A rivalidade entre Sérvia e Suiça

Sérvia e Suíça se enfrentam novamente na Liga das Nações da UEFA, trazendo à tona uma das maiores rivalidades do futebol mundial, marcada por tensões geopolíticas e históricas. O confronto, que ocorre neste sábado (12) em Leskovac, é carregado de simbolismo devido à questão da independência do Kosovo e à presença de jogadores suíços de origem kosovar-albanesa.

Bruno Lobão
Por Bruno Lobão - PFQL 4 Minutos de Leitura

Adversárias nas Copas do Mundo de 2018 e 2022, Sérvia e Suíça voltam a se enfrentar, desta vez na fase de grupos da Liga das Nações da UEFA. O confronto acontece neste sábado (12), em Leskovac, no sul da Sérvia, pela terceira rodada do Grupo 4 da competição. O que muitos não sabem é que essa partida carrega uma das maiores rivalidades entre seleções do mundo, não apenas pelo futebol, mas por um conflito geopolítico que se intensificou nos últimos anos.

A tensão entre os dois países tem suas raízes na questão da independência do Kosovo e na grande presença de jogadores suíços de origem kosovar-albanesa, o que adiciona um componente político e nacionalista aos jogos. Quer entender mais sobre essa rivalidade e o impacto dela no futebol? Vem com a gente!

INTRODUÇÃO

Primeiramente, para entender a rivalidade entre Suíça e Sérvia, é essencial falarmos sobre outro assunto muito importante: a Independência do Kosovo. Declarada em fevereiro de 2008, ela foi o resultado de um conflito étnico e político prolongado, de uma região de maioria albanesa, mas que era historicamente controlada pelos sérvios. 

A crescente tensão entre albaneses do Kosovo e sérvios levou a uma guerra extremamente violenta entre 1998 e 1999, quando o governo sérvio tentou reprimir o movimento separatista do Exército de Libertação do Kosovo. Devido às diversas violações de direitos humanos durante o conflito, a OTAN interveio, e o território kosovar passou a ser administrado pela ONU, sem presença sérvia.

Em 2008, o parlamento kosovar declarou unilateralmente sua independência, que foi reconhecida por mais de 100 países. No entanto, a Sérvia, com o apoio da Rússia, não reconhece o Kosovo como estado independente, mantendo um cenário de tensão e conflito na região dos Bálcãs.

AS TENSÕES NO FUTEBOL

Se o conflito é entre albaneses e sérvios, onde a Suíça entra nessa história? Tudo começou em 2018, durante a fase de grupos da Copa do Mundo. Na ocasião, Suíça e Sérvia se enfrentaram, e os suíços venceram o confronto por 2 a 1, com gols de Granit Xhaka e Xherdan Shaqiri. Ambos os jogadores possuem raízes kosovares-albanesas, e durante as comemorações dos seus gols, fizeram um gesto polêmico: o símbolo de uma águia com as mãos, em referência à bandeira da Albânia. O gesto foi uma clara demonstração de apoio à independência do Kosovo, e entendido como uma provocação por parte da equipe sérvia. 

Após a partida, o presidente da Federação Sérvia e o então técnico Mladen Krstajić fizeram duras críticas ao episódio. “Infelizmente, só os sérvios são condenados por uma justiça seletiva, uma vez no maldito Tribunal de Haia e hoje no VAR no futebol”, escreveu o treinador nas redes sociais.

A polêmica reacendeu em 2022, quando as duas seleções voltaram a se cruzar na fase de grupos da Copa do Mundo. Antes do jogo de estreia contra o Brasil, a equipe sérvia pendurou no vestiário uma bandeira com o mapa do país, incluindo o território de Kosovo como parte da Sérvia. Junto à bandeira, havia a frase “Nós não nos rendemos”, em referência à não aceitação da independência de Kosovo. O ato trouxe à tona novamente questões étnicas e políticas, gerando grande repercussão internacional e até um processo disciplinar instaurado pela FIFA.

