Nos anos 90 o Borussia Dortmund vivia seu princípio de reconstrução institucional. A década anterior foi cruel, o clube havia sofrido demais com a escassez financeira e estava em um processo de retomada, que culminaria com um bicampeonato da Bundesliga em 1994/95 e 95/96, a Supercopa da Alemanha nestes mesmos anos, além do ápice desta era inesquecível com o título da UEFA Champions League em 1996/97, vencendo a Juventus na final.
A cereja do bolo ainda viria com a conquista inédita do título do mundial interclubes contra o Cruzeiro, por 2×0, na grande decisão mundial em dezembro de 1997. 🏆
O Noite de Copa vai mostrar a história e desempenho de um dos maiores, se não o maior esquadrão do Borussia em sua história.
Tudo começou com a chegada do ótimo treinador Ottmar Hitzfeld, em 1991. Com forte bagagem no futebol suíço, Hitzfeld desembarcava na Alemanha, onde era um até então técnico desconhecido (não havia trabalhado no clube e enquanto atleta só defendeu o Stuttgart em 75-78) para reconstruir o Dortmund. De olho nessa reconstrução, Htizfeld se baseou no modelo de jogo da seleção alemã campeã do mundo em 1990. Portanto jogando em um 3-5-2, aquele Borussia Dortmund usava e abusava da versatilidade tática do time, onde Matthias Sammer jogava como líbero, liderando a defesa do time e criando muitas vezes os ataques partindo do campo defensivo – algo extremamente inovador na época.
Onde tudo começou
Após a construção do Westfaelenstadion em 1974, o Dortmund de fato passou a investir forte no futebol. Apesar disso, os anos seguintes não foram fáceis. Para termos noção, na Copa de 1974 – Alemanha, o estádio do BVB foi o único de um time da 2ª divisão alemã no torneio, substituindo o estádio do Köln. Tamanha modernidade impulsionou o público que faria bastante presença desde então na nova casa Aurinegra. Entre idas e vindas na elite alemã, em 1989 veio o primeiro grande suspiro de alívio: o título da Copa da Alemanha. Embalados com o título mundial da seleção em 1990, o BVB passou a investir forte no futebol, onde a partir de 1994 começava a colher seus primeiros frutos.
Após 32 anos sem ganhar uma Bundesliga, em 1994-95 o Dortmund conseguiu tal façanha. Liderados por Kohler e Sammer, só perderam uma partida e venceram 20 de 34 jogos. Nessa época, o BVB já tinha seu primeiro grande trauma, um vice-campeonato da Copa da UEFA para a Juventus (em um agregado de 6-1 na temporada 92-93). Time-base da seleção italiana (Dino Baggio, Vialli, Conte, Peruzzi, entre outros), aquela derrota foi um divisor de águas, pois Hitzfeld se inspirou no rival para remontar seu time, trazendo da Juventus: Paulo Sousa (VL), Júlio César (ZG), Kohler (ZG) e Möller (ME) – todos vindos diretamente da Juve.
Liderados por Sammer, o jogador que havia começado sua carreira como atacante foi recuado para o meio e com Hitzfeld, foi adaptado como líbero – uma espécie de 3º zagueiro com liberdade para sair jogando. Chamado de Beckenbauer dos anos 90, Sammer se tornou um dos mais importantes jogadores da história do clube assim. No meio dessa história, um zagueiro brasileiro chamado Júlio César (que havia sido campeão pela Juventus contra o BVB) teve seu nome marcado na história do time também, ao fazer o gol do título da Copa da Alemanha contra o Gladbach.
Borussia é seleção:
Sensação do momento na Bundesliga, os atuais campeões partiram para o bicampeonato. Sem grandes dificuldades, o time ficava ainda mais forte e letal, aperfeiçoando o estilo de jogo de Hitzfeld, já usado também pela seleção alemã. Tamanho sucesso do time fez com que a base da Alemanha campeã da Eurocopa 1996 fosse toda daquele Borussia: Stefan Reuter, Jürgen Kohler, Matthias Sammer, Steffen Freund e Andreas Möller (todos convocados para a Euro).
Naquela altura, Hitzfeld já alternava do 3-5-2 para o 5-2-1-2, tendo o trio de líberos mantidos e mais o recuo dos dois alas que formavam a lateral e uma linha de 5 defensiva. Os dois volantes tinham mais liberdade para atacar e auxiliavam os atacantes quando tinham a posse. Nesse esquema, o bi da Bundesliga veio com 19 vitórias em 34 jogos e 76 gols marcados. Além disso, a melhor defesa também eram deles, com 38 gols sofridos. Vitórias marcantes como um 3×1 sobre o Bayern, reforçaram o quão aquele time deu certo. Michael Zorc foi o artilheiro do time, com 15 gols na temporada.
Champions League
Antes do histórico título, o Borussia Dortmund passaria por bons aprendizados. Um ano antes, o BVB reencontraria a Juventus na UCL e de novo perderia, mas na fase de grupos. Após se classificar, batendo a Juventus dentro da Itália, no jogo da volta, o time avançaria até as quartas-de-final. O poderoso Ajax, com Kluivert, Van der Sar, Ronald De Boer e cia, freariam os alemães. Aquele Ajax seria finalista diante da Juventus, que foi a campeã. Hitzfeld sabia que seu time estava cada vez mais próximo do título.
Matthias Sammer, em 1996, eleito Bola de Ouro pela France Football, estava no seu prime. Para a temporada 96/97, o Borussia esboçava o pico do trabalho de Hitzfeld – o que de fato aconteceu. Após uma reforma no seu estádio, a capacidade saltaria para 75 mil pessoas, fazendo dali um verdadeiro caldeirão alemão. Antes das glórias, um novo aprendizado. Em 96/97, Sammer sofreria uma forte lesão no joelho que o tirou de boa parte da temporada. O Bayern de Munique retomou sua organização e voltou a vencer a Bundesliga após o bicampeonato do Borussia Dortmund. Contudo, o foco do BVB agora era a Champions League, o último tiro que faltava ser acertado por aquele time.
Em um grupo relativamente tranquilo, o Borussia passou de fase inclusive batendo o Atlético de Madrid no Vicente Calderón. Nas quartas, eliminariam o Auxerre, mas o grande teste veio a seguir: o Manchester United de Gary Neville, Ryan Giggs, David Beckham, Solskjaer, Cantona e Roy Keane. Em uma semifinal acirradíssima, duas vitórias por 1×0, onde em Old Trafford o sistema defensivo alemão fez uma de suas melhores exibições daquela era.
Para o último passo, um velho conhecido: a Juventus. Indigesto adversário, a Juve tinha batido o BVB anos atrás na final da Copa da UEFA, tinham vencido eles na Alemanha um ano antes e eram os atuais campeões. A vingança estava desenhada e para isso, o local da partida seria no antigo estádio olímpico de Munique – a casa do arquirrival Bayern.
A Juventus de Zidane, Deschamps, Vieri e Del Piero assustava. Eram os franco favoritos na decisão. Mas dentro de campo, com bola rolando, o Dortmund mostrou que estava pronto para se vingar. Riedle fez 1×0 aos 29 minutos de jogo. Logo em seguida, Riedle, aos 34, faria mais um de cabeça. Del Piero saiu do banco e aos 64 minutos gerais, de letra, descontou. Apesar do medo da reação italiana, o Dortmund deu o xeque-mate em seguida, aos 70, com Lars Ricken, a grande joia do time, saindo também do banco e marcando o 3º do time.
O continente era amarelo e preto! Quebrando o jejum de desde 1983 sem um alemão ser campeão europeu, o Dortmund entrava para o seleto grupo de Bayern e Hamburgo como os campeões da Champions League. Naquela altura, com seu trabalho concluído, o treinador Hitzfeld acabou saindo do BVB antes mesmo do Mundial de clubes em dezembro, aceitando ir para o Bayern – onde foi pentacapeão alemão. Substituindo ele, o treinador italiano Nevio Scala foi quem comandou o Dortmund campeão do mundo de 97, contra o Cruzeiro.
No Japão, o Dortmund entregava a cereja do bolo de uma era de ouro. Diante do forte Cruzeiro que tinha Dida e Ricardinho, além dos reforços pontuais de Donizete, Gonçalves e Bebeto para aquele Mundial, o Dortmund venceu por 2×0 (Zorc e Heinrich), também quebrando o jejum alemão de títulos mundiais de clubes, onde só o Bayern havia vencido em 1976 (o HSV perdeu para o Grêmio em 1983).
Dortmund no topo:
Com um time-base composto por: Stefan Klos; Jürgen Kohler, Matthias Sammer e Martin Kree; Paul Lambert, Paulo Sousa, Stefan Reuter, Andreas Möller e Jörg Heinrich; Karl-Heinz Riedle e Stéphane Chapuisat (1997 vs Juve – final).
Após o tão sonhado título da Champions, impulsionado pelo Mundial de clubes, o Borussia para 98 já não era mais o mesmo. Sem Hitzfeld, o grande mentor do time, a Supercopa da UEFA foi perdida para o Barcelona. Matthias Sammer, grande líder do elenco, se aposentou precocemente pelas lesões seguidas no joelho. Dali em diante, diversos jogadores deixariam o time e somente em 2001-02 o BVB voltaria a ganhar algo relevante (Bundesliga) e a partir de 2010 voltava ao cenário europeu com relevância, na geração de Lewandowski, Götze, Kagawa e cia.
É um dos maiores times da história! Um dos trabalhos mais bem executados do futebol global! Gigante, Borussia Dortmund! 👏