A história do clássico Fla-Flu

Bruno de Oliveira Menezes
Por Bruno de Oliveira Menezes 6 Minutos de Leitura

O clássico entre Flamengo e Fluminense é considerado por especialistas em futebol e por grande parte da mídia esportiva como um dos confrontos mais charmosos do mundo. A rivalidade acirrada, os momentos históricos e as emoções intensas vividas em campo contribuem para a grandiosidade desse espetáculo centenário , que transcende o esporte e se torna parte fundamental da cultura e da paixão dos torcedores.

A história do clássico Fla-Flu

O primeiro Fla-Flu, ocorrido em 7 de julho de 1912, já mostrava a intensidade e a história que viriam a seguir nesse clássico. Apesar de o Fluminense ter perdido nove titulares que foram fundar o departamento de futebol do seu rival, o Flamengo, o Flu venceu por 3 a 2.

O primeiro gol da história do Fla-Flu foi marcado por Edward Calvert, do Fluminense, a apenas um minuto de jogo. Essa partida inaugural estabeleceu as bases para uma das maiores rivalidades do futebol brasileiro.

Em 1916, o árbitro R. Davies gerou grande polêmica ao assinalar dois pênaltis consecutivos contra o Fluminense. No primeiro, Rienner desperdiçou a cobrança, enquanto no segundo, Sidney teve sua penalidade defendida por Marcos de Mendonça. O árbitro ordenou uma nova cobrança, alegando que não havia apitado, e novamente Sidney bateu e viu sua cobrança ser defendida por Marcos de Mendonça. Alegando invasão de jogadores do Flu, Davies ordenou uma terceira cobrança. 

Como a paralisação ultrapassou o limite estipulado de cinco minutos pelo regulamento, o jogo foi anulado. Uma nova partida foi realizada em 8 de dezembro, no campo do Botafogo, e o Fluminense venceu por 3 a 1. Primeira vez na história do Campeonato Carioca que um jogo foi anulado.

A história do clássico Fla-Flu

Em 1925, a Seleção Carioca enfrentou dificuldades para reunir jogadores e participar do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. Diante dessa situação, optou-se por convocar apenas jogadores de Flamengo e Fluminense, resultando em certa controvérsia. Muitos amantes do futebol inicialmente se referiram a essa equipe não como a Seleção Carioca, mas como “Combinado Fla-Flu”.

A Seleção Carioca acabou conquistando o título, mudando o sentimento popular em relação a essa equipe. O jornalista Mário Filho desempenhou um papel fundamental ao transformar um nome inicialmente criado com uma imagem negativa, em um nome próprio e marca registrada deste grande clássico, conhecido mundialmente como Fla-Flu.

Segundo a narrativa de Mário Filho, o primeiro mosaico do futebol brasileiro pode ter ocorrido no Estádio de Laranjeiras durante um Fla-Flu na década de 1930. Nesse evento, a torcida do Fluminense, buscando superar a festa da torcida do Flamengo, distribuiu adereços na área dos sócios do Tricolor. Cada espectador encontrou em sua cadeira um saquinho de confete, um pacote de serpentina e um balão de borracha vazio, sendo esses balões nas cores verde, branco ou vermelho.

Dessa forma, o mosaico foi criado com balões nas cores verde, branco e grená. Os sócios do Fluminense enchiam seus balões, pegavam seus sacos de confete e pacotes de serpentina, aguardando os sinais para realizar as ações combinadas. 

A história do clássico Fla-Flu

A Charanga do Flamengo, a primeira torcida organizada do Rio de Janeiro e a terceira mais antiga do Brasil, foi fundada em um Fla-Flu específico. No empate por 1 a 1 em Laranjeiras, no dia 11 de outubro de 1942, que posteriormente renderia o título ao Flamengo, a banda foi oficialmente estabelecida.

O Flamengo teve que aguardar 140 dias para finalmente comemorar o título, devido a uma disputa judicial com o Botafogo. O Botafogo havia entrado na Justiça Desportiva buscando conquistar os pontos de uma derrota para o São Cristóvão. No entanto, esse pleito foi recusado em segunda instância. Com isso, o Botafogo terminou como vice-campeão e o Fluminense em terceiro lugar.

A história do clássico Fla-Flu

Em 10 de junho de 1945, o Fla-Flu a maior goleada da história do clássico. O Tricolor saiu derrotado por 7 a 0 na disputa pelo Torneio Municipal, realizada em São Januário.

O jogador Pirilo teve uma atuação inspirada, destacando-se como o grande artilheiro da partida ao marcar quatro gols. Além dele, Tião contribuiu com dois gols, enquanto Adilson fechou a conta com mais um gol, consolidando essa memorável e histórica vitória para o Flamengo.

O primeiro Fla-Flu que verdadeiramente mereceu o título de “Clássico das Multidões” ocorreu em 1951. Além dos 109.212 torcedores oficialmente registrados, houve um considerável número de ingressos falsos em circulação. 

A imprensa carioca estima que cerca de 40.000 pessoas adicionais tenham comparecido ao Maracanã naquele dia. Essa partida fazia parte de uma competição que, ao seu desfecho, sagraria o Fluminense como campeão.

