No futebol feminino, podemos dizer que sim! Pois é justamente lá em Brisbane, sede dos futuros Jogos Olímpicos de 2032, que a seleção brasileira realizou nesta quinta-feira, 28 de novembro, o primeiro de dois amistosos com a seleção australiana, no encerramento da temporada de 2024.
O ano foi vitorioso para a seleção coordenada por Arthur Elias, ex-técnico do Corinthians, clube mais vitorioso da modalidade no Brasil. A surpreendente medalha de prata olímpica em Tóquio 2024, associada à definição da realização da próxima Copa do Mundo, em 2027, no Brasil, trouxe novo alento para que o futebol feminino se legitime no país.
A Austrália é um difícil adversário para o Brasil no futebol feminino. Em dezessete confrontos até o momento, temos 9 vitórias australianas, 5 empates e 3 vitórias brasileiras, já contando com o jogo de hoje, quando as brasileiras, em fase de testes e renovação, conseguiram uma bela vitória por 3×1, sob o olhar de mais de 40.000 espectadores.
Sim, o futebol feminino na Austrália é mais popular que o masculino, e está consolidado. A última Copa do Mundo, em 2023, vencida pela Espanha e realizada na Austrália, levou 1.978.274 torcedores aos estádios.
Apesar do preconceito e de haver vozes dissonantes, realizar a futura Copa do Mundo, em 2027, será mais um passo para consolidar a prática desportiva feminina no esporte mais popular do Brasil.
O JOGO DE HOJE
No jogo desta quinta-feira, a seleção brasileira, renovada, trouxe excelentes revelações, a começar pelas autoras dos gols – Amanda Gutierres, jogadora do Palmeiras, campeã paulista e estreante na seleção, com dois golaços no início do jogo, e Gio, que atua no Arsenal da Inglaterra.
Porém, o destaque não foi apenas das individualidades. É fácil notar que Arthur Elias traz para a seleção brasileira um conjunto de recursos e talentos que resgatam a legitimidade do futebol brasileiro, associado à velocidade e á realização de jogadas ensaiadas, com ocupação dos espaços do campo e forte combatividade.
Fica evidente que o futebol feminino brasileiro não veio para brincar nesse ciclo da Copa.
PERSPECTIVAS DO ESPORTE NO BRASIL
Por outro lado, há fragilidades que precisam ser registradas: afora o preconceito que ainda persiste contra as jogadoras, o empreendimento esportivo do futebol de mulheres ainda não é levado a sério por muitos clubes no Brasil, que não investem o mínimo para montar equipes realmente competitivas no cenário nacional. Isso sem falar que persistem agremiações semiprofissionais, que inclusive não honram direitos trabalhistas básicos, como salários e assistência médica. Muitas vezes, a porta mais fácil é a dos vistos nos passaportes para performar em clubes no exterior, em busca de remunerações mais dignas.
Outro fator de enfraquecimento, em particular na América do Sul, é que a própria Conmebol não investe recursos mínimos nas competições que organiza: a Taça Libertadores feminina, por exemplo, teve sua última edição em 2024, no Paraguai, e foi vencida pelo Corinthians, mas abundaram denúncias sobre instalações precárias nos estádios, falta de divulgação, desleixo com hospedagem, transporte e alimentação para os participantes. E mais, podemos afirmar que hoje, em nível de competição internacional, apenas o Brasil e a Colômbia têm projetos estruturados, com Equador e Argentina desenvolvendo projetos mais modestos. Já nos demais países o que se verifica é voluntarismo e improvisação. Falta estímulo.
O QUE TEMOS A SEGUIR?
No campo da seleção brasileira, a temporada se encerra com mais um amistoso contra as australianas. Na condição de país-sede, o Brasil já está pré-classificado para a Copa do Mundo 2027, e o próximo desafio oficial será a Copa América, em 2025, no Equador, que classificará para os Jogos Olímpicos de 2028, em Los Angeles.