Do Boca para a presidência: Uma história Argentina

Em meio ao pós-Libertadores e o clima de eleição presidencial na Argentina, que ocorrerá no próximo dia 19, a PFQL abordará a chegada de Maurício Macri, ex-presidente do Boca, ao cargo máximo do país em 2015 e a importância do clube no país.

Davi Saito
Por Davi Saito - PFQL 4 Minutos de Leitura

Em meio ao pós-Libertadores e o clima de eleição presidencial na Argentina, que ocorrerá no próximo dia 19, a PFQL abordará a chegada de Maurício Macri, ex-presidente do Boca, ao cargo máximo do país em 2015 e a importância do clube no país. Vem com a gente!

*Este texto não tem nenhum viés político, ok?

O início e o Boca

Macri nasceu em 1959, na Argentina. Filho de um rico empresário italiano, ele estudou nos Estados Unidos, fez engenharia e logo passou a trabalhar nas empresas do Grupo Macri. Porém, o que nos interessa ocorreu em 1995, quando ele assumiu a presidência do Boca Juniors ao vencer as eleições do clube.

Ao assumir o Boca Juniors, Macri pegou um clube quebrado e adotou novas iniciativas para recuperar a equipe, como a inserção do clube no mercado financeiro e o estabelecimento de um plano de negócios. O novo presidente também modernizou La Bombonera, com novas centrais de atendimento telefônico e sistemas de venda de ingressos. Houve corte de despesas e a criação de uma divisão especializada para o marketing, visando expandir a marca do Boca Juniors e capitalizá-la.

As reformas não se restringiram ao campo financeiro e administrativo: Macri foi o idealizador de La Cantera, estrutura que formou e buscou vários jovens, como Carlos Tévez, Banega e Fernando Gago, que foram educados futebolisticamente de forma intensa pelos treinadores da equipe. O presidente também conseguiu auxílio de diferentes investidores, prometendo partes das vendas dos jovens visando reforçar a equipe, o que trouxe nomes como Palermo e Walter Samuel. Ao todo, até o final do mandato de Macri em 2007, estima-se que o Boca obteve um faturamento de 100 milhões de libras com vendas de jogadores.

Com as mudanças, os resultados vieram: Sob a batuta, principalmente, de Carlos Bianchi, o Boca Juniors foi o verdadeiro “bicho-papão” da América do Sul no início do século XXI. Ao todo, foram 4 Libertadores (2000, 2001, 2003 e 2007), 2 Mundiais (2000 e 2003), 2 Sul-Americanas e 6 Campeonatos Argentinos, somando 17 títulos na gestão e tornando-se o presidente mais vitorioso da história xeneize.

Apesar dos títulos, Macri foi criticado por muitos torcedores por ter elitizado o Boca Juniors ao aumentar mensalidades de sócios, por exemplo. Ele também não teve boa relação com Maradona, mantendo-se distante dele.

Um fato curioso é que, em entrevista à TYC Sports, Macri afirmou que recusou ninguém mais que Pep Guardiola para o comando da equipe, em 2006. Ele teria recebido uma ligação que disse que Pep amaria treinar o Boca. Porém, Macri o recusou por ser inexperiente.

Política

Com o grande êxito no comando do Boca, Macri ganhou grande relevância no cenário nacional. Os xeneizes têm uma torcida de mais de 20 milhões em um país com pouco mais de 40 milhões, simbolizando quase 50% da população. Por isso, o clube é considerado a “25ª província argentina”.

Em 2003, Macri funda o seu partido, o Compromisso pela Mudança (CPC), que integrou a coalizão Proposta Republicana (PRO), com orientação de centro-direita. Em 2005, se elegeu deputado pela Cidade de Buenos Aires (CABA). Em 2007, venceu as eleições para prefeito da capital argentina por larga margem, impulsionado pela conquista da Libertadores pelo Boca naquele ano.

Em 2011, Macri foi reeleito e passou a ser considerado um dos líderes de oposição à presidente argentina na época, Cristina Kirchner. Apesar da popularidade na capital, o grande prestígio do prefeito não vinha de seu trabalho político, mas sim, de sua gestão no Boca Juniors.

Em alta, Macri disputou a presidência em 2015 pelo PRO. Em um segundo turno apertado contra Daniel Scioli (atual embaixador argentino no Brasil), ele venceu a eleição e quebrou uma sequência de governos mais à esquerda no país. Apesar disso, sua gestão não foi bem avaliada e, em 2019, perdeu a reeleição para Alberto Fernández, atual presidente da nação.

Mesmo na cadeira presidencial, Macri não deixou de comentar sobre futebol: Em 2018, perto da final da Libertadores entre River e Boca, o presidente, em tom de brincadeira, quebrou os protocolos presidenciais ao proferir um palavrão se referindo ao técnico rival, Marcelo Gallardo, em uma conversa com funcionários de um laboratório.

Pós-presidência

Após sair da vida pública, Macri foi nomeado como presidente executivo da Fundação FIFA, o que foi repudiado por seus opositores e até mesmo pela Federação Argentina (AFA). Esteve presente na Copa do Mundo de 2022, viu a Argentina ser campeã e tirou uma foto com Messi, o que gerou polêmica no país, pois os jogadores campeões negaram fotos ao presidente Fernández.

Nas eleições presidenciais de 2023, o PRO de Macri apoiou Patricia Bullrich, que ficou na 3ª colocação. No atual momento, o partido apoia Javier Milei contra Sergio Massa no segundo turno que será disputado. Em Buenos Aires, o grupo comanda até hoje, e o próximo prefeito será seu primo, Jorge Macri.

Nas eleições do Boca Juniors, que ocorrerão em 2 de dezembro, Macri apoiará Andrés Ibarra, e há rumores que ele sairá como vice-presidente deste. Seu principal opositor é o lendário Riquelme, que é amigo pessoal de Alberto Fernández e sairá por outra chapa, seja como vice ou presidente.

No Brasil, teve algo parecido?

Em tempos mais recentes, não. Quem chegou mais perto de ter grande relevância foi Alexandre Kalil, ex-presidente do Atlético Mineiro que foi eleito e reeleito prefeito de Belo Horizonte (2016 e 2020) e renunciou ao mandato para se candidatar ao Governo de Minas Gerais, mas perdeu.

Andrés Sanchez, ex-Corinthians, foi deputado federal por São Paulo por 1 mandato (2015-19), enquanto Eduardo Bandeira de Mello, ex-Flamengo, é deputado federal pelo Rio de Janeiro. Para não ficarmos apenas em presidentes, há o caso de Marcos Braz, que mesmo sendo dirigente do Mengão, é vereador da cidade do Rio de Janeiro.

Conclusão

Mauricio Macri, em meio à polêmicas e escândalos, teve uma trajetória política meteórica que se iniciou no mundo do futebol, mostrando o tamanho e a relevância do Boca Juniors na Argentina e rendendo-lhe o título de Silvio Berlusconi Argentino, em referência ao ex-dirigente do Milan. No Brasil, será que algum clube terá tamanha relevância?

Do Boca para a presidência: Uma história Argentina
Por Davi Saito PFQL
Um dos criadores da PFQL. São paulino, fissurado em números, política e boas histórias.
Faça um comentário

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *