Houve um triste incidente que mudou, talvez para sempre, a história do São Paulo e de Rogério Ceni: A morte trágica do goleiro Alexandre, em 1992. A PFQL conta um pouco mais dessa história…
Alexandre Escobar Ferreira nasceu no dia 2 de janeiro de 1972, em Sorocaba. Com o sonho de ser jogador de futebol, começou como goleiro nas escolinhas do Grêmio Esportivo Sorocabano, em 1984. Alexandre também demonstrava habilidade com os pés, e nos fins de semana atuava como meia-esquerda do Paulista na várzea.
Em 1986, jogou um torneio em Porto Alegre, pelo São Bento de Sorocaba, na categoria infantil. Após isso retornou ao interior paulista, e voltou a atuar pelo Grêmio Esportivo Sorocabano. Seu primeiro técnico, Antônio Carlos Gisoldi, o indicou ao jogador Paraná (ex-ponta-esquerda do São Paulo e da Seleção Brasileira de 1966), que ajeitou um teste para o goleiro no São Paulo, onde foi aceito nas categorias de base.
Em 1992, foi titular no vice-campeonato da Copa SP de Juniores, e tinha Rogério Ceni como seu reserva. No início, Alexandre era treinado por Cilinho, mas foi Telê Santana que identificou habilidades diferentes do goleiro, e o incentivou a cobrar faltas.
Como goleiro reserva de Zetti, a grande oportunidade de Alexandre surgiu ainda em 92. Nas oitavas de final da Libertadores, no jogo contra o Nacional, do Uruguai, Zetti foi expulso e o reserva teve que entrar em cena. Alexandre segurou a vitória do tricolor por 1 a 0, com um jogador a menos, em pleno estádio Centenário. Na partida de volta, Alexandre foi titular na vitória por 2 a 0 no Morumbi, que garantiu a classificação para as quartas.

No dia 17 de julho de 1992, uma sexta-feira, Alexandre comprou um carro, um Kadett branco. O pai do goleiro, João Batista, não concordava com a compra e achava que o filho deveria guardar o dinheiro, mas Alexandre comprou mesmo assim.
Ainda naquela sexta, o jogador e alguns colegas de time que estavam de folga decidiram organizar um churrasco em um sítio em São Roque, em São Paulo. Depois de algumas horas no local, Alexandre decidiu voltar para a capital, mesmo com os amigos dizendo que não deveria. Como queria fazer uma surpresa para sua família, ele voltou mesmo assim.
Foi então que, no dia 18 de julho de 1992, por volta de 6h30, Alexandre perdeu o controle de seu Kadett no Km 13,5 da Rodovia Castelo Branco, e bateu em uma mureta de proteção. O goleiro foi levado ao Hospital Universitário, mas não resistiu. Seu corpo foi velado no CT do São Paulo. O jogador tinha apenas 20 anos.
A mãe de Alexandre, Marilene, diz acreditar que o filho teria cochilado ao volante, e por isso batido. Nenhum vestígio de bebida alcoólica foi encontrado, o que descartaria a tese de embriaguez ao volante.
O ex-jogador do São Paulo, Sidnei Lobo, estava em outro carro atrás de Alexandre, e diz que a visibilidade da estrada estava comprometida naquele dia, com muito nevoeiro na pista. Segundo os bombeiros que atenderam ao acidente, Alexandre puxou o volante com o braço esquerdo, por ser canhoto, e acertou a mureta de proteção.
No bolso de Alexandre foi encontrado um anel, com o qual ele faria o pedido de noivado à sua namorada na época, Ana Maria Barboza Lopes. Segundo a mãe, o jogador faria o pedido no dia 21 de julho daquele ano, após a partida entre São Paulo e Ituano, pelo Campeonato Paulista.

Como reserva de Zetti, seria Alexandre a assumir o posto de titular. Na época do acidente, Zetti estaria supostamente sendo negociado com um clube na Alemanha, segundo o ex-jogador Paraná. Com a morte precoce de Alexandre, a transferência foi interrompida.
“O Zetti ia mudar para um time da Alemanha, não me recordo o nome, em 92. Estava tudo certo. O Alexandre seria titular, e depois ele seria campeão mundial. Mas aí aconteceu aquilo… Se não fosse aquele acidente, talvez ninguém soubesse quem é Rogério Ceni, o Alexandre era muito melhor que ele. Mas não era só no gol que ele era bom, não. Ele era muito bom com os pés. Esse negócio de bater faltas que o Rogério faz, o Alexandre já fazia. O Alexandre jogava como meia também, e jogava bem. Melhor que muito meia que está jogando em alguns times aí (risos). Teve uma vez na base que um meia tinha machucado e escalaram o Alexandre. O Rogério jogou no gol e o Alexandre na linha. Ele fez até gol. O Alexandre era bom em tudo, principalmente no gol.”, Paraná, em entrevista para o GE publicada em 15/06/2012.
Rogério Ceni também já falou sobre Alexandre. Em seu livro, “Maioridade Penal – 18 anos de histórias inéditas da marca da cal”, Ceni escreveu: “Alexandre era muito melhor do que eu. Velocidade incrível de movimentos, excelente chute, bonito de ver jogar. Telê Santana adorava! (…) Minha carreira, com certeza, seria completamente diferente caso Alexandre não tivesse partido. Ele era apenas um ano mais velho do que eu. Ocuparia a sua posição por muito tempo. Quem sabe até hoje.”.