‘FLUNIMED’: A história de paixão, sucesso e polêmicas entre Fluminense e Unimed (1998-2014)

Durante sua fase mais difícil, o Fluminense encontrou apoio na Unimed, parceria que resultou em títulos e um legado de recuperação até 2014, mas também desafios.

Gabriel de Oliveira Costa
Por Gabriel de Oliveira Costa 6 Minutos de Leitura

Durante uma época em que o Fluminense vivia sua era mais conturbada da história, sofrendo incríveis 3 rebaixamentos consecutivos (1996, pelo Brasileirão série A – porém anulado; 1997, agora válido pelo Brasileirão série A e 1998 – pelo Brasileirão série B), a Unimed chegava ao Fluminense nas rodadas finais da temporada em que o Fluzão estava indo de forma inédita para a série C. Um parceiro gigante em uma hora mais do que preciosa para a reconstrução do Tricolor, a parceria é um dos maiores cases de sucesso do Brasil, somando 2 títulos da série A, uma Copa do Brasil e um legado histórico de um ilustre torcedor (Celso Barros) em seu time de coração.

'FLUNIMED': A história de paixão, sucesso e polêmicas entre Fluminense e Unimed (1998-2014)

A Unimed e Celso Barros:

Uma das principais empresas do Brasil no ramo da medicina, a Unimed foi uma grande parceira do Fluminense durante 1998 até 2014, tendo a figura de Celso Barros, uma figura fundamental no envolvimento entre as partes. Celso é um renomado médico e empresário que fez carreira na Unimed, onde chegou para trabalhar em 1974, mas em meados de 94 tornou-se diretor administrativo da empresa.
Ilustre torcedor do Fluminense, aproximou-se politicamente do Tricolor com a Unimed, oficializando de fato em 1998 a parceria entre ambos. Em um projeto ambicioso, Celso iria ser um dos responsáveis em restabelecer a honra do Tricolor que amargava uma queda inédita para a 3ª divisão.

Diante deste cenário, a Unimed estendeu a mão para o Fluminense que vivia um momento extremamente delicado em sua história, no final dos anos 90. Para muitos na época, o Fluminense corria risco de deixar de existir e declarar falência, caso não houvesse uma reviravolta do clube.

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Fluminense forte

Em 96 o Fluminense seria rebaixado à 2ª divisão do Brasileirão. A queda na época inédita, foi salvo por uma decisão da CBF em que cancelou os rebaixamentos por problemas de arbitragem no campeonato, no caso Ivens Mendes. A fase que era ruim, piorou em 1997. Desta vez não teve nova chance, o Flu caiu.

Pode piorar? Sim. Na série B, uma campanha vexatória e outra queda, para a 3ª divisão. Contudo, no meio de tanta lama emergia uma luz – a Unimed. Através da influência de Celso Barros, a parceria começaria já em 1998, nas rodadas finais da segundona, mas já pensando no ano seguinte. No jogo da queda para a série C (Fluminense x ABC) a Unimed já estava estampando seu nome no Fluzão.

A Unimed ainda não era uma das forças no ramo de atuação dela no Rio de Janeiro, mas viu no Fluminense a oportunidade de se popularizar e captar mais clientes, além de embarcar em um projeto de reconstrução do clube, que ousaria em trazer grandes estrelas do futebol ao time das Laranjeiras.

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Começo meteórico

Campeão da série C 1999, o Fluminense foi convidado para jogar a Copa João Havelange de 2000 – o equivalente à 1ª divisão da época. Mesmo pulando a série B, o Flu chegaria chegando. Nomes que viriam a se tornar ídolos da torcida na época, como Magno Alves, Roni e Roger Flores. O Flu foi 3º lugar na primeira fase, mas caiu para o surpreendente São Caetano, nas 8ª de final, o que trouxe um certo otimismo para os Tricolores.

Em 2001, novamente uma boa campanha, desta vez parando só nas semifinais ao cair para o futuro campeão Athletico-PR. Foi literalmente o último ano antes da Unimed abrir de fato os cofres e virar a chave no Flu, que dali em diante seria um celeiro de grandes jogadores, como por exemplo em 2003 teve simplesmente Romário e Edmundo reeditando uma dupla de atacantes que fez história no Vasco e já tinham jogados juntos no Flamengo antes.

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Polêmicas

Com o Fluminense já consolidado no cenário nacional de volta, o clube chamava atenção pelo poder financeiro no mercado. Era com tamanha facilidade que o Flu tirava jogadores de renome de rivais, como por exemplo o Felipe ‘Maestro’ que trocou o Flamengo pelo Fluminense, além de Petkovic que também jogaria por lá, entre outros nomes como Preto Casagrande, o camisa 10 do Santos atual campeão brasileiro de 2004.

Contudo, a polêmica era sobre quem estava bancando as estrelas: O Flu ou a Unimed?

Nunca ficou exatamente claro, mas há indícios de que alguns craques que atuaram pelo clube eram trazidos pela Unimed, o que geravam rachas no elenco. Enquanto atletas trazidos pela Unimed recebiam altos salários e em dia, jogadores de menos renome sofriam com salários atrasados por parte do Fluminense.

Em certa época, Celso Barros chegou a explicar que pagava R$200 mil mensais no contrato Unimed x Fluminense. O acordo previa que em alguns meses a verba era destinada para reforços, enquanto para outros seria para dívidas.

