da Bielorrússia.

Jean Pyerre
Jean Pyerre sempre chamou atenção nos bastidores do Grêmio. Diferenciado com a bola no pé, muitos viam ele como um 10 clássico, que poderia inclusive chegar à Seleção Brasileira. Mas a relação com o clube e a torcida foi se tornando conturbada, com cobranças cada vez mais constantes… Jean viveu seu melhor momento em 2019, mas passou por lesão muscular séria; em 2020, variava entre titular e reserva, enquanto enfrentava dificuldades pessoais (o pai do meia passou um longo período internado com coronavírus); em 2021, Felipão e Mancini afirmavam que tentariam recuperar o jogador, que passou a ficar fora de algumas listas de relacionados; em meados de 2022, foi emprestado ao Giresunspor, da Turquia, onde descobriu um câncer nos testículos. Retirou o tumor e voltou a jogar, desta vez pelo Avaí, porém anunciou a aposentadoria ao não retomar o bom futebol. Retornou aos gramados em 2023, e foi contratado pelo Ituano. Ao longo de seis meses, atuou em apenas 7 partidas, que totalizaram 188 minutos. Foi então emprestado ao Ypiranga de Erechim, mas não deve atuar no Gauchão 2025 – ainda não foi inscrito no BID, e entrou com um processo com o Sindicato dos Atletas Profissionais do Rio Grande do Sul (Siapergs) para rescindir com o Ituano, por falta de pagamento de salários.

Kerlon “Foquinha”
Grande promessa do Cruzeiro na década de 2000, Kerlon “Foquinha” tem este apelido pelo drible que se tornou sua marca registrada – conduzia a bola dando cabeçadas em direção ao gol. Brilhou com a Seleção Brasileira no Sul-Americano Sub-17 em 2005 e chegou a ser contratado pela Inter de Milão, em 2008, porém nunca estreou. Foi emprestado ao Chievo-ITA e Ajax, onde também recebeu poucas oportunidades, e passou a rodar por diversos clubes, no Brasil, Japão, Barbados, EUA, Malta e Eslováquia, onde encerrou a carreira, em 2017, aos 29 anos. Seis cirurgias nos joelhos e duas nos tornozelos prejudicaram Kerlon, que, depois de se aposentar, chegou a afirmar: “Eu gradualmente perdi meu amor pelo futebol. Após cada cirurgia, eu levava de seis a sete meses para me recuperar. Quando eu voltava, era difícil de acompanhar, fisicamente. Então, eu me machucava de novo. Eu olhava para os outros jogadores e eles corriam para cima e para baixo constantemente. Eu tentava acompanhar, mas algum músculo estourava e eu ficava fora por mais três semanas”. Hoje, mora com a família em Hemby Bridge, cidade de 1.711 habitantes na Carolina do Norte (EUA), onde dá aulas particulares e trabalha como diretor técnico de uma escolinha de futebol.

Muito bom o texto, importante para que os meninos possam ter um “choque” de realidade, pois nem sempre, se consegue vencer nessa profissão. Também pensar se tantas lesões não podem ser resultado dos meninos iniciarem tão cedo no futebol.