EPISÓDIO EM 2022

Em 2 de dezembro de 2022, Sérvia e Suíça se enfrentaram em um decisivo jogo da fase de grupos da Copa do Mundo no Catar, com uma vaga nas oitavas de final em jogo. A partida foi marcada por diversas tensões, não apenas esportivas, mas também políticas, devido ao histórico de conflitos dos jogos anteriores. O confronto, que classificou os suíços para a próxima fase, resultou em várias polêmicas e confusões tanto dentro de campo, entre os jogadores, quanto nas arquibancadas, com torcedores sendo expulsos por gestos provocativos. 

Logo aos 20 minutos, Shaqiri abriu o placar para a Suíça e provocou a torcida sérvia ao fazer o gesto de “pedir silêncio”, levando o dedo aos lábios. Aos 35 minutos, Vlahovic virou o jogo para a Sérvia e repetiu a provocação em direção aos torcedores suíços. Minutos depois, foi a vez do meio-campista Xhaka entrar em ação: em meio a uma discussão mais intensa, o camisa 10 fez um gesto obsceno para o banco de reservas do adversário, levando a mão à genitália, o que gerou revolta por parte dos atletas sérvios. O jogo precisou ser brevemente interrompido para conter a confusão.

Apesar de nenhuma expulsão dentro de campo, nas arquibancadas uma torcedora foi retirada do estádio por fazer o gesto de “pássaro” com as mãos, considerado provocativo aos sérvios, como explicado anteriormente. Em resposta, alguns torcedores da Sérvia entoaram gritos pedindo a morte dos albaneses, o que elevou ainda mais o clima de hostilidade na partida.

A cereja do bolo veio do treinador Dragan Stojkovic, que, após um dos gols de sua equipe, foi acusado por kosovares de proferir insultos racistas e sexistas contra mulheres albanesas. A acusação gerou reações nas redes sociais, inclusive da ministra das Relações Exteriores do Kosovo, Meliza Haradinaj.

SEM SHAQIRI, MAS COM XHAKA

Sem Shaqiri, que anunciou sua aposentadoria da seleção após a Eurocopa, a Suíça chega para o confronto deste sábado sob a liderança de Granit Xhaka, camisa 10 e capitão da equipe. Xhaka é um dos maiores símbolos da resistência albanesa-kosovar no futebol, com uma história pessoal marcada por muita luta e opressão. Seu pai foi preso e espancado por quase quatro anos em Belgrado, durante os anos 1980, devido a críticas ao regime em vigor.

“Como filho dele, a história me toca muito profundamente. Está mesmo no meu coração. Para descrever meu pai adequadamente, você tem de entender tudo que envolveu a situação. É muito trágico. Ele é um kosovar orgulhoso e pensava que eles tinham o direito de viver. Estava lutando por seus direitos, e eram direitos básicos da democracia, como estar apto a votar”, disse o meio-campista, em entrevista de 2017 ao jornal inglês “The Guardian”.

O próximo desafio de Xhaka e sua equipe será superar os sérvios fora de casa para manter as chances de classificação na Liga das Nações. A Suíça, que aparece na última posição do grupo com duas derrotas em dois jogos, precisa urgentemente de uma vitória para não ver seus rivais escaparem. A Sérvia também busca um resultado positivo, já que está na terceira colocação com apenas um ponto, o que torna o confronto decisivo para ambos os lados na disputa por uma vaga.

A rivalidade entre Sérvia e Suiça
Foto: REUTERS/Carl Recine

REFERÊNCIAS

https://www.espn.com.br/futebol/copa-do-mundo/artigo/_/id/11303877/por-que-duelo-decisivo-servia-suica-envolvera-clima-tenso-alem-quatro-linhas

https://www.folhape.com.br/esportes/entenda-a-rivalidade-fora-de-campo-entre-servia-e-suica-que-se/248996

https://ge.globo.com/futebol/selecoes/suica/noticia/2022/12/02/alta-tensao-cinco-momentos-em-que-o-servia-x-suica-desta-sexta-transcendeu-o-futebol.ghtml

https://ge.globo.com/futebol/selecoes/suica/noticia/2022/12/03/granit-xhaka-quem-e-o-camisa-10-que-incendiou-classificacao-da-suica-e-mobilizou-elenco-na-copa.ghtm

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Estudante de jornalismo e apaixonado por esportes no geral.
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