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Crias de Xerém

Inegavelmente o Fluminense foi um dos líderes no país no quesito revelação de jogadores. Com forte apoio da Unimed, o Flu reestruturou sua base, fazendo de Xerém uma grande potência. Do começo dos anos 2000, o Fluminense seria uma máquina de revelar jogadores, como: Marcelo, Thiago Silva, Arouca, Antônio Carlos, Diego Souza, etc.

Segundo dados do clube, o CT de Xerém abriga cerca de 400 garotos, desde os 9 até 20 anos, com os elencos de base, hotéis, prédios administrativos do clube, campos para treinamentos e até concentração do time profissional e base. Parte desse investimento teve como retorno em títulos, o Brasileirão sub-20 2015, além de centenas de títulos juvenis e até uma proximidade da seleção brasileira de base na utilização do espaço Tricolor em Xerém.

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Títulos e auge

O Fluzão depois de se reestruturar, de fato conseguiu chegar às glórias. Em 2007 o inédito título da Copa do Brasil. Um ano depois, o Tricolor chegava à final da Copa Libertadores, onde nos pênaltis perdeu o troféu para a LDU, batendo na trave a chance do maior título da história do clube. Um ano depois, finalista da Sul-americana para a mesma LDU mostrava que de fato o Tricolor não estava longe de um grande título.

Dito e feito, em 2010 a consagração: o título brasileiro. Já com um renomado elenco de estrelas, tendo Fred, Conca, Deco, Emerson Sheik, entre outros, o Fluzão voltou a levantar o título do principal campeonato do país. E o gostinho não parou por aí, após um bom ano de 2011, em 2012 veio mais um título brasileiro, o 2º em 3 anos.

Desgaste

Com um elenco caro, o Fluminense começou a ter sua relação ruindo com a Unimed. Apesar dos títulos, a Unimed pagava muito mais do que gostaria em gastos com o clube, tendo como principal ruído os direitos de imagem dos atletas. Segundo o GE, em 2012 foram R$70 milhões gastos para montagem do time naquele ano em que o Tricolor foi tetracampeão brasileiro.

Em uma queda de braço com o Flamengo, o Flu repatriou Thiago Neves que tinha jogado anteriormente no rival. Além disso, altos gastos em nomes como Jean, Wagner e Bruno, todos destaques do Brasileirão anterior, em que o clube foi campeão.

Com tantos gastos, a Unimed tirou o pé em 2013, o que culminou na desmontada do elenco “campeão”. Do dia para noite, nomes como o próprio Thiago Neves, além do Wellington Nem foram vendidos e reforços não chegariam. O Flu teve de voltar a buscar jovens da casa para ter um elenco forte, mas que causou em um novo rebaixamento no polêmico Brasileirão 2013.

Por causa das irregularidades de Héverton (Portuguesa) e André Santos (Flamengo) novamente o Flu foi salvo de um rebaixamento nacional, o 1º na era Unimed. De olho na ameaça de voltar a ser um time iô-iô, o Fluminense esteve preocupado com as intenções da Unimed em investir cada vez menos e em 2014 as partes romperam o acordo em definitivo.

'FLUNIMED': A história de paixão, sucesso e polêmicas entre Fluminense e Unimed (1998-2014)

Celso Barros presidente?

Naquela altura, ex-Vice Presidente do Fluminense, Celso Barros viu a sua Unimed sair do seu time de coração. Em um movimento político, Celso se candidatou à presidência do Flu, visando retomar os bons anos anteriores do clube, onde muito do sucesso foi ligado à sua imagem pela boa gestão da Unimed com o Tricolor.

Celso Barros perdeu para Pedro Abad em 2016. A rivalidade com figuras da política Tricolor já eram tão ferrenhas que Celso Barros fazia publicamente críticas à Peter Siemsen (presidente do Fluminense durante 2010-2016). Peter era um dos nomes fortes do Flu que mais defendiam a saida da Unimed e esboçavam desenhar um clube menos dependente do patrocinador, o que foi de missão para Pedro Abad seguir tocando como projeto.

A imagem de Celso Barros foi tão desgastada com essas brigas políticas que até sobrou para Mário Bittencourt – o outro futuro presidente do Flu e advogado do time no polêmico rebaixamento de 2013. Celso fez críticas à Bittencourt e seu modelo de gestão na venda de atletas, tendo Pedro como o grande fator de crítica do ex-VP. Pedro saiu do Fluminense em 2019 e no ano seguinte jogaria para o Flamengo, o que irritou o torcedor Tricolor e o antigo dirigente.

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Legado

A Unimed que chegou desconhecida no Rio, com 200 mil clientes em 1998, saiu do Fluminense com mais de 1 milhão por todo o Brasil, uma linha de mais de 5 mil sócios e o nome da empresa sendo referência em todo o país. Já o Fluminense saltou da 3ª divisão para um tetracampeonato brasileiro, título de Copa do Brasil, inúmeras temporadas de sucesso e grandes conquistas dentro e fora de campo.

Mesmo com a relação já desgastada, no final das contas ficou bom para todo mundo. Os 15 anos de Fluminense e Unimed se tornaram um dos casos de parceira de maior sucesso no futebol brasileiro.

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Jornalista formado, tenho 26 anos e em meu currículo acumulo experiências de social media com os canais Sportv, Premiere e Combate, atuando em competições como Copa do Mundo, Olimpíadas e Brasileirão.
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