No futebol, quando nos referimos a um porco, apenas um time nos vem à mente. Entretanto, algo que nem todos sabem é que, na verdade, o animal foi “adotado” pela torcida do Palmeiras e não faz nem uma década que virou de fato mascote do clube.
Em seu terceiro ano de vida, a torcida da Società Sportiva Palestra Italia adotou o Periquito como mascote do clube. O animal foi escolhido porque possui o verde como coloração mais comum e também porque é um animal típico da Mata Atlântica, que reforçava o lema “que sabe ser brasileiro”, presente no hino do clube.
Em contrapartida, o porco que conhecemos não se adequa a esses tópicos. Além de não ter cores que remetam ao clube, o animal que conhecemos nos dias de hoje surgiu a partir de uma espécie de javali originária da Eurásia, e os fósseis mais antigos encontrados dos populares porcos foram descobertos em 9000 a.C. na Grécia e na Turquia.
O famoso porco conhecido como Gobbato se tornou mascote oficial do clube no ano de 2016, mas o clube já era conhecido assim muitos anos antes.
Durante a Segunda Guerra Mundial, no Brasil, que estava ao lado dos Aliados, os imigrantes italianos acabaram sendo muito mal vistos, já que a Itália liderada por Mussolini apoiava Alemanha Nazista. Criou-se então um estereotipo de que eles seriam um povo mal-educado, e por isso eram comumente associados a porcos. Por causa de suas raízes, o apelido acabou sobrando pra torcedores do Palestra.
Mas o apelido só se popularizou mesmo no ano de 1969, quando o ponta-esquerda Eduardo, de 25 anos, e o lateral-direito Lidu, de 22, que eram titulares do Corinthians, se envolveram em um acidente de carro e acabaram falecendo no dia 28/04 daquele ano. Na época, o Paulistão já estava em andamento e o prazo para inscrição de atletas já havia se encerrado. O time que estava se encaminhando para o seu 15º ano sem conquistar um título fazia uma ótima campanha até ali, inclusive vencendo todos os clássicos do primeiro turno: contra Portuguesa, São Paulo, Santos e Palmeiras, e terminou a primeira fase liderando o grupo B do campeonato.
A perda dos jogadores foi um baque enorme para o Timão, que, para não acabar sendo ainda mais prejudicado pela fatalidade, solicitou à Federação Paulista uma permissão para inscrever dois novos jogadores. Como envolvia uma quebra no regulamento, o pedido só seria acatado caso todos os clubes concordassem. Porém, o Palmeiras, representado pelo presidente Delffino Facchina, foi o único clube contra o pedido do rival, impossibilitando as inscrições. Essa decisão enfureceu Wadih Helu, presidente do Corinthians à época, que teria chamado os dirigentes palestrinos de “porcos”, dizendo que eles tinham um espírito sujo.
O apelido rapidamente se espalhou pela torcida corintiana, que começou a usar o termo para provocar os rivais. No Derby seguinte, antes do início da partida, torcedores alvinegros chegaram a soltar um porco no gramado do Morumbi e entoavam um coro de “Porco! Porco! Porco!”. Os palmeirenses ficavam visivelmente incomodados com a ofensa, e não demorou muito para que outras torcidas aderissem e, em pouco tempo, fosse possível ouvir tais gritos em praticamente todas as arquibancadas de torcedores adversários.
A história só foi se inverter no ano de 1983, quando o então gerente de marketing do Palmeiras, João Roberto Gobbato, teve a ideia de abraçar o animal como mascote do clube para tentar apagar o significado ruim do apelido.
Alguns dirigentes rejeitaram prontamente a ideia, porém a torcida organizada do clube gostou e começou a comercializar porquinhos feitos de porcelana. No ano de 1986, durante um confronto contra o Santos, gritos de “Dá-lhe Porco, e dá-lhe Porco, olê, olê, olê” foram ouvidos sendo entoados pela torcida alviverde.
No jogo seguinte, contra o São Paulo, torcedores palmeirenses levaram um porco vivo ao gramado, desfilaram em campo com fantasias e bandeiras do novo xodó e, desta vez de forma praticamente unânime, exaltaram o suíno nas arquibancadas.
Em novembro do mesmo ano, a revista Placar estampou em sua capa uma foto do meia Jorginho Putinatti, um dos símbolos do Palmeiras na década de 80, com um porco em seu seu colo.
“Era uma ofensa. Mas havia um movimento para mudar isso, e as torcidas do clube concordavam. Na época, a Placar procurou a diretoria sob a alegação de eu ser uma referência. Confesso que, passados 30 anos, jamais poderia imaginar que seria lembrado por isso. O que mais me recordo da sessão de fotos era o porquinho. O bichinho gritava muito (risos)”, contou o meia.
30 anos após o fatídico jogo contra o Santos, durante a gestão de Maurício Galiotte o clube decidiu oficializar o animal como mascote do clube de uma vez por todas.
E assim nasceu o Porco Gobbato, nome que faz alusão ao antigo diretor de marketing do clube.
📝 Texto escrito por @emrehliugavlis_