O Crescimento do Futebol Árabe: A Nova Ameaça à Hegemonia Europeia

Resumo: Com grandes investimentos, o futebol árabe se tornou uma força no esporte global, atraindo estrelas e ameaçando a liderança europeia.

Noite de Copa
Por Noite de Copa 4 Minutos de Leitura

No futebol, a Europa é referência. Os maiores campeonatos, melhores jogadores e maiores contratos de transmissão estão no Velho Continente. Esse cenário seria muito difícil de ser mudado. Mas nos últimos anos, uma grande “ameaça” à UEFA ganhou muita força (e dinheiro): o futebol árabe. Mas, quando e porque o esporte começou a ganhar notoriedade no Oriente Médio?

Primeiro indícios

A primeira grande movimentação árabe no futebol foi em solo europeu. Em 2008, o Abu Dhabi United Group comprou o Manchester City, que viria a se tornar uma potência mundial anos depois. Vale lembrar que, antes da compra, o City era um time de “meio de tabela”, com vários rebaixamentos (inclusive para a terceira divisão) em sua história.

Anos depois, em 2013, o grupo de investimentos árabe fundou o City Group, um conglomerado de clubes geridos pela empresa ao redor do mundo. Dentre os clubes, estão o Bahia, Girona-ESP, Troyes-FRA, Bolívar-BOL, New York City-EUA, entre outros.

Em 2011, foi a vez de um grupo de investimentos catari adquirir um clube europeu. O Qatar Sports Investment (QSI) comprou o Paris Saint-Germain. O clube francês também viria a se tornar um clube de grande destaque na Europa, embora ainda lhe falte o principal objetivo, que é ser campeão europeu.

A última grande movimentação árabe na Europa foi a compra do Newcastle, este adquirido pelo Fundo Estatal da Árábia Saudita, em 2021. O clube já figura entre os principais elencos da Inglaterra, e recentemente conseguiu voltar à Champions League após décadas fora da competição.

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Nasser Al Khelaifi, presidente do PSG, e Neymar (2017) – Foto: Lionel Bonaventure

Copa 2022 e projetos no futebol

A Copa do Mundo de 2022 no Catar confirmou de vez um novo pólo do futebol. Afinal, nunca uma Copa tinha sido sediada no Oriente Médio. A infraestrutura do torneio foi a mais luxuosa e cara da história, com estádios tecnológicos e logísticas eficientes para driblar o calor da região. Além disso, o número total de público foi o terceiro melhor da história, com mais de 3,4 milhões de espectadores.

Após a Copa, o país anunciou que pretende adquirir mais um clube europeu, e na época, rumores apontavam que o Liverpool estava no radar, mas nada aconteceu desde então. Muito se pergunta o que aconteceu com os estádios lá construídos, e muitos tiveram destinos diferentes: shoppings, museus, áreas de lazer, e outros foram até desmontados, incluindo o Lusail, estádio usado na final. Alguns estádios vêm sendo utilizados por times cataris, como é o caso do Estádio Al Janoub, usado pelo clube Al-Wakrah.

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Estádio Lusail – Reprodução: ArchDaily

Liga Saudita reformulada

A partir da janela de verão da temporada 22/23. vimos algo incomum acontecer no mercado do futebol. Muitos jogadores, inclusive destaques em seus times, começaram a migrar para a Liga Saudita. Foi o caso de Cristiano Ronaldo, que desembarcou na Arábia Saudita em dezembro de 2022, para defender o Al Nassr, um dos principais clubes do país.

Após a chegada de CR7, diversos outros jogadores foram desbravar o futebol no Oriente Médio. Mas, por que isso agora?

Acontece que, nessa mesma temporada, o Governo Saudita decidiu estatizar os quatro principais clubes do país. São eles: Al Nassr, Al Hilal, Al Ahly e Al Ittihad. Isso fez com que os quatro clubes se tornassem potências e extremamente poderosos financeiramente. Após isso, jogadores como Sadio Mané (Bayern), Brozovic (Inter), Koulibaly (Napoli), Benzema (Real Madrid), Roberto Firmino (Liverpool) e Neymar (PSG), por exemplo, deixaram seus clubes na Europa.

Depois da debandada de jogadores badalados, outros, nem tanto assim, também foram atraídos para a Arábia, ingressando em clubes menores, mas acrescentando muito na qualidade da liga. De uma temporada para a outra, a Liga Saudita cresceu em nível técnico e valor de mercado, atraindo patrocinadores e transmissões para seus jogos. E era exatamente isso que o Governo buscava.

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Cristiano Ronaldo em sua apresentação no Al Nassr. – Foto: AFP

Motivação saudita

Como é de conhecimento geral, a Arábia Saudita, assim como a maioria dos países da região, não costumam ser bem receptivos às minorias e outras culturas. Sendo assim, é comum a incidência de crimes de ódio em relação à religião, sexualidade e direitos das mulheres. Além disso, membros da família real saudita já estiveram envolvidos, por exemplo, em assassinatos a jornalistas, além de outros acontecimentos ao redor do mundo.

Vendo que a imagem do país não é bem vista pelas grandes potências mundiais, o governo local viu no esporte, mais precisamente no futebol, a oportunidade de mudar essa ideia sobre eles. Com isso, relações diplomáticas, avanço econômico, turismo e outros aspectos seriam alavancados com a melhora da percepção do país.

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Príncipe e primeiro-ministro saudita Mohammed bin Salman – Foto: Getty Images

Colhendo frutos

Após grande investimento e trazer holofotes à liga, o resultado veio. Hoje, a Liga Saudita é uma das mais ricas do mundo, com diversas estrelas, e um bom nível técnico. Já é superior a MLS, por exemplo, que começou seu projeto há quase 20 anos, e recentemente levou Lionel Messi ao Inter Miami.

Arábia Saudita também será a sede da Copa do Mundo de 2034, já que também faz parte de um plano da FIFA, que consiste em desenvolver o futebol em regiões onde o esporte não tem grande destaque. Vale lembrar que as próximas três copas irão ocorrer em 10 países diferentes: a Copa de 2026 terá sede tripla, sendo disputada no Canadá, Estados Unidos e México. Já a Copa de 2030 será em seis(!) países: Argentina, Paraguai, Uruguai (América do Sul), Espanha e Portugal (Europa) e Marrocos (África).

A Copa de 2034 promete bater recorde de investimento em infraestrutura e tecnologia, visto os planos do país saudita para a construção de estádios e até novas cidades, no meio do deserto.

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 Arábia Saudita será a sede da Copa do Mundo de 2034 – Foto: SAFF

De fato, estamos vivenciando uma nova era no futebol mundial. Enquanto uns acreditam que o futebol europeu ainda é o mais poderoso, e que esse cenário dificilmente mudará, a UEFA já está sentindo os efeitos da saída de seus astros. Foi por conta disso, inclusive, que houve a tão polêmica mudança no regulamento da Champions League, e das outras duas competições continentais. A intenção da entidade é atrair mais público e patrocinadores com mais jogos, levantando ainda mais renda.

A mudança não foi bem recebida pelos clubes e jogadores, que reclamam do excessivo número de jogos. E isso pode causar um efeito contrário ao que a entidade busca, já que na temporada saudita, por exemplo, há menos jogos e os clubes podem pagar tão bem (e até mais) quanto os clubes europeus. Isso faria com que os jogadores se atraíssem pela comodidade da liga e seus altos salários.

A mudança é iminente, e os próximos passos devem acontecer muito em breve.

Nós somos as 5 dimensões do futebol.
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