Na decisão do campeonato estadual de 1963, o público pagante foi registrado em 177.020 pessoas, enquanto oficialmente o total de torcedores alcançou a marca de 194.603. No entanto, esses números podem não refletir a realidade, pois multidões de rubro-negros e tricolores, em meio ao tradicional empurra-empurra dos estádios, entraram sem ingresso.

O Flamengo conquistou o título carioca de 1963 após um empate por 0 a 0, pois tinha a vantagem do empate,  encerrando uma seca de sete anos sem títulos estaduais.

Em 1969, o Fluminense conquistou o título carioca pela 19ª vez, a uma rodada do término do campeonato. A consagração se deu em um emocionante confronto contra o Flamengo, no Maracanã, diante de uma multidão de mais de 170 mil pessoas. A vitória épica por 3 a 2, que garantiu o título ao Tricolor, tornou-se o tema central de uma das mais marcantes crônicas de Nelson Rodrigues, intitulada “Chega de Humildade”. 

Enorme, esmagador, capaz de transformar em carnaval um espetáculo de futebol, o Maracanã já é uma lenda. A realidade contudo, é muito maior. A memória que em mim, ficará para sempre do Fla-Flu e, mais, do próprio futebol brasileiro, será desta enorme, pungente, feliz experiência humana.” disse o jornalista escocês Hugh McIlvanney, correspondente do The Observer.

A decisão do Campeonato Carioca de 1995 foi um espetáculo repleto de emoções, destacando-se não apenas pelo icônico gol de barriga que selou o destino da partida, mas também pelo eletrizante duelo entre dois craques consagrados, Romário e Renato Gaúcho.

O embate foi marcado por uma série de expulsões, totalizando oito ao todo, e o Fluminense viu-se reduzido a oito jogadores em campo ao término da partida, dois a menos que o Flamengo.

Se o confronto tivesse encerrado com o empate de 2 a 2, não haveria a necessidade de cobranças de pênaltis, consagrando o Flamengo como campeão. No entanto, aos 41 minutos do segundo tempo, Renato Gaúcho utilizou a técnica da barrigada para empurrar a bola para o gol, tornando-se o herói da vitória do Flu e garantindo o título.

Em 2009, ocorreu o primeiro confronto internacional oficial entre Flamengo e Fluminense, válido pela Copa Sul-Americana. Os times se encontraram na fase inicial, disputando partidas de ida e volta, ambas no Maracanã. O primeiro jogo, com o Fluminense como mandante, encerrou-se em 0 a 0. No segundo confronto, novamente um empate, desta vez em 1 a 1.

O Fluminense avançou para a próxima fase graças à regra do gol fora de casa e chegou à final da competição, sendo vice-campeão ao perder para a LDU, do Equador, na decisão.

Na final da Taça Guanabara de 2017, o Fluminense, inicialmente indicado como o mandante da partida decisiva, abdicou do suposto benefício de ter sua torcida como única presente no estádio. Em vez disso, o clube lutou para viabilizar a presença da torcida do Flamengo na final.

Houve até mesmo a consideração de jogar a partida com portões fechados para manter a tradição carioca de torcidas mistas nos grandes clássicos. A liberação dos ingressos ocorreu apenas no dia anterior ao jogo, após batalhas judiciais, especialmente contra a posição do Botafogo, que havia recorrido à justiça para evitar a presença da torcida do Flamengo no estádio.

A história do clássico Fla-Flu

O ano de 2023 proporcionou um marco histórico no futebol carioca, com a realização do clássico Fla-Flu na Copa do Brasil pela primeira vez. Nas oitavas de final, as equipes protagonizaram uma disputa acirrada. 

No jogo de ida, o placar permaneceu em um empate sem gols. No embate de volta, o Flamengo assegurou a vitória por 2 a 0 e a consequente classificação para a próxima fase da competição. 

A história do clássico Fla-Flu

Curiosidades

Zico, maior ídolo da história do Flamengo, é o maior artilheiro da história do Fla-Flu, tendo marcado 23 gols em 39 jogos, o que resulta em uma média de 0,58 gol por partida.

Flamengo e Fluminense duelaram em 451 oportunidades, com a equipe da Gávea tendo uma ligeira vantagem sobre o rival: foram 165 vitórias do Flamengo, 145 empates e 141 vitórias do Fluminense. Já quanto ao número de gols, foram 645 bolas na rede em favor do Rubro-Negro, contra 587 para o Tricolor.

O jornal inglês The Sun, elegeu o Fla-Flu como o oitavo maior clássico do futebol mundial, o único brasileiro e um dos dois únicos sul-americanos da lista que apontava os 10 maiores em 2016.

A revista francesa, France Football, realizou enquete em 15 de janeiro de 2016 para eleger o clássico mais emocionante do mundo, sendo o Fla-Flu um dos quinze clássicos indicados, o único brasileiro e um dos dois latino americanos.

O jornal londrino Evening Standard apontou o Fla-Flu com um dos dez maiores clássicos de futebol do mundo, o quinto da lista, que tinha no Superclássico do futebol argentino o outro confronto sul americano da lista.

A história do clássico Fla-Flu
Fotografo, redator, publicitário e especial em Marketing e Comunicação no futebol.
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