BOLA DE OURO: DO LUXO AO LIXO

A Bola de Ouro premia objetivos, não arte, ignorando Vinicius Júnior em 2024 e confirmando aquilo que já prevíamos.

Vitor Bahia de Jesus
Por Vitor Bahia de Jesus 2 Minutos de Leitura

As eleições absurdas e descabidas são rotineiras na linha do tempo do prêmio. De Bobby Charlton em 1966 e Weah em 1996 a eras mais atuais, como Luka Modric em 2018 e agora Rodri em 2024. Uma premiação que desafia o bom senso e abraça o ridículo ao colocar o óbvio em condição de disputa.

A Bola de Ouro é um prêmio contestável desde o momento de sua criação. “Justiça” não é e nunca foi um dos seus componentes primários, visto que nos primeiros 40 anos de existência, ele vislumbrava apenas jogadores europeus. Foi somente em 1995 que a Bola de Ouro passou a premiar jogadores de fora da Europa, quando houve o escândalo de 1994, onde Romário, o melhor jogador do mundo, não concorreu ao prêmio. O eurocentrismo é a marca registrada da agremiação responsável pela France Football.

O refino no nome “Ballon D’or” faz jus a grife que este troféu representa no mundo do futebol, mas não se pode dizer o mesmo quanto aos seus resultados. Nos últimos anos o esporte de apreciação e análise subjetiva, passa a ser avaliado sob os olhos da objetividade. De repente, assistir aos jogos e contemplar desempenhos deixou de ser primordial para definir quem é o melhor. Hoje, as pessoas elegem o melhor baseado em critérios meramente objetivos. Quem foi o melhor? É só ver quem fez mais gols. É só ver quem ganhou mais prêmios. Respostas simples e objetivas para indagações que exigem uma complexa subjetividade. É assustador pensar que Ronaldinho não chegaria nem perto de ganhar o prêmio como ganhou em 2005. A arte deixou de ser apreciada. O show deixou de ser estimado e o espetáculo se tornou segundo plano. Subitamente, o melhor do mundo deixou de ser aquele que melhor pratica o esporte.

Finalmente, chegamos em Vinicius Júnior. Olhando agora, foi bastante otimista esperar que uma premiação eurocêntrica fosse condecorar um jovem preto brasileiro e declaradamente antirracista. Em 68 anos, a France Football glorificou apenas 6 atletas não europeus com o prêmio. E dos 47 atletas diferentes a vencer, somente 6 deles eram negros. Na história recente, nenhum atleta desafiou o status quo europeu como fez Vinicius. Ele é o que há de mais ameaçador para eles, pois diferente de muitos outros atletas, não conseguem o tirar de evidência. É o jogador mais relevante da competição mais importante da Europa. Como não podem evitar o seu brilho, resta puni-lo. O que aconteceu nesta segunda-feira foi uma óbvia tentativa de punição, onde o critério definido em 2023 para a premiação foi completamente desconsiderado e escolheram para entregar o prêmio o primeiro e único jogador africano a recebê-lo. O palco para a humilhação pública de Vinicius e rebaixamento da causa estava montado, mas para o azar deles, ele não foi à cerimônia.

Vini é o protagonista da luta antirracista na Espanha, o prêmio foi dado a um espanhol que não foi o melhor em nenhuma de suas equipes. A mensagem foi direta: vitória do sistema.

BOLA DE OURO: DO LUXO AO LIXO

Um jovem estudante de Jornalismo na Faculdade de Comunicação da UFBA (FACOM) e aspirante a jornalista esportivo. Faz parte de editorial na Liga de Jornalismo Esportivo da UFBA (LJEU